Saúde na Casa de Leis
Telma Gobbi está desde 2013 na Câmara Municipal e se posicionou, neste tempo, como vereadora representante da saúde no município
Publicado em 09 de novembro de 2020
Por Egberto Santana
Telma Regina da Cunha Gobbi é a única vereadora com especialização em saúde na Câmara. Aos 36 se formou em Medicina pela Faculdade de Medicina de Vassouras e hoje trabalha com auditoria médica analítica. A parlamentar está na casa desde 2012 e, na última eleição (2016) recebeu 3.846 votos pelo partido Solidariedade. Agora, disputa novamente o cargo, mas, dessa vez, filiada ao Partido Progressista (PP).
Foi no cargo de presidente da Comissão de Meio Ambiente, Higiene, Saúde, Previdência e Direito que Telma Gobbi traçou a principal característica de seu mandato: a tentativa de melhorar a qualidade da saúde no município.
Falta de leitos e de medicamentos
Um dos temas caros à vereadora é a falta de leitos na cidade. Nesse contexto, a reforma do Hospital Manoel de Abreu é uma das principais plataformas para aumentar a quantidade leitos em Bauru. “A placa de reforma acalma os ânimos”, protesta a vereadora, a respeito do hospital em reforma desde o início de 2020, sob responsabilidade do Estado.
A entrega está prevista para dezembro de 2021: “Não tem porque manter o hospital. Eles [o governo] estavam fechando porque não tem dinheiro para manter e não tem dinheiro para reformar”, destaca a vereadora. Em março de 2016, o então secretário de saúde do Estado de São Paulo, David Uip, visitou Bauru para anunciar a desativação do Manoel de Abreu e das reformas no local.
O dinheiro para a reforma do Manoel de Abreu – R$20 milhões – foi liberado no final de 2019. O projeto prometia uma oferta de 76 leitos clínicos, sendo 15 para dependentes químicos. Atualmente, Bauru tem 176 leitos disponíveis para covid, com uma taxa de ocupação de 53%.
Gobbi relembra a situação do hospital de campanha, o “prédião da USP”. O contrato com o Estado iria expirar no dia 2 de outubro, mas foi estendido até o fim do ano. Para ela, essa questão é “tapar o sol com peneira” e reservar o local apenas para covid-19. Em plenário virtual, chegou a criticar a dificuldade na entrega dos leitos, para o qual eram inicialmente prometidos 200. A vereadora ainda menciona uma “falta de vontade” do Estado em manter o hospital.
Bauru também carece de falta de medicamentos nos postos de saúde, outro alvo de críticas de Gobbi. “Essa situação se encontra como estava 8 anos atrás, 7 anos atrás, 6 anos atrás, 5 anos atrás e como tá hoje”, reclama.
Em reunião da Comissão, a Secretaria Municipal de Saúde admitiu que, 36 dos 62 serviços ou unidades de saúde que, desde 2019, deveriam fazer a distribuição, não dispõem do levantamento sobre o número de pessoas que fazem uso constante de algum tipo de medicamento.
“Você não consegue programar sua compra se você não sabe quantas pessoas precisam daquilo. E esse número vai aumentando, então você coloca o número de pessoas, mais o percentual do crescimento da necessidade daquela medicação. Mas eles [a Secretaria de Saúde] não têm esses estudos”, pontua a vereadora.
Da Tulipa para a dengue
Durante o mandato, a vereadora teve apenas um Projeto de Lei (PL) aprovado. O PL 123/2020 foi elaborado com o vereador Fábio Manfrinato (PP) e institui o mês de abril como Mês da Conscientização da Doença de Parkinson, denominado “Tulipa Vermelha”.
Em 2017 Telma Gobbi, ao lado de Chiara Ranieri (DEM) fizeram a Casa Legislativa de Bauru ser a primeira, no interior paulista, a discutir a proposta de Emenda Constitucional 181/15, de acordo com o Centro Feminista de Estudos e Assessoria (CFEMEA). A iniciativa não partiu da vereadora. O Movimento Resiste Mulher pressionou e conseguiu empurrar a pauta na casa legislativa.
O texto tratava da ampliação de 120 para 240 dias da licença maternidade nos casos de bebês nascidos prematuros, mas logo foi incluído um trecho aprovado pela Câmara dos Deputados que dizia respeito à proteção da vida do feto desde a fecundação. Vereadores, representantes de igrejas, psicólogos e militantes de grupos feministas participaram do evento. A PEC ainda aguarda a criação de comissão para discutir o caso.
Em outra audiência realizada em 2018, a vereadora chamou atenção para o caso da dengue, e buscou tratar com a sociedade as formas de combate e prevenção ao mosquito Aedes Egypiti. O evento foi promovido por ela em parceria com Sandro Bussola (PSD).
Abrir ou regrar
A Comissão de Meio Ambiente, Higiene, Saúde, Previdência e Direito debateu o assunto da covid-19 em algumas reuniões. Uma delas formulou pedido, liderado por Gobbi, requisitando mais leitos de UTI na região.
Quanto à aprovação do projeto de lei que estabelece regras de reabertura do comércio em meio à pandemia da covid-19, Telma Gobbi foi favorável. “Eu posso ir no supermercado, tá cheio de gente. Eu vou na feira livre, tá cheio de gente. Será que o comércio não pode abrir com regras? (…) Ninguém votou para abrir o comércio. O que foi votado foi um plano de regras que o comércio tem que cumprir, se houver a reabertura”, comenta a vereadora.
Na data da aprovação, 6 de julho, os números da pandemia no município eram de 256 casos positivos e 14 óbitos. Hoje são 253 óbitos e 16.193 casos confirmados.
Em 14 de outubro de 2020, Gobbi convocou audiência pública para acompanhar a prestação de contas dos recursos empregados no combate à covid-19 pela prefeitura.
No dia, gestores da Administração responderam questões sobre despesas relacionadas com a pandemia e debateram a proposta do Executivo que pede a autorização do uso de dinheiro de outras jurisdições no enfrentamento da doença.
Segundo o Portal de Transparência da Câmara, Telma Gobbi recebeu, desde 2017 até setembro de 2020, R$ 272 mil pela sua atuação como vereadora fiscalizadora da saúde do município.
Pílulas do Poder é o Trabalho de Conclusão de Curso de Jornalismo de Egberto Santana e Natália Santos na Faculdade de Arquitetura, Artes e Comunicação da Unesp, com orientação da Profª. Drª. Suely Maciel e tem o apoio e a revisão da equipe do Jornal Dois.