“Ou a gente come, ou a gente estuda ou faz casa para morar”, diz ex-moradora da Morada Doce Sonho
Cinco meses depois da reintegração de posse do Residencial Manacás, no Nova Esperança, obras ainda não foram retomadas
Reportagem publicada em 14 de maio de 2018
Por Ana Carolina Moraes
5 de dezembro de 2017. Em meio a crianças, adultos e idosos, Defesa Civil, funcionários da Secretaria Municipal de Bem Estar Social (Sebes), Polícia Militar, ocorreu a reintegração de posse do Residencial Manacás, onde estava a ocupação Doce Sonho. À época, os moradores da ocupação, como Vera Lúcia, preocupavam-se para onde iriam, já que não tinham onde morar. “É fim de ano, pra onde que essas mães vão com as crianças?”, questionava.
A ocupação Morada Doce Sonho durou cerca de seis meses.
O residencial é uma obra do projeto Minha Casa, Minha Vida (MCMV) que era para ter sido entregue no começo de 2017. A construção, que estava com 93% das obras concluídas — como constava no site da então construtora, Casa Alta, está de volta ao abandono. A estrutura de 18 blocos de prédios e 288 apartamentos seria para abrigar as famílias que vivem em situação de vulnerabilidade social do Parque Jaraguá.
Desde a reintegração, os prédios passaram a ser vigiados 24 horas por seguranças. É o que conta Sidnei Rodrigues, coordenador da Defesa Civil de Bauru. “O pessoal saiu, mas furtaram esquadrilha, fios, sem falar do vandalismo. Agora o custo é de 12 milhões de reais para terminar a obra”, explica. Pergunto sobre a retomada, ele me responde que ainda não há previsão. Em nota, a Caixa Econômica Federal informou que ainda está fazendo o processo para contratar uma construtora.
A Morada Doce Sonho contava com 49 famílias — mais ou menos 196 pessoas. Sidnei comenta que a maioria das famílias retornaram para o aluguel ou foram para casas de parentes depois da reintegração. Segundo a Prefeitura de Bauru, 17 famílias (48 pessoas) não tinham para onde ir; cinco famílias foram encaminhadas para a Casa de Passagem e 25 pessoas foram acolhidas em um ginásio de esportes, por 2 dias, até que pudessem ir para a casa de familiares. Hoje nenhuma dessas famílias é assistida pela Secretaria do Bem-Estar Social (SEBES).
Estruturas
Depois da reintegração do Doce Sonho, Roseli Picolli Cavalcante Lima, 32 anos, foi morar com a irmã, no Santa Fé. “Mas não dava para mim ficar lá, então eu fui para a Quinta da Bela Olinda”, conta. Logo que mudou para o acampamento Estrela de Davi, outra reintegração tirou a “casa” dela. Hoje ela está com a filha de 9 anos em uma área cedida pela prefeitura à quem sofreu a reintegração, no bairro Fortunato Rocha Lima.
O coordenador da Defesa Civil me explica que depois desta ação no Distrito Industrial IV, parte das famílias, que não tinham para onde ir, foram alocadas no acampamento Nova Canaã, e cerca de 20 foram para esse terreno. Sidnei conta que há uma espécie de acordo entre a Defesa Civil e a Prefeitura: “as famílias vão poder ficar lá até o final da gestão Gazzetta”. Quando questiono sobre o prazo e possíveis ameaças de reintegração de posse, ele confirma que até 2020 as pessoas podem ficar por lá sem o risco desocupação, mas alerta que “a área lá não é regularizada, é uma área de transição”.
“Faz um mês que a gente tá aqui. A luz ligou na semana passada. Água ainda não tem. Para ter água tem que ligar a mangueira dos vizinhos de cima, e só vem um pouquinho”, comenta Roseli, que está grávida de oito meses. “No final de maio vem o bebê e no quarto que eu tô hoje não tem nem espaço para o berço”.
A construção da nova casa da Roseli é contínua. A estrutura é de caibro e madeirite, que ela vai comprando aos poucos com o dinheiro que entra. “Não dá para trabalhar fora, se não perde tudo”, desabafa, “a gente não pode sair, tem que ficar tomando conta”.
Sobre a falta d’água, Sidnei responde que há pouca água para atender todas as famílias e que faltam alguns materiais para que a ligação seja concluída. Ele me fala também que tem um projeto de capacitação profissional que será realizado em parceria com o Gabinete da Prefeitura e com a Sebes. O objetivo do projeto é oferecer cursos profissionalizantes de graça para os moradores desta área para gerar trabalho e renda.
23 telhas
Roseli é enfática quando diz que “ou a gente come, ou estuda ou faz casa para morar”. Por conta das reintegrações de posse seguidas que viveu, hoje a preocupação da gestante é a construção da nova casa. Falta pouco para o bebê nascer e, para recebê-lo bem, ela tem tido todo atendimento durante a gestão no posto de Saúde. “Vai nascer na Maternidade”, comenta quando pergunto sobre o parto.
Nessa reta final, o que a deixa inquieta é a falta de espaço para colocar um berço para o recém-nascido, e por isso ela está fazendo um quarto pequeno para cuidar do bebê. No final da entrevista, ela me pede ajuda para finalizar a obra: “faltam 23 telhas ‘casquinha de ovo’ para terminar”.
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