Dia da Consciência Negra celebra cultura e resistência em Bauru
Coletivos e associações realizam eventos gratuitos em Bauru em 20 de novembro, dia da Consciência Negra; confira a programação
Publicado em 19 de novembro de 2021
Por Joyce Rodrigues
Música, ritos e apresentações culturais marcam o Dia da Consciência Negra em Bauru, celebrado no Brasil em 20 de novembro. De acordo com registros históricos, Zumbi dos Palmares, o último líder do Quilombo dos Palmares no período colonial, foi morto nesta mesma data, no ano de 1695. Em 2011, o Dia da Consciência Negra foi instituído no país por meio da lei nº 12.519. Apesar de ser feriado em cerca de mil cidades do país e nos estados de Alagoas, Amazonas, Amapá, Mato Grosso e Rio de Janeiro, é responsabilidade da gestão municipal decidir se a data é considerada feriado em seu município. Em Bauru, o dia 20 de novembro é apenas ponto facultativo – cada empresa e instituição tem a liberdade de decretar feriado para seus funcionários.
Com a data dedicada à reflexão sobre questões como racismo, igualdade social, cultura afro-brasileira e o papel da população negra na sociedade, organizações e coletivos bauruenses realizam atividades gratuitas em diversos pontos da cidade. Confira a programação:
19 de novembro (sexta-feira)
A unidade do Centro de Referência de Assistência Social (CRAS) do Nova Esperança realiza o evento “SUAS (Sistema Único de Assistência Social) Contra o Racismo” na sexta feira (19) a partir das 16h. De acordo com Ana Marta, coordenadora do CRAS Nova Esperança, o encontro é uma construção coletiva entre a administração do CRAS, lideranças comunitárias e membros da comunidade. “A participação dos moradores acontece desde o planejamento das ações, nas discussões quanto à realidade territorial, no levantamento de propostas e na execução das atividades”, relata. O encontro acontece na quadra 3 da rua Sargento Joaquim Nunes Cabral, no prédio do antigo posto de saúde do Nova Esperança. Além de rodas de conversa sobre saúde mental e racismo, o evento também conta com microfone aberto para manifestações culturais dos participantes. Caso chova, o evento será transferido para o dia 22 de novembro, segunda-feira, no mesmo horário e local. Para mais informações, entre em contato através dos telefones (14) 99106-7778 e (14) 99106-6386.
20 de novembro (sábado)
Coletivos, partidos, organizações autônomas e membros da sociedade civil se reúnem a partir das 9h na Praça Rui Barbosa, região central de Bauru, para o ato “Fora Bolsonaro”. Além da caminhada pelo centro da cidade, a ação também terá a presença de rodas de capoeira, apresentações culturais indígenas e feira solidária. As manifestações, que têm ocorrido mensalmente em convergência com o calendário nacional de manifestações da campanha Fora Bolsonaro, será a última realizada em 2021. Isabela Bobra, integrante da Frente Estudantil Revolucionária de Bauru (FER), alega ser “extremamente necessário” trazer a discussão sobre racismo e “necropolítica” para a sociedade: “A gente tem consciência de que o Brasil é um país racista, e a população negra é sempre a mais explorada e privada de direitos”.
A partir das 15h, membros da sociedade civil e povos de terreiros realizam a 1º Festa da Lavação da estátua de Zumbi dos Palmares, localizada na Praça África (avenida Nações Unidas, quadra 6, em frente ao Assaí Atacadista). O busto do líder quilombola foi instaurado pelo ex-prefeito Clodoaldo Gazzeta em 2019, por meio da Secretaria de Cultura de Bauru. A implementação da estátua foi uma das conquistas do Conselho Municipal da Comunidade Negra de Bauru na gestão de 2019. Greice Luiz, ex-membro do conselho e uma das organizadoras da ação, acredita que a homenagem é uma oportunidade de valorizar “identidade, história e ancestralidade” da população negra. “Decidimos fazer este ato para valorizar o protagonismo negro em uma cidade apática, racista, fascista e homofóbica”, declara.
A lavagem do busto é uma tradição realizada anualmente desde 2008 no Centro Histórico de Salvador, na Bahia, que também abriga uma estátua em homenagem a Zumbi dos Palmares. Realizado pela primeira vez em Bauru neste ano, a ação terá um mutirão para a limpeza do local, um ato em defesa da igualdade racial e contra o racismo, cantos e ritos das tradições afro-brasileiras e, por fim, a lavação da estátua. O evento é aberto a toda população e os organizadores pedem para que os participantes levem flores para decorar o local. Mais informações através dos telefones (14) 98841-7212 e (14) 99799-3421.
Já o Parque Vitória Régia recebe a partir das 16h a Intervenção Afro Cultural, organizada pelo Grêmio Recreativo Estação Primeiro de Agosto. A atividade em sua primeira edição conta com apresentações musicais da Bateria Estação do Ritmo, Pratas da Casa Samba Show e convidados, DJ Guiné e Passistas Estashow. Tobias Terceiro, presidente da agremiação, relata que o evento foi inspirado em ações independentes que têm ocorrido na cidade, como o Camjazz, evento que reúne músicos da cidade e acontece de 15 em 15 dias no Vitória Régia de maneira independente. Para Tobias, o evento é um ato de “resistência, perseverança e demarcação de posição”.
21 de novembro (domingo)
O Conselho Municipal da Comunidade Negra de Bauru, em parceria com a Secretaria Municipal de Cultura e com as organizações Yalodê Cultural e a Associação dos Funcionários Públicos da Educação (AFUSE) realizam no domingo, a partir das 14h, a Atividade Multicultura, que conta com exposição de obras, rodas de conversa e apresentação musical. O encontro será no Teatro Municipal de Bauru, na avenida Nações Unidas, 8-9. A abertura do evento será com a palestra “Diáspora, religiões brasileiras de matriz africana e seus orixás”, mediada pela mestra Sebastiana de Fátima Gomes e o babalorixá e artista plástico José de Bara Figueiredo. Às 15h, o pocket show “Meu Sagrado Panteão” reúne Jô Moura (voz), Diogo Alves (tambores), Adriano Martins (contrabaixo acústico), Paulo Maia (piano) e Matheus Maia (sax) para apresentar cantigas das religiões de matriz africana. Para encerrar a atividade, às 15h45, professores da Secretaria de Estado de Educação (SEE) realizam contação de histórias com musicalização e brincadeiras. De acordo com a organização, a atividade tem como objetivo “promover a autoestima dos jovens negros através do conhecimento dos seus ancestrais e combater o eurocentrismo presente em nossa educação”.
Durante toda a atividade, a exposição “Orixás”, do babalorixá e artista plástico José de Bara Figueiredo, estará aberta para o público. O acervo reúne obras criadas com madeiras de reaproveitamento que representam as divindades do panteão africano.
Cultura e resistência
Em função da flexibilização da realização dos eventos presenciais, as comemorações do dia 20 de novembro sinalizam uma retomada das atividades culturais em Bauru. Uma pesquisa realizada pelo Instituto Locomotiva revelou que 84% da população brasileira considera o Brasil um país racista. Apesar dessa percepção, apenas 59% dos brasileiros são favoráveis às cotas raciais em universidades públicas, de acordo com pesquisa realizada em 2020 pelo PoderData. Para Greice Luiz, cada atividade que acontece na cidade no dia da Consciência Negra “é um quilombo que resiste”. “Estas atividades criam a oportunidade de resgatarmos a nossa identidade e ancestralidade, porque isso sempre nos foi e ainda é negado”, declara.