#LeiDaDoulaBauru pretende regulamentar a presença de doulas em hospitais

Grupo reivindica autorização para o trabalho das assistentes de parto em estabelecimentos de saúde; proposta é pauta na Câmara Municipal dia 21

Reportagem publicada em 6 de junho de 2018

 

Presença de doulas na gestação é incentivada pela Organização Mundial da Saúde (OMS) e pelo Ministério da Saúde, mas profissão ainda não é regulamentada no Brasil (Fotos: despertardoparto.com.br e samoningosmamos.lt/Reprodução)

Por Bibiana Garrido

“Adoula trabalha com educação perinatal, ou seja, ela ajuda a gestante ou o casal a se preparar física e emocionalmente para o parto”, explica Mônica Borges, que trabalha como doula em Bauru.

Mônica faz parte de um grupo de pessoas que foi até à Câmara Municipal em defesa do Projeto de Lei da Doula. Em uma reunião com o vereador Fábio Manfrinato (PP), mães, gestantes e profissionais da saúde reivindicaram autorização para presença de doulas nos hospitais e maternidades da cidade.

Isso porque as doulas tem sido vetadas nos estabelecimentos de saúde do município. A rotina de consultas durante a gestação pode ser restrita quanto ao número de acompanhantes permitidos e, por isso, o reconhecimento legal da profissão a partir da autorização obrigatória viria para facilitar o trabalho das doulas junto com as mães e os pais.

“Já faz alguns anos que um grupo de doulas de Bauru busca apoio com vereadores para regularizar essa ocupação e ganhar força dentro dos hospitais”, conta Mônica. “Ainda há uma dificuldade em relação ao apoio de outros profissionais, como médicos, enfermeiras, e a entrada em alguns hospitais ainda é difícil”.

Da reunião na Câmara foi tirada uma audiência pública para o dia 21 de junho, às 18h30, na qual a proposta vai ser discutida pela população e gestores dos serviços de saúde.

Grupo apresenta reivindicações ao vereador Fábrio Manfrinato (PP); reunião aconteceu no começo de maio(Foto: Pedro Romualdo/Câmara Municipal)

É reconhecido por pesquisas que a presença de doulas como acompanhantes de uma gestação pode diminuir em 50% as taxas de cesárea, reduzir em 25% a duração do trabalho de parto e diminuir em 40% o uso do fórceps. Além de promover aumento no sucesso da amamentação, melhor experiência de parto, diminuição da ansiedade e da baixa autoestima e redução da incidência de depressão pós-parto.

“Eu lia bastante relatos das minhas amigas sobre o quanto o trabalho da doula ajuda”, lembra Natália Bermejo, mãe de dois filhos. Ela conta que a gestação do seu primeiro filho, de parto normal e sem acompanhamento de doula, foi muito diferente em relação à experiência com a segunda filha, já com auxílio da profissional.

“No meu primeiro parto eu ficava deitada na cama morrendo de dor durante as contrações, e tinha medo de o segundo ser assim, mas não foi”, diz Natália, que acredita no trabalho da doula como uma chave para passar pelos momentos difíceis do parto sem deixar de estar calma e concentrada.

Contratar uma doula envolve acompanhamento antes, durante e depois do parto (Fotos: serpadresembarazo.taconeras.net e maesdepeito.com.br/Reprodução)

Raisa Pires é mãe de uma menina e fala que se arrependeu de não ter buscado profissionais do parto humanizado. Ela deu à luz no hospital, depois do rompimento da bolsa. “Na época eu tinha muita vontade do parto normal, mas também tinha um pouco de medo, confesso. Pra mim a cesárea foi ruim, principalmente porque senti muita dor no pós-parto e isso me deixou um pouco traumatizada”.

“O que eu senti é que meu médico não queria o parto normal, ele foi meio que empurrando com a barriga. Eu acho que pros médicos é muito confortável a cesárea, porque eles agendam um horário e não atrapalha a agenda deles, nem nada. Meu médico mesmo, era toda terça-feira, ele não fazia consulta porque ele ficava o dia inteiro só fazendo cesárea”, diz Raisa.
Conversamos com Izabelli Garcia, mãe do Vicente, que teve seu parto com auxílio de doulas e de uma parteira tradicional; ela conta um pouco de como foi a gestação e dá sua opinião sobre a importância do trabalho conjunto de mulheres nesse momento da vida

Para gestantes, a diferença está na atenção que é recebida a partir de um trato mais próximo, no apoio e nas instruções que a doula pode oferecer para trazer tranquilidade e segurança. “Hoje, depois de ter passado pela cesárea, optaria por procurar uma doula e uma médica humanizada”, avalia Raisa. “Minha amiga que fez o parto humanizado conseguiu amamentar no mesmo instante que a bebê dela nasceu. Eu demorei mais de quatro horas pra ver a Helena. As vantagens são enormes”.

A aprovação da proposta contribuiria, na visão de Raisa, para que as pessoas pudessem ter mais informações sobre o parto humanizado e a importância do trabalho das doulas. “Realmente, pro bebê é muito melhor ter o parto natural e pra não ter essa separação com a mãe”.

(Fonte: aleitamento.com/Reprodução)

A regulamentação das doulas também é discutida em âmbito nacional, estima-se que são cerca de 1.500 profissionais no país. Está em andamento um Projeto de Lei 8363/17, da deputada Erika Kokay (PT-DF), que define doula como uma profissional habilitada para dar apoio físico, emocional e fornecer informações à gestante, antes, durante e após o parto.

Benedita da Silva (PT-RJ), deputada relatora do PL, salienta que a função das doulas não se confunde com as demais necessárias na gestação: “de forma nenhuma atropela o trabalho do médico e da enfermagem”.

Em entrevista ao portal de notícias da Câmara dos Deputados, a deputada Benedita da Silva reconhece o papel fundamental das doulas para um parto mais humanizado e defende a profissionalização e ampliação desse serviço para “que cada vez mais as mulheres que tomam a decisão de ter filhos possam se apoderar dessa qualidade de pessoas que são as doulas”.

(Foto: willowbirth.wordpress.com/Reprodução)

Serviço:

A audiência pública do Projeto de Lei da Doula acontecerá no dia 21/06, às 18h30, no plenário da Câmara Municipal. Praça Dom Pedro II, n° 01–50.