A Cruz, a Espada e o Dinheiro

Coluna publicada em 15 de dezembro de 2017

Vereadores da Câmara Municipal de Bauru na atual legislatura (Foto: Pedro Romualdo/Câmara Municipal de Bauru)
Por Arthur Castro, colunista do Jornal Dois

Quando o ano de 2017 começou, já era de se esperar que não seria fácil. A Câmara dos Vereadores de Bauru prometia estar bastante à direita, ou seja, linha dura em defesa dos ricos, tendo dentre os eleitos uma grande quantidade de religiosos conservadores, além de um coronel da PM.

Mas conseguiu superar as expectativas.

Sob o argumento da fé, lideranças católicas e evangélicas partiram para uma continuação do ataque que já vinha sendo feito. Em 2015, ambas as forçasimpediram que se incluísse nas escolas municipais debates a respeito de sexualidade e gênero. Ano passado, a Igreja Católica promoveu na Universidade do Sagrado Coração (USC) um seminário para divulgar uma teoria da conspiração contra LGBT, chamada de “ideologia de gênero”. Agora, em 2017, dois casos se destacaram. A Diocese de Bauru trouxe um palestrante chamado Felipe Nery para repetir essas conversas conspiratórias, e como efeito dois vereadores, Ricardo Cabelo (PPS) e Serginho Brum (PSD), ensaiaram apoio ao conservadorismo católico. Mais recentemente, a mesma Diocese em aliança com o Conselho dos Pastores defenderam, durante a Audiência Pública sobre a PEC 181, que mulheres deveriam ser obrigadas a darem a luz à filhos de seus estupradores. Um horror.

Em paralelo com a Cruz, a Espada vinha afiada. Sob a liderança de Coronel Meira, e com a benção de aliados da chamada Bancada da Bala (destaque ao Capitão Augusto, Deputado Federal), os poderes de repressão policial cresceram assustadoramente. A articulação tem como centro o Conselho de Segurança (Conseg), onde representantes dos empresários, da polícia e de políticos se reúnem regularmente. O caso mais notório dessa mobilização militar foi a aprovação da Lei “antifestas”, mas está só no começo: segundo ata de Outubro deste ano, logo irão apresentar a Lei do Silêncio. Segundo ela, se a polícia considerar que há barulho, som alto, pode multar, não necessitando de comprovação.

Mas é claro, não podemos terminar de compreender o que se passa na cidade sem abordar o aspecto econômico. Quem manda aqui são as imobiliárias.

Além de toda a discussão a respeito da especulação imobiliária, bastante promovida pelos movimentos por moradia urbana, destaca-se também a questão ambiental. Os empresários desejam a abolição das APAs — Áreas de Preservação Ambiental -, e todos os vereadores se mostraram dispostos a atender esse pedido. E o prefeito Gazzetta, ex-ambientalista, também.

Se houver prosseguimento, além da devastação da fauna e da flora locais, até mesmo o Rio Batalha — que abastece parte da cidade — poderá estar em risco, e a recente reportagem da TV Tem denunciando desmatamento ilegal no Vale do Igapó é a prova das intenções das empresas. O principal porta-voz dessas elites é o “Jornal da Cidade”, da família Franciscato. Lembremos que Alcides Franciscato foi prefeito pelo ARENA, partido da ditadura militar, e próximo do General Figueiredo. Aquele conhecido pelo “prefiro o cheiro dos cavalos ao cheiro do povo”.

Bauru não está segura. Os interesses econômicos colocam todas as condições de vida, sociais e ecológicas, em risco, enquanto a repressão atinge a juventude, em especial pobre e negra. Não contentes, a aliança dos ricos e dos poderosos com as igrejas sacrifica os direitos das mulheres e da população LGBT.

Nós não podemos permitir que uma minoria privilegiada, elevada pela força do dinheiro e do porrete façam o que quiser, sem consequências.

A cidade sem limites precisará se mexer e impor limites a estes absurdos, antes que a tirania e a miséria sejam impostas sobre nós.

 

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