11 conteúdos do J2 sobre a comunidade LGBT de Bauru

Dia do orgulho LGBTQIA+, comemorado em 28 de junho, remete a um processo de lutas e resistência de grupos marginalizados no século passado, que ainda hoje seguem brigando por direitos e contra a discriminação 

Publicado em 28 de junho de 2021

Por Camila Araujo

O orgulho LGBT, ou LGBTQIA+, acrônimo que abraça lésbicas, gays, bissexuais, transgêneros, queers, interssexuais, assexuais, outras identidades de gênero e orientações sexuais em um movimento social, é comemorado em 28 de junho. A data escolhida rememora o ato de resistência da comunidade LGBT em Nova Iorque, que se transformou em uma onda de protestos em em 1969.

Era madrugada quando a polícia fez uma batida no bar Stonewall Inn, estabelecimento conhecido por acolher pessoas marginalizadas, homossexuais e drag queens. Não era a primeira vez que a polícia tomava ações semelhantes em bares da região, e o encontro entre os grupos gerou revolta. O estopim da manifestação foi a tentativa de prisão, de forma violenta, de Stormé DeLarverie, artista, lésbica e conhecida ativista por direitos LGBT.

Uma cena do que ficou conhecido como Batalha de Stonewall narra sobre uma multidão que não apenas se defendeu, mas encurralou os policiais para dentro do bar e ateou fogo.

Com este estopim incendiário, a comunidade LGBT da cidade de Nova Iorque, liderada por mulheres trans negras, tomou às ruas em protesto. Foram seis dias seguidos de atos e passeatas pelos direitos LGBT nos arredores de Stonewall Inn. Entre as e os participantes das manifestações estavam Marsha P. Johnson, Sylvia Rivera e outras mulheres trans e drag queens que, além de exigirem do poder público o respeito por suas identidades, nos próximos anos se tornaram pilares do ativismo LGBT e da luta contra a epidemia da AIDS.

Até 1962, relações entre pessoas do mesmo sexo eram consideradas crime em todos os Estados norte-americanos. Naquele ano, pela primeira vez, o Estado de Illinois, alterou seu código penal e a homossexualidade deixou de ser crime. Apenas em 1972, o movimento se espalharia por outros Estados. Em Nova York, estopim do movimento de Orgulho LGBTQIA+ moderno, a legislação só seria alterada em 1980. E somente em 2003, a criminalização de pessoas LGBT seria abolida, legalmente, por todo o território dos EUA.

Até 17 de maio de 1990 a homossexualidade era tida como doença mental pela Organização Mundial de Saúde (OMS). A revisão foi ratificada em 1992.

No Brasil, a união estável entre casais do mesmo sexo foi legalizada em 2011, e o casamento, em 2013.

A conquista da luta de pessoas transexuais é mais morosa. A transexualidade só foi retirada da Classificação Estatística Internacional de Doenças e Problemas de Saúde da OMS como transtorno mental em 2018.

Neste ano, o Conselho Federal de Psicologia Brasileiro publicou a resolução 01/2018 que estabelece normas para que psicólogos e psicólogas não utilizem de técnicas psicológicas de forma discriminatórias ou transfóbicas. Os profissionais devem utilizar o conhecimento “para uma reflexão voltada à eliminação da transfobia e do preconceito em relação às pessoas transexuais e travestis”, diz o documento.

O país segue batendo recordes de assassinato de pessoas transexuais no mundo: até setembro de 2020, 124 pessoas transexuais foram mortas ao longo do ano, o que colocou o Brasil como número um em mortes de pessoas trans pela 12ª vez.

Falar de orgulho é também falar de sobrevivência. Nesta matéria, o Jornal Dois lembra 11 conteúdos produzidos desde 2018 sobre a comunidade LGBTQIA+ bauruense.

1 – Quando o difícil é ficar na escola

Levantamento obtido pela agência de dados independente Fiquem Sabendo, por meio da Lei de Acesso à Informação, indica que entre as cidades do interior de São Paulo com menos de 1 milhão de habitantes, Bauru é a segunda que teve maior número de estudantes fazendo uso de nome social em escolas estaduais no período de 2015 a 2019, com 39 pessoas. Mas qual é a realidade desses estudantes nas escolas? Na matéria de Paula Betteli, a equipe do Jornal Dois conversou com mulheres que viveram essa realidade.

Luana Leon ficou 26 anos afastada dos estudos, decidiu enfrentar seus receios e se dirigiu ao Centro de Ensino de Jovens e Adultos (CEJA) de Bauru, determinada a fazer sua matrícula e retomar a escola de onde parou. Ao chegar na instituição de ensino, no entanto, conta ter sido maltratada pela secretária, a primeira pessoa que lhe atendeu no local.

Luana Leon, a primeira pessoa trans a fazer parte do Conselho Municipal de Atenção à Diversidade Sexual (Foto: Paula Bettelli/JornalDois)

Natalie Tutty terminou o ensino médio em Bauru e contou se sentir privilegiada pelo respeito e naturalidade com que a escola agiu em sua transição, tanto os coordenadores e professores quanto os colegas. Disse, no entanto, ter uma amiga transexual que desistiu do colégio durante um ano. “Nessa questão eu era privilegiada, minha escola estava muito mais preparada, por mais que ambas estivéssemos em escolas públicas”, pontua.

Conheça outras histórias: https://jornaldois.com.br/nome-social-escolas-estaduais-bauru/ 

2 – Em Bauru, não tem como viver de drag

Na matéria de Lucas Zanetti, o Jornal Dois conversou com Danielly Angel, eleita Rainha da Diversidade no carnaval de 2018. “Em Bauru, é meio difícil viver de drag queen. Se fosse em cidades maiores, seria mais fácil o giro comercial. Em Bauru viver de drag não tem como”, explicou Danielly à época.

“Quando estou montado, sou outra pessoa. O Daniel não está mais ali, ele fica em casa. Ali é a Danielly que está”, conta (Foto: Bibiana Garrido/Jornal Dois)

Quem criou a drag foi o maquiador e técnico em veterinária Daniel, há oito anos, quando foi a uma festa do trocado — onde os gêneros são invertidos -, e nunca mais parou. “Nunca tinha me montado, mas falei ‘vamos’. Eu só tinha maquiagem porque eu trabalhava com isso. Eu não tinha peruca, não tinha salto, não tinha nada, mas eles me emprestaram. Eu fui pra casa de um amigo e a gente se montou pela primeira vez. A recepção foi legal, mas no comecinho a gente sempre fica feinha, depois fui melhorando”, disse.

Para o sustento é preciso manter o emprego no salão e na clínica em que trabalha. Às vezes, fazia performances em boates, festas de casamento e de 15 anos.

Leia mais no texto: https://jornaldois.com.br/em-bauru-nao-tem-como-viver-de-drag-conheca-danielly-angell-rainha-da-diversidade-do-carnaval/ 

3 – Mês da Visibilidade Lésbica

O Jornal Dois cobriu o mês da visibilidade lésbica em Bauru há dois anos, em 2019. O que era para ser um evento, com rodas de conversa e encontros, tornou- se um coletivo de mulheres lésbicas e bissexuais, ou, coletiva, como as organizadoras chamaram.

Naquele momento, Mayara Letícia, uma das fundadoras da iniciativa afirmou que sempre sentiu a necessidade de fazer algo pela causa, mas que naquele ano a vontade foi mais forte devido à eleição de Jair Bolsonaro para presidente do Brasil. “Falar de nós para nós, falar de nós para a periferia. Da gente buscar essas meninas e acolher”, explicou a participante.

Leia mais no texto: https://jornaldois.com.br/visibilidade-lesbica-2019/

4 – Pastora, negra e lésbica

Quando Marianna Bastos se descobriu lésbica foi expulsa da casa dos pais quatro vezes. Apanhou, foi acusada de pecadora pela igreja e pela família. Sempre voltava, arrependida, pedia pelo perdão de Deus e dos entes queridos. Até que percebeu que não estava errada.

Em frente ao prédio da antiga Estação Ferroviária, com manifestantes e bandeiras na sacada, ela pegou o microfone e todo mundo parou para ouvir (Foto: Lucas Mendes/Jornal Dois)

Aos 23 conheceu a igreja inclusiva e resolveu deixar o culto tradicional da família para seguir seu próprio caminho. Marianna quer uma nova igreja para Bauru.

Leia na matéria: https://jornaldois.com.br/pastora-negra-lesbica-marianna-quer-uma-nova-igreja-para-bauru/

5 – Arte, liberdade, autoconhecimento e terapia

“Eu tava passando por um período meio desgastante, e a inspiração veio no momento que eu me vi sem ter o que fazer. Foi aí que eu comecei a mexer com isso no sentido de ganha pão, nessa mudança de Bauru para São Carlos”, conta Hélio. “Mas também tem o lado B dessa inspiração, que veio com a minha transição, pelo fato de eu ser trans. Eu comecei a trabalhar com isso fazendo autorretratos, com intuito de registrar a terapia e as etapas”.

“AUTORRETRATO”/HdM

Nesta matéria, conheça a arte de Hélio da Matta: https://jornaldois.com.br/liberdade-autoconhecimento-e-terapia-os-desenhos-por-helio-da-matta/

6 – História LGBT em Bauru: “Como somos”

O longa “Como somos”, produzido em 2017, conta a história da população LGBT de Bauru, através de registros históricos sobre lugares e eventos que marcaram a vida noturna da cidade. Narrado por Nany People, figura importante da comunidade dentro do meio artístico nacional, o filme resgata momentos de luta e da cena cultural do final dos anos 80 até os dias atuais. O Jornal Dois esteve presente na estreia da produção nos cinemas.

7 – Fatos sobre a comunidade LGBT em Bauru 

Alguns fatos que não te contaram sobre a comunidade LGBT na cidade de Bauru estão nesta matéria do Jornal Dois.

8 – Vida dos jovens LGBTs do interior paulista nos anos 1980

Livro e documentário “Diversidade Cultural e de Gênero no Interior Paulista nos Anos 80”, busca resgatar as vivências dos jovens daquela época, relembrando o processo de aceitação, apoio ou rejeição da família, o surto da AIDS e a busca por diversão e acolhimento. Assista ao documentário aqui:

O Jornal Dois conversou com pessoas participantes desta história. Leia aqui: https://jornaldois.com.br/como-era-a-vida-dos-jovens-lgbts-do-interior-paulista-nos-anos-1980/

9 – Direitos Humanos na cidade sem limites

Desde 2010, Bauru conta com um Plano Municipal de Direitos Humanos, que reúne orientações para a “construção de uma cidade socialmente justa, humana e solidária para todos”. O plano foi atualizado em 2016, ganhando novos contornos para abordar reivindicações específicas dos direitos da juventude, da população negra, das mulheres, da comunidade LGBTI+, dentre outros.

#15M de 2019, manifestação em Bauru contra os cortes na Educação, anunciados pelo Governo Bolsonaro. A data foi de Greve Nacional da Educação (Foto: Patrícia Domingos/Jornal Dois)

Leia na reportagem de Ana Carolina Moraes: https://jornaldois.com.br/direitos-humanos-sem-limites/

10 – “Me deixa brincar!”

De autoria do Pomar Coletivo, o livro infantil “Me deixa brincar!” traz histórias e ilustrações envolvendo crianças, professores e responsáveis para falar sobre diversidade e o respeito às diferenças. Na matéria de Bibiana Garrido, entenda como ele quase foi quase foi vetado nas bibliotecas públicas de Bauru.

Livro infantil percorrerá bibliotecas públicas de Bauru com contação de histórias e brincadeiras; "apologia à homossexualidade" e "ideologia de gênero" estão entre os motivos apontados por pais que pediram o cancelamento da atividade (Foto: Lucas Mendes / Jornal Dois)

Leia aqui: https://jornaldois.com.br/me-deixa-brincar/

11 – Diferenças sociais na luta contra a AIDS

Avanços da medicina dão qualidade de vida inédita à pessoa com HIV, mas a solução esbarra na vulnerabilidade, preconceito e falta de informação. Em 2015, a Associação de Apoio à Pessoa com AIDS de Bauru (SAPAB) se viu numa situação difícil. A prefeitura cancelou o convênio que mantinha a instituição em funcionamento.

O convênio foi cancelado após a prefeitura recusar uma prestação de contas. Fatima Elizabeth, assistente social da SAPAB, contou que desde então as coisas se complicaram. “A gente não tinha salário. Aí tinha um evento e a diretoria dava um vale pra gente. Trabalhar sem receber pagamento é bem complicado”, lembra.

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