Por que chamamos Suéllen de oportunista?
Relações com o governo Bolsonaro, cooptação da pauta da abertura do Hospital das Clínicas e autopromoção em torno da campanha de vacinação: esses são alguns dos motivos que nos levam a chamar a prefeita de Bauru de oportunista
Publicado em 26 de julho de 2021
Por União da Juventude Comunista de Bauru
Apesar das tentativas de criar uma oposição entre seu governo e o governo Dória, entre a gestão do estado de São Paulo e do município de Bauru, Suéllen Rosim não parece se diferenciar tanto de nosso governador no que diz respeito à sua postura oportunista e sua política de aparências. Depois de contestar todas as tímidas tentativas do governo do estado para conter a pandemia, Suéllen se alinha a Dória ao ceder às instituições de ensino privadas e forçar o retorno às aulas em momento delicado da pandemia, quando ainda não havia garantia de vacina.
Com o início das campanhas de vacinação, Suéllen, assim como Dória, enxergou uma oportunidade para se promover. É certo que a imunização é um passo fundamental para combater a pandemia e que a vacina é um direito de toda população. No entanto, nos perguntamos quantas vidas poderiam ter sido poupadas se a prefeita tivesse enfrentado o vírus e protegido a população desde o início de sua gestão. Se a prefeita não tivesse alimentado o mesmo discurso negacionista e assassino do presidente.
É muito conveniente, após meses de trocas amistosas com o governo genocida de Bolsonaro (o mesmo que negou todas as propostas de compra de vacinas para o Brasil), que Suéllen queira se apresentar como a grande responsável pela vacinação e combate à Covid-19 em Bauru. Fato é que a vacinação já era pauta de manifestações e greves da classe trabalhadora bauruense – classe que, sem amparo, está exposta diariamente ao vírus.
Com um discurso desonesto de “busca pela harmonia entre saúde e economia”, a prefeita vem, desde os primeiros meses na prefeitura, negando a eficácia do lockdown, defendendo métodos ineficazes de combate ao coronavírus e boicotando as medidas de proteção do governo do estado. É com pleno apoio daqueles que sustentam seu governo que Suéllen obriga trabalhadores a lotarem os transportes públicos e se exporem à contaminação.
A Acib (Associação Comercial e Industrial de Bauru) e o Sincomércio já publicaram notas de apoio à prefeita com falas elogiosas a sua política negacionista e, juntos, Suéllen e empresários da região já participaram de carreatas contra o governador Dória e contra o lockdown. Algumas dessas manifestações contaram, inclusive, com a presença de Luciano Hang (Havan), Major Olímpio (senador) e Valéria Bolsonaro (deputada estadual de SP, sem partido).
Diferente dos atos pelo “Fora Bolsonaro”, esses eventos promoveram aglomerações, não respeitaram os protocolos de segurança e disseminaram informações equivocadas sobre a pandemia.
Não satisfeita, Suellen ainda tentou cooptar a pauta dos estudantes de medicina da USP, que há meses defendem a reabertura permanente do Hospital das Clínicas. Ela queria abrir o HC para baixar a taxa de ocupação das UTIs e fugir das restrições do plano São Paulo. Suéllen chegou a recorrer a decretos para tentar barrar o Plano e tornou essenciais serviços como academias, salões de beleza, call centers, shoppings e cultos evangélicos.
À medida que Suéllen segue protegendo os interesses da burguesia bauruense, trabalhadores e trabalhadoras ficam à mercê de seus patrões, correndo o risco de serem demitidos caso exijam melhores medidas de proteção ou solicitem o trabalho remoto.
Enquanto a prefeita se divulga em suas redes sociais e posa ao lado da população, os dados demonstram outra realidade. Estamos, há tempos, com mais de 100% das UTIs ocupadas, mesmo com o aumento no número de leitos – fato que a prefeita tanto se vangloria por reivindicar. Lamentavelmente, mais de cem bauruenses morreram na fila da UTI em 2021. De janeiro a julho, os números de casos e mortes pela Covid-19 já dobraram. Só nesse período foram registradas 758 mortes. São, no total, 1118 mortes e pouco mais de 54 mil casos.
Quando questionada sobre suas decisões de governo em entrevista para o UOL, a prefeita alegou ser vítima de machismo por parte de jornalistas e críticos ao seu governo, pois não vê prefeitos e governadores serem tratados da mesma maneira. Não é novidade que Suéllen usa da pauta da representatividade para se promover. Durante sua campanha, dizia que seria a primeira mulher a ser eleita prefeita na cidade e que protegeria as mulheres em sua gestão.
O que não nos parece coerente é que acompanhada do discurso de defesa de direitos, Suéllen também se alinhava cada vez mais ao bolsonarismo, o qual, não é nem preciso dizer, é firmado pelo machismo, racismo e lgbtfobia. O bolsonarismo é, inclusive, pilar fundamental para seu governo, uma vez que o grupo possui amplo espaço em Bauru, vide projeto de lei para tornar Bolsonaro cidadão bauruense.
A prefeita chegou a visitar Brasília, em janeiro, para conversar com o presidente e ministros sobre as demandas da cidade. Suéllen defendeu que essa seria uma oportunidade para expandir o alcance de seu gabinete, porém a aproximação com o governo de Bolsonaro pode ser muito nociva à cidade de Bauru. Ao observarmos a situação do nosso país na gestão de Bolsonaro-Mourão-Guedes não seria necessário ao menos justificar. No entanto, trazemos à tona alguns exemplos.
No Ministério da Mulher, Família e Direitos Humanos, Suéllen se reuniu com a ministra Damares Alves, para discutir a criação de uma unidade da “Casa da Mulher Brasileira” em Bauru, que atenderia mulheres em situação de violência ou vulnerabilidade. Porém, é importante lembrar que Damares foi uma das principais responsáveis pelas absurdas intervenções no caso da menina de 10 anos violentada pelo tio, no Espírito Santo. O caso veio à público no ano passado e Damares, na ocasião, tentou impedir a vítima de realizar um aborto. A aproximação de Damares fortaleceria, também, o fundamentalismo religioso na cidade.
Mais adiante, em maio, Bauru recebeu o ex-ministro do Meio Ambiente, Ricardo Salles, enquanto o mesmo era investigado pela Polícia Federal por exportação ilegal de madeira.
Dias depois, o ministro foi exonerado do cargo por conta das acusações. Ainda na questão ambiental, o cerrado bauruense hoje sofre sérios riscos, por conta da aproximação da prefeitura com a bancada bolsonarista. Ocorre que a deputada estadual Valéria Bolsonaro, já citada aqui, apresentou, no início deste ano, um projeto de lei para flexibilizar a Lei Estadual de Uso e Proteção do Cerrado.
São esses os motivos que nos levam a chamar a Suéllen de oportunista. Perguntamos: até onde a prefeita pode ir para defender seus interesses e alavancar sua carreira política? Suéllen entregou sua gestão à burguesia bauruense, ao governo genocida de Bolsonaro, aos liberais, à iniciativa público-privada. Diferente do que vemos em suas redes sociais, a população bauruense segue abandonada e pagará pelas consequências das alianças feitas pela prefeita.
Pelo levante da classe trabalhadora, pelo poder popular, pelo combate à fome, à covid e ao desemprego: Fora Suéllen, Fora Bolsonaro-Mourão!”