Pequenos reparos em primeiro plano
Atuando desde 2013 no Legislativo, Miltinho Sardin se intitula porta-voz do município, mas a maioria das suas demandas apresentadas são pontuais e de responsabilidade do Executivo
Publicado em 13 de novembro de 2020
Por Egberto Santana
O nome completo dele é Milton de César Souza Sardin e foi o segundo vereador menos votado em Bauru nas eleições de 2016, pelo partido Partido Trabalhista Brasileiro (PTB). Desde 2013, ele ocupa uma cadeira no Legislativo bauruense, por conta da cassação do vereador Fabiano Mariano (PDT). Miltinho busca a reeleição pelo Partido Democrático Trabalhista (PDT) agora em 2020.
O vereador ocupa a posição de primeiro secretário da Câmara Municipal de Bauru neste segundo biênio (2019-2020) do mandato. O seu papel, como consta no Regimento Interno da Câmara, é o de substituir o presidente e o vice-presidente na ausência desses, além de redigir, transcrever, ler e assinar as atas; fazer a chamada dos vereadores durante as sessões, receber inscrições de oradores para explicação pessoal, entre outros.
Ao assumir o cargo, em 2017, Miltinho disse acreditar no desenvolvimento de uma sociedade com transparência, ordem e principalmente sem o famoso “conchavo político”, termo usado para caracterizar o acordo entre grupos representativos.
Miltinho revelou na mesma entrevista que se pudesse “banir” alguém da vida política, seria o ex-presidente Lula por conta da crise econômica que, de acordo com o parlamentar, foi gerada por aquele governo.
A influência do vereador para a política vem da família. Ele foi aconselhado pela prima a disputar uma vaga na Câmara de Marília – o que não aconteceu – e se espelhou no tio, Sebastião de Souza, e o avô, José de Souza, ex-prefeito e ex-vereador respectivamente, de Reginópolis, no interior de São Paulo.
Pequenos reparos
Acompanhados de papeizinhos de cola ou exibindo gravações de si nos lugares que precisam de manutenção, de forma despojada e informal, Miltinho ocupou a tribuna, protestando sobre a necessidade de pequenos reparos no município como sinalizações de pinturas mal realizadas, construções paradas ou inacabadas, capinação e limpeza de imóveis, asfaltamento, recapeamento, entre outros. A origem das 595 indicações realizadas pelo vereador, nos últimos quatro anos, surgiu, muitas vezes, de moradores ou de visitas que o parlamentar realiza em áreas públicas.
Em uma fala gravada na tribuna da Câmara, o vereador elogiou a atuação do novo diretor de limpeza pública da Empresa Municipal de Desenvolvimento Urbano e Rural de Bauru (EMDURB) na Zona Leste de Bauru. Em seguida, dirigiu-se a um morador, sem dar nomes, que reclamou da situação em frente à sua casa cuja região o vereador e mais alguns colegas da Casa haviam pedido e conseguido o recapeamento para o espaço. “Tá tudo bonito lá e tem gente que fica reclamando”, gritou o vereador na tribuna.
Outros casos de Miltinho foram destaque no noticiário como, por exemplo, o pedido de análise técnica da Associação dos Engenheiros, Arquitetos e Agrônomos de Bauru (Assenag) sobre seus pedidos negados pela EMDURB, a cobrança de melhorias na limpeza pública e a intervenção no trevo da cidade.
“Plante uma Crotalária”
No contexto das leis, é de sua autoria, junto com o vereador Luiz Carlos Bastazini (PTB), o PL 32/2019, que dispõe sobre métodos naturais no combate à dengue em meio à epidemia que assolava Bauru na época. No texto da proposição, consta uma campanha de distribuição gratuita de sementes da planta Crotalária juncea, sendo de responsabilidade do Município a plantação de mudas dessa planta nas margens de rios, riachos, praças, canteiros e demais áreas públicas.
A planta adulta iria atrair a libélula que se alimentaria do mosquito causador da dengue e de suas larvas, diminuindo a infestação do inseto.
O projeto recebeu parecer contrário da Secretária Municipal de Saúde e voto contrário em separado do Coronel Meira (PSL), como membro da Comissão de Saúde da Câmara, por conta de não haver estudos suficientes que comprovariam a eficácia da Crotalária no tratamento da dengue. De acordo com a assessoria da Câmara, os pareceres não têm ação de impedimento do texto, apenas de manifestação. O projeto foi aprovado pela Casa Legislativa e sancionado pelo Executivo.
O professor Aloisio Costa Sampaio, do departamento de Ciências Biológicas da Unesp de Bauru, com mestrado e doutorado em Agronomia, comenta que a medida é boa, mas inaplicável: “o que a gente observa na prática é que é um instrumento pouco eficiente do ponto de vista de aplicação”. O biólogo ainda disse à reportagem que a semente da Crotalária é comercializada por poucas empresas e também é bastante suscetível a formigas. Para Aloísio, uma medida mais eficiente seria a educação ambiental com uma ampla divulgação de ações efetivas na redução de água limpa acumulada nas residências.
No restante da sua atuação como vereador, Miltinho apresentou projetos pontuais. O PL 90/2018 declara de utilidade pública a Fundação Astronauta Marcos Pontes – Astropontes – e o PL 174/2017 instituiu, no calendário oficial do município, o “Dia do Profissional de Educação Física” e a “Semana Municipal dos Profissionais de Educação Física” na semana do 1º de setembro. Em relação a essa segunda lei, Miltinho ainda convocou uma audiência pública para discutir o projeto.
Bate boca
Em julho de 2019, Miltinho foi protagonista de uma troca de ofensas contra o advogado e geógrafo Kláudio Koffani, durante uma atividade que investigava o caso “Floresta Urbana”, alvo da CEI dos Precatórios. “Você é um bosta”, xingou Miltinho, que tentava impedir a aproximação de Koffani do grupo de vereadores. O geógrafo retrucou: “você não tem competência para o cargo”. Ao G1, Kóffani disse que tomaria medidas cabíveis na Câmara, por quebra de decoro parlamentar.
O Jornal Dois enviou questionamentos ao vereador por WhatsApp quando este aceitou dar entrevista e pediu as perguntas anteriormente, entretanto, até o fechamento, desta reportagem, Miltinho não deu um retorno. Ao todo, foram 2 semanas de espera.
Segundo o Portal de Transparência da Câmara, até setembro de 2020, Miltinho Sardin recebeu R$ 270 mil pelo seu cargo público.
Pílulas do Poder é o Trabalho de Conclusão de Curso de Jornalismo de Egberto Santana e Natália Santos na Faculdade de Arquitetura, Artes e Comunicação da Unesp, com orientação da Profª. Drª. Suely Maciel e tem o apoio e a revisão da equipe do Jornal Dois.