Por Gustavo Lustosa, colaboração para o Jornal Dois
Filas para check-in e outras para embarque e desembarque. Aglomeração de pessoas, grande fluxo de táxis, carros e ônibus. A busca por uma tomada e um lugar para sentar, um cafezinho e um pão de queijo. Essas e outras coisas são parte da rotina de um aeroporto.
Não se você for até o aeroporto de Bauru. Na maior parte do dia o lugar fica praticamente vazio e opera com duas companhias aéreas. Ambas possuem poucos vôos diários.
Criado em 2006, o aeroporto recebeu o nome de Moussa Nakhal Tobias — uma homenagem a um empresário local de origem libanesa. Por conta da localização estratégica de Bauru, ocupando um território no centro do estado de São Paulo, esperava-se que o aeroporto se tornasse um grande entroncamento para a região.
Mas não é o que ocorre. Doze anos se passaram e desde sua inauguração as administrações da prefeitura não traçaram planos de ação para esse desenvolvimento.
O atual prefeito, Clodoaldo Gazzetta, citou o Moussa Tobias duas vezes em seu plano de governo. Na primeira, o trata como um desafio a ser enfrentado para melhorar a integração regional. Depois, no capítulo sobre a temática, é comentada a intenção de realizar estudos para implantar parques, polos e centros de inovação junto ao aeroporto.
Os desafios da prefeitura
Aline Fogolin é a responsável pela Sedecon (Secretaria de Desenvolvimento Econômico, Turismo e Renda) da Prefeitura de Bauru e conta que essa pauta está sendo discutida e planos de ação têm sido tomados.
Ela reitera que a Sedecon e a prefeitura têm feito um trabalho de reconhecimento dos problemas e das demandas para que o aeroporto possa se tornar um Centro Logístico.
“Há muitos anos que o aeroporto não era colocado num planejamento focado no desenvolvimento regional, já que ele não pode ser pensado só localmente. Somos um polo em Bauru, tanto universitário quanto logístico. Então, o modal é importantíssimo nesse cenário, tanto para passageiros quanto para cargas”, afirma a secretária.
Fogolin conta que a prefeitura tem analisado o cenário atual para entender quais medidas devem ser tomadas. Segundo ela, o poder público tem se reunido com companhias aéreas, agências turísticas, empresários e especialistas no assunto para compreender melhor a conjuntura, já que a Sedecon ou a prefeitura nunca realizaram esses estudos antes.
O Daesp (Departamento Aeroviário do Estado de São Paulo), é a companhia que administra o local. Vinculado à Secretaria de Logística e Transportes do Estado de São Paulo, o Daesp divulgou licitações para melhorias no aeroporto que, até agora, não deram resultado.
Com o fim do período eleitoral, o compromisso é que prefeitura e Sedecon vão auxiliar na busca por investidores. Fogolin afirma que o Moussa Tobias tem uma área pública interessante que pode ser potencializada e precisa de mais hangares.
Com isso, o espaço conseguiria receber mais empresas para fazer pouso e decolagem para conexões e se tornar uma área de armazenamento comercial e distribuição, dando suporte ao Porto Seco da cidade — a Estação Aduaneira do Interior (EADI), local de movimentação, armazenagem e despacho de mercadorias e bagagens.
A questão econômica
O desenvolvimento no entorno do aeroporto poderia melhorar a arrecadação da cidade. Para Jacomo Buranello, despachante aduaneiro, seria interessante utilizar o Moussa Tobias como uma fonte de escoamento de produtos, mas ele ressalta que atualmente não dá para saber se o frete compensaria mais do que o modal rodoviário.
Guilherme Torga, economista, pensa que apesar dos esforços para fazer o aeroporto atingir mais empresários e movimentar mais exportações, os tipos de mercadorias produzidas na cidade não compensam os gastos para fazer esse transporte pelo Moussa Tobias.
“Mais de 70% das exportações de Bauru e região se concentram em produtos do agronegócio ou da indústria siderúrgica, que geralmente se caracterizam por um grande volume, o que torna o modal aeroviário pouco interessante para esse fim”, afirma Guilherme.
O economista acrescenta que caso seja necessário um transporte por avião, já existe a opção do aeroporto de Viracopos em Campinas, que fica a 260 km das terras bauruenses.
O modal aéreo é indicado para mercadorias “urgentes”, ou seja, que precisam ser entregues rapidamente. Segundo estudo do Ietec (Instituto de Educação Tecnológica), que reuniu dados do IPEA (Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada)e do IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística), os custos de um modal aéreo são maiores em comparação a outros modais.
Levando em consideração os tipos de produtos que Bauru exporta, os dados mostram que não há necessidade de um centro logístico aeroviário na cidade. Isso se deve a questões de manutenção e combustível das aeronaves, o que acaba encarecendo o valor final dos produtos.
De acordo com os dados do MDIC (Ministério da Indústria, Comércio Exterior e Serviços), anualmente Bauru exporta em torno de 200 milhões de dólares, sendo a 46ª cidade com mais exportações do estado e a 154ª do Brasil. São 57 empresas ou pessoas exportadoras na cidade, e o valor corresponde a 0,4% de todo o arrecadado no estado.
O despachante Jacomo Buranello acredita que outro fator que prejudica o potencial exportador de uma empresa é a alta taxa tributária, o que acaba reduzindo investimentos.
Por conta disso, o economista Guilherme Torga ressalta que seria mais interessante que o aeroporto tivesse um investimento para se tornar um terminal regional de aviação doméstica na região central do estado, já que a mesorregião de Bauru conta com 1,5 milhão de habitantes distribuídos em 56 municípios.
A secretária Fogolin, acredita que existam produtores que possam se beneficiar do aeroporto, mas que é preciso unir as oportunidades às pessoas interessadas.
“Agora, juntando a questão da inovação, um investimento nas universidades para fomentar a pesquisa e conectar, começamos a encontrar os produtos. Bauru tem o potencial, mas está tudo meio desconectado, para o aeroporto ser mais funcional e atrativo precisa ter o outro lado, não adianta ter estrutura se não tiver produto”, salienta.
O caso Luciano Huck
No dia 17 de setembro o Moussa Tobias tomou uma notoriedade nacional.
O avião que levava Luciano Huck, apresentador da TV Globo, precisou fazer um pouso de emergência na região devido às condições climáticas. Luciano desceu do avião e gravou diversos Stories para seu Instagram, mostrando sua surpresa e indignação ao fato de que, em um dia comum no período da tarde, o aeroporto de Bauru não oferecia um meio de saída até a cidade, que fica a 23 km de distância.
Huck afirma em vídeo mostrando a frente do aeroporto vazia: “Acho que vai ser fácil sair daqui, de táxi, de ônibus, de Uber, de carro de boi…”.
Uma nota não oficial da Sedecon sobre o fato circulou por grupos de Whatsapp dias depois. A mensagem afirmava que a unidade havia ficado feliz que seu avião conseguiu pousar sem problemas, explicou que, pelo fato de Bauru ser uma cidade de médio porte, existem poucos horários definidos para chegadas e partidas e que Uber’s e táxis estão à disposição em qualquer horário do dia.
A nota também respondia à insatisfação de Luciano e finalizava convidando o apresentador para conhecer Bauru. Aline Fogolin afirma que não houve posicionamento oficial da Sedecon e a própria secretária decidiu não publicar nada, pois não houve pedido de Huck ou de sua equipe. O apresentador retratou-se dias depois do ocorrido via redes sociais, afirmando que possui uma relação de infância com o município.
A situação evidenciou a questão do acesso ao aeroporto. Localizado a pouco mais de 20 km do centro da cidade, existe uma linha de ônibus que vai até lá, fazendo o trajeto com saída do Centrinho da USP.
Em dias de semana o percurso é feito seis vezes, com intervalos grandes entre os horários. Aos finais de semana, há apenas transporte nos horários próximos aos voos — os táxis seguem esses mesmos horários.
O que vem pela frente?
Aline Fogolin afirma que, nos próximos meses, a Sedecon iniciará um período de “chamamento” para capacitação do receptivo turístico. Isso inclui taxistas, cadeia hoteleira e restaurantes. Assim, ela acredita que a cidade estará preparada para receber o turista que vem para negócios ou passeio.
Estão agendadas reuniões com as empresas aéreas que já operam na cidade para entender as razões dos horários reduzidos. Além disso, a secretária afirmou que fará parcerias com as prefeituras da região para que haja um fluxo maior de passageiros no Moussa Tobias.