Minas no mic: a retomada da Frente Feminina do Hip Hop

Após pausa em decorrência da pandemia da Covid-19 em 2020, iniciativa retoma as atividades na cidade

Publicado em 17 de julho de 2023

MC Mina Min se apresenta no palco do Fórum Estadual de Mulheres no Hip Hop - edição Interior (Foto: Sarah Vitória/Jornal Dois)
Por Joyce Rodrigues e Sarah Vitória

No dia 8 de julho, o CEU das Artes, localizado no Conjunto Habitacional Pastor Arlindo Lopes Viana, recebeu a primeira edição do Fórum da Frente Nacional de Mulheres no Hip Hop – edição Interior. O evento foi organizado pela Frente Feminina do Hip Hop de Bauru e pela Frente Nacional de Mulheres no Hip Hop, em parceria com a Secretaria Municipal de Cultura de Bauru. A atividade contou com o patrocínio do Programa de Ação Cultural (PROAC) da Secretaria de Cultura, Economia e Indústrias Criativas do Estado de São Paulo. 

Com a programação inteiramente composta por mulheres, o Fórum reuniu 37 convidadas para apresentações artísticas, musicais, rodas de conversa, palestras e exposições. Além das artistas bauruenses, apresentaram-se também as DJs Luana Hansen & Mozzão, naturais de São Paulo e residentes de Bauru há cerca de um ano. O evento reuniu cerca de 150 pessoas em mais de suas 6 horas de programação.

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A grafiteira Gaúcha deixou seus traços nos muros do CEU das Artes (Foto: Sarah Vitória/Jornal Dois)
Vozes femininas

Entre live paintings de graffiti, bancas de exposições literárias e visuais e atividades exclusivas para crianças, o palco montado pela produção do Fórum recebeu 14 MCs da cidade, entre poetisas, rappers e compositoras. MC Maloka é uma das rappers que se apresentaram na ocasião. Atuando no hip hop há quase 10 anos, a MC já foi integrante do grupo Ouro D’Mina, além do projeto solo intitulado AfroFaya. Para Maloka, o encontro foi uma oportunidade de “reativar” a carreira como MC. “Eu resumiria essa força poderosa como um renascimento, onde lembramos a nós mesmas quem nós somos e o que fazemos”, declarou a MC. Em sua apresentação, a sua vivência dentro do hip hop foi destaque em suas letras. “Após tantos anos, ainda estou aprendendo, e poder fazer hip hop de forma organizada e inteligente, em outra fase, foi revigorante”.

MC Maloka apresenta novo repertório (Foto: Sarah Vitória/Jornal Dois)

O evento também ofereceu a oportunidade de conhecer novas iniciativas: o Baque Mulher, projeto novo em Bauru com o objetivo de reunir mulheres em oficinas de Maracatu e conscientização sobre empoderamento feminino, apresentou-se em uma roda de conversa para convidar mulheres interessadas no movimento. Apadrinhado pela mestra Joana Cavalcante, primeira mulher a se tornar mestra de uma nação de Maracatu, o Baque Mulher iniciou suas atividades em julho deste ano. Giovana Parra, uma das integrantes do Baque, foi quem comandou a apresentação, com o apoio de um vídeo explicativo da madrinha de Recife. “Apresentamos os instrumentos que usamos dentro do baque, e a história do movimento que começou com uma reivindicação das mulheres que queriam tocar em Recife”. Para Giovanna, o encontro foi “acolhedor” e despertou o interesse das mulheres presentes no evento. 

Retomada

Em 2022, a Frente Feminina do Hip Hop de Bauru completou 10 anos de atividade. Em seu 11º na cidade, a organização retomou as atividades após um hiato prolongado em decorrência da pandemia de Covid-19 em 2020. Tatiana Vieira, mais conhecida como Tati, é uma das integrantes da Frente desde 2013, e comenta que além da pandemia, outros fatores influenciaram para a pausa nas atividades. “Situações de desarticulações em relação à falta de tempo, espaço e condições financeiras contribuíram para essa pausa”. A maternidade e a mudança de cidade também foram motivos para que as atividades fossem pausadas. “Várias das meninas se tornaram mães e tiveram que despender seu tempo em cima das necessidades básicas que um bebê precisa”, declarou Tati. 

Espaço destinado às crianças foi um dos destaques do evento (Foto: Sarah Vitória/Jornal Dois)

MC Parra é uma das artistas do hip hop bauruense que está vivenciando a maternidade pela primeira vez. Mãe de Aurora, a rapper é ex-integrante do grupo Ouro D’Mina e autora do trabalho solo intitulado como PARRA. No Fórum, Parra teve a oportunidade de compartilhar as experiências da maternidade com a roda de conversa  “O papel da alimentação saudável na nutrição infantil”. Para a MC, retornar à cena do hip hop após o afastamento gerado pelas demandas da maternidade foi como “passar um filme na minha cabeça”. “Lembrei do quanto eu sou feita disso, dessa troca, desse acolhimento, e do quanto o Hip Hop me ensinou a ser isso que eu sou hoje”. 

Aurora sobe aos palcos do SESC Bauru carregada pela sua mãe (Foto: Acervo Pessoal)

A artista relembra uma das primeiras experiências pós-maternidade: um show realizado no Sesc Bauru, com sua filha no colo. “Quando aceitei o convite eu ainda estava grávida, e quando chegou o dia eu fiquei completamente insegura achando que não conseguiria”, relembra Parra. A roda de conversa também trouxe um retorno positivo para Parra, que hoje também é criadora de conteúdo voltado para maternidade e nutrição infantil. Ao relatar sobre uma mãe, que também é MC, presente no evento que a reconheceu pelo seu conteúdo no Instagram, Parra credita a influência à sua trajetória dentro do hip hop: “Talvez ela não chegaria até meu conteúdo se não fosse pelo hip hop, porque foi buscando isso que ela chegou até o meu perfil”. 

Esta foi a primeira edição do Fórum Nacional de Mulheres no Hip Hop realizada em Bauru. O encontro acontece desde 2010, e em 2023 retomou as atividades presencialmente no mês de março, em Brasília (DF), com o tema “gênero, raça e afrofuturismo”. A edição Interior, sediada em Bauru, é uma extensão do Fórum Nacional realizado no Distrito Federal, que também abrangeu mais três regiões: o Vale da Paraíba (São José dos Campos), a baixada santista (Santos), e a capital metropolitana (São Paulo). Para Tatiana, essa foi uma oportunidade de fortalecer as conexões entre as mulheres do hip hop de todos os cantos do Brasil. Nosso propósito é sempre esse, de estar fortalecendo. Faz parte de nossa organização atual ter pessoas que se disponham a construir coletivamente.”
Planos futuros

Apesar da pausa prolongada, Tati alega que o movimento nunca parou de fato. Para a integrante da Frente, as mulheres que vivem do hip hop “em sua essência” nunca pararam suas atividades. Antes do Fórum Estadual, a Frente Feminina do Hip Hop de Bauru já havia realizado uma série de oficinas gratuitas entre os meses de maio e junho deste ano. O projeto “Sementes da Frente”, realizado com recursos do Programa de Estímulo à Cultura de Bauru, da Secretaria Municipal de Cultura, promoveu oficinas de breaking, graffiti, produção musical e MC, além de dois cine-debates e duas rodas de conversa abertas ao público. “Nossos planos futuros são continuar essa semeadura e trabalhar com a formação e profissionalização”, revela Tati. Para o segundo semestre de 2023, a Frente Feminina também pretende focar em workshops, palestras e oficinas relacionadas ao planejamento estratégico, criação de portfólio, mídias sociais e criação de currículo para as artistas que tiverem interesse. “Queremos fazer brotar novas artistas dentro da cidade, com um reconhecimento e fortalecimento coletivo de mulheres “, finaliza. 

Confira a cobertura fotográfica, por Sarah Vitória

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