A convocação para os finalistas do Luxembourg Art Prize, ou Prêmio de Arte de Luxemburgo sai nesse sábado (29), e o grafiteiro João Crepaldi representa Bauru na disputa. Suas obras estão marcadas nos muros de Bauru. Mary Dota, Santa Luzia, Jaraguá, Ferradura, José Regino, e a favela São Manoel são alguns dos lugares em que João passou com suas latinhas de tinta.
No prêmio, concorre “Brazil Invertido”. Pintura realizada em um tecido de dois metros e trinta por cinco, que “tá guardada na casa da minha mãe porque é um tecido gigante”, conta João. Ele explica que misturou elementos da cultura pop com “um cenário político inimaginável para o ano de 2019”, e retrata, em estilo surrealista, a situação do Brasil depois das eleições presidenciais que elegeram Jair Bolsonaro.
Sobre algodão cru, essa pintura foi feita em protesto contra o governo do então presidente. A mistura de tintas spray mostra uma multidão que o artista assemelha a zumbis, vestindo a camiseta amarela da seleção brasileira de futebol. A iluminação nas caras das pessoas remete à luz do celular, ao qual olham e checam o tempo todo. Por cima de seus ombros, um grande tanque de guerra com a figura de um homem que faz o sinal das “arminhas” com a mão, popularizado pelo presidente eleito, ainda em campanha, como um de seus símbolos.
O céu fechado traz um clima sombrio à obra, que tem como “monstro”, na visão do grafiteiro, o “Pato da Fiesp”, marcado como uma espécie de mascote das manifestações pelo impeachment de Dilma Rousseff em 2016. Os raios e traços em tons de preto ao redor da figura são uma referência ao seriado “Stranger Things”, que tem em sua história um outro monstro, que aparece sob o mesmo ângulo no céu, com esses mesmos elementos – que dão o clima de suspense e terror. À direita, o Cristo Redentor é atingido por uma descarga de raios, para lembrar “os cristãos do segmento evangélico que demonstram grande convergência com o discurso retrógrado e intolerante”, comenta João.
No chão, as sombras das pessoas formam a palavra “ANTIFA”. Nas palavras do grafiteiro, é uma “referência crítica ao estilo de governo de extrema direita que tem se mostrado de ideologia fascista”. Do lado esquerdo da pintura, um cartaz escrito “ELE NÃO”, riscado, colado em uma parede parcialmente derrubada. “Escondido atrás das ruínas, o último índio vivo”, apresenta o artista, “mirando sua flecha no ditador sobre o tanque de guerra”.