“Eu só quero que ela fique bem”, diz mãe de jovem desaparecida

Isa Alves, 21 anos, foi vista pela última vez saindo de seu trabalho no mês de janeiro; investigação está na delegacia de homicídios de Bauru

Publicado em 11 de fevereiro de 2021

Fotos divulgadas pela família para fins de identificação e auxílio na busca (Foto: Reprodução/Redes sociais)
Por Camila Araujo

Foi no dia 15 de janeiro que Rose Meire Alves viu sua filha Isa Alves pela última vez. A menina saiu da casa de sua família, num sítio localizado entre Bauru e Pederneiras, para ir ao trabalho, na sexta-feira, e de lá passaria o final de semana na casa de uma amiga, Giovana.

Como Isa não tem um celular, no domingo, a mãe recebeu uma mensagem de Giovana dizendo que a filha não voltaria naquele dia. E ficou combinado que Rose Meire a buscaria na segunda-feira, depois que ela saísse do serviço. “Quando chove a estrada fica ruim”, comentou a mãe. Nesse dia, chovia, e ela esperou a jovem das 20h30 até às 23h.

Isa tem 21 anos e vem passando pelo processo de transição de gênero há mais ou menos dois meses, de acordo com a mãe. “Ela começou a usar peruca, se vestir como mulher e a usar maquiagem”, conta. Na delegacia, ao fazer o boletim de ocorrência, os delegados teriam perguntado se ela é “usuário”, ao que a mãe conta que respondeu que “a única coisa” é sua orientação de gênero. Segundo ela, a transição é uma decisão da filha e que “a gente respeita desde que ela ande certo”.

Em casa, convivem mãe, pai e filhos. Lá, Isa nunca teve problema, segundo a mãe, “sempre trabalhou e ajudou”.

Investigações

Rose Meire registrou um boletim de ocorrência no dia 22 de janeiro, na Delegacia Especializada de Investigações Criminais (DEIC). A partir daí, o caso começou a ser investigado. Em situações de desaparecimento como esse, o RG da pessoa fica bloqueado. Os investigadores abrem um Procedimento Interno de Desaparecimento (PID) e os primeiros contatos passam a ser feitos: “pelas redes sociais e telefones deixados pelo declarante, nesse caso, a mãe”, conta Cledson Luiz Nascimento, delegado titular da 1ª DIG e 3ª delegacia de homicídios da DEIC Bauru.

Cledson explica também que nesse primeiro contato, os delegados buscam conhecer o histórico do desaparecido ou da desaparecida. “Mais de 90% dos casos do ‘sexo’ masculino tem relação com drogas, em que os jovens ficam dias fazendo uso em pontos de tráfico, até retornar à casa. Quando se trata do ‘sexo’ feminino, muitos casos são de relacionamentos não aceitos pela família”, explica. Raros são os casos de desaparecimento envolvendo crianças, segundo ele, em Bauru. Em se tratando de idosos desaparecidos geralmente existe relação com doenças como Alzheimer ou até depressão, afirma o delegado.

Chama a atenção de Rose Meire o fato de que a delegacia não tenha feito contato com a Paschoalotto Serviços Financeiros, empresa de cobranças em que Isa trabalhava e onde foi vista pela última vez. Ela estava saindo do trabalho em 18 de janeiro, uma segunda-feira, por volta das 19h, e entrou em um carro prata, de acordo com a mãe. Segundo informou o DEIC ao Jornal Dois, a investigação buscou amigos, vizinhos e pessoas próximas de Isa, e não fez contato com a empresa porque a mãe já havia feito.

Rose conta que a Paschoalotto não permitiu que a familiar verificasse as imagens de segurança. “Se a polícia olhasse essas imagens poderia descobrir o número da placa do carro”, afirmou a mãe. O J2 entrou em contato com a empresa, e até o momento da publicação desta matéria, não houve resposta.

Para a mãe, “não estão fazendo nada na delegacia”. Segundo o delegado responsável, há indícios de que a filha tenha sido vista em “outros locais”, mas as investigações continuam. Nesses casos, explica Cledson, há um intercâmbio entre as polícias para se apurar as pistas. Ele lembra, “cada caso é um caso”.

Procedimento 

Quando a pessoa procurada reaparece, o responsável por registrar a ocorrência do desaparecimento ou a própria pessoa tida como desaparecida, deve se dirigir a qualquer delegacia do país para registrar um novo boletim de ocorrência, e recadastrar o documento de identidade. 

Em 2020, foram instaurados 229 PIDs em Bauru, sendo que 200 foram concluídos até o momento. 

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