“Estamos fazendo história no dia-a-dia”, diz autora de livro sobre Bauru
“Bauru, uma cidade sem limites” apresenta a história do município, desde a fundação até os dias de hoje; edição ampliada foi publicada no mês passado e o Jornal Dois conversou com uma das escritoras responsáveis pela obra
Publicado em 18 de janeiro de 2021

Por Camila Araujo
Edição Bibiana Garrido
A nova edição do livro “Bauru, uma cidade sem limites” foi publicada há um mês, em dezembro de 2020. Esta é uma versão revista e ampliada da obra publicada originalmente em 2016, pela editora bauruense Canal6, escrito por Sandra de Cássia Ribeiro, socióloga, e Márcia Regina Nava Sobreira, historiadora. Ambas são professoras da rede estadual de ensino de Bauru.
O material reúne fatos do início do processo de colonização da cidade até os dias atuais, em ordem cronológica.
No livro, as autoras contam que o processo de ocupação do centro-oeste paulista ocorre a partir de 1840, e se intensifica na década seguinte. Neste momento, chegavam os “pioneiros”, colonizadores, que fugiam da decadência da exploração do ouro e do café, em Minas Gerais e no Rio de Janeiro. Por aqui, habitavam populações indígenas, entre elas as etnias kaingangs, terena e guarani.

Na defesa de suas terras, muitos nativos foram assassinados ou expulsos pelos “desbravadores”. A história de Bauru não é diferente do contexto a nível nacional: também é manchada de sangue.
Constituição
O ponto de partida para a formação do povoado de Bauru aconteceu a partir de doações de terras de dois fazendeiros para a Igreja Católica, em 1885 e 1893, respectivamente. Neste contexto, de acordo com o livro, era comum que as famílias fizessem esse tipo de doação: seja por devoção ou por prestígio social.
Em 1893, foi criado o Distrito de Paz de Bauru e no ano seguinte, em julho, o primeiro cartório foi instalado na região. As primeiras eleições ocorreram um ano mais tarde, em 1895, iniciando o primeiro período legislativo da Câmara Municipal, entre 1896 e 1898. A legislatura é o período de quatro anos de mandato dos vereadores eleitos a partir da posse. Atualmente, a cidade está em sua 33ª legislatura.
A data em que se celebra o aniversário do município, 1º de agosto, remete ao momento em que a lei 428 é promulgada pelo Estado, em 1896. O artigo primeiro desta legislação diz o seguinte: “O Município de Espírito Santo da Fortaleza passa a denominar-se Bahurú, mudando-se a sua sede para esta última povoação”. Na época, não existiam limites territoriais consolidados, e a sede do município era disputada em nível local.

Nomes como Monsenhor Claro, Araújo Leite, Ezequiel Ramos, Rodrigo Romeiro, Eduardo Vergueiro de Lorena, Saint Martin, entre outros, surgem como personagens fazedores da história: são juízes, prefeitos, padres e comerciantes. À época, detinham poder político e econômico, vivendo em situação de privilégio social. Hoje, nomeiam ruas da cidade.
A autora Sandra sugere que quando vamos à escola, ao mercado, a todo momento estamos fazendo história. Para ela, “não adianta querer entender os fatos históricos nacionais se não entendermos que nós estamos fazendo história no dia-a-dia”.
Motivação
“Sentimos na pele a falta de um material sistematizado e organizado cronologicamente para usar em sala de aula”, conta Sandra. Essa foi a motivação para a escrita do livro há cinco anos, a partir da pesquisa de documentos históricos e entrevistas. A intenção era oferecer um material sobre a história local para comunidades escolares da cidade. Por isso, inclusive, que a primeira edição contava com exercícios paradidáticos como propostas de atividades.
A publicação traz novos elementos devido à “fartura de documentos e dados”. É o que relata Sandra, lembrando arquivos ao qual ela e Márcia tiveram acesso. Nesta nova edição, os exercícios e atividades para estudantes foram retirados por escolha editorial. A pretensão é de que a obra seja um livro para consulta histórica.

Bauru hoje
A professora Sandra entende que Bauru atualmente está bem diferente da cidade de 2016, quando foi publicada a primeira edição do livro. “Está mais carente e empobrecida, também por conta da pandemia”, reconhece. O olhar sobre a cidade, para ela, era um pouco mais otimista há cinco anos, e que hoje a juventude está “mais abandonada, com medo”.
Para enfrentar este cenário, a socióloga acredita que “é preciso arregaçar as mangas, para ir com força total em direção a mudança que queremos”. Através da apropriação da história da cidade pelos e pelas bauruenses, ela espera que o livro possa ajudar a “dar uma alavancada” no desenvolvimento do município.
Aquisição
De acordo com Sandra, houve o interesse das secretarias estadual e municipal pelo projeto. Na época da publicação, em 2016, não havia a possibilidade de aquisição, pela prefeitura, para distribuição gratuita. A editora pretende apresentar o projeto para a comunidade escolar do município novamente, com a nova edição em mãos. Se houver retorno positivo, as escolas deverão comprar os exemplares para trabalhar com os estudantes.
O livro pode ser adquirido no Sebo Clepsidra, localizado na Rua Treze de Maio. O valor é de R$35 reais.