“Não é um fato isolado”: manifestantes protestam contra caso de racismo em Bauru

Protesto foi organizado depois que uma bauruense publicou nas redes sociais o relato de uma abordagem racista que teria sofrido em um estabelecimento da cidade 

Publicado em 28 de maio de 2022

Cerca de 30 pessoas estiveram presentes no ato antirracista deste sábado (Foto: Camila Araujo/Jornal Dois)
Por Camila Araujo 

Na tarde deste sábado (28), um ato antirracismo foi realizado no estacionamento da farmácia Nissei, na quadra 8 da avenida Duque de Caxias, em protesto contra um caso de racismo que ocorreu no estabelecimento na semana anterior, quando Regiane Rosa, cozinheira, foi abordada por um funcionário da loja pedindo para que ela abrisse a bolsa.

A presidente do Conselho da Comunidade Negra do município, Sebastiana de Fatima Gomes, esteve presente para “oferecer apoio à vítima”, Regiane Rosa, e para lembrar que ela própria foi alvo de violência racista em 18 de maio, quando uma reunião virtual do Conselho de Políticas Públicas para Mulheres (CMPM) foi invadida por um usuário identificado como Camilo Silva, que preferiu ofensas incitando estupro e outras violências.

Caso parecido aconteceu com Andressa Ugaya, professora de Educação Física da Unesp e integrante do CMPM, durante uma roda de conversa virtual intitulada “Racismo nosso de cada dia” realizada em 2021, segundo ela destacou em sua fala. “Não se trata de um caso isolado”, disse.

"Não compre de racistas", disseram as e os manifestantes durante o ato (Foto: Camila Araujo/Jornal Dois)

O professor de capoeira Alberto Pereira defendeu que a escravidão no Brasil acabou somente de forma legal em 1888 mas que o regime se perpetua por meio do racismo, que é, por sua vez, “um atraso político, social e econômico”. Para ele, as forças policiais e as seguranças privadas “têm que entender isso”.

“Solidariedade a todos os pretos e pretas que já sofreram racismo nessa cidade”, declarou Tetê Oliveira, pré-candidata à deputada federal pelo PSOL, afirmando estar cansada de sofrer abordagem policial violenta. “Quando isso vai parar?”, disse, lembrando de Genivaldo Santos, morto pela PM de Sergipe no último dia 25, em uma “câmara de gás” lacrimogêneo dentro da viatura.

Igor Fernandes, Regiane Rosa e Tetê Oliveira (Foto: Camila Araujo/Jornal Dois)

“Todos os dias um relato de jovem preto assassinado. Nosso projeto é trabalhar e morrer. Se você trabalhar e reivindicar seu salário você pode ser morto também”, declarou Tetê, em referência a Moïse Kabagambe, congolês espancado até a morte na Barra da Tijuca após solicitar o pagamento em seu local de trabalho, em janeiro deste ano.

Protesto foi realizado no estacionamento da farmácia Nissei, na av. Duque de Caxias (Foto: Camila Araujo/Jornal Dois)

 

“A gente não vai mais se calar”, declarou Igor Fernandes, presidente do PSOL de Bauru, afirmando que “este tempo [de silenciamento] acabou”.

“Eles amam nosso carnaval, nosso samba, nosso sexo, mas odeiam nossos corpos pretos”, destacou Hilton Santos, professor de capoeira e militante do PSOL, fazendo um chamado para que os movimento hip hop, da capoeira, Movimento dos Trabalhadores Sem Terra (MST), movimento estudantil, anarquista e partidos políticos se organizam para “avançar a luta”.

Já Kleytton Barbosa, advogado, lembrou que nenhum estabelecimento comercial tem direito de abordar um cliente da maneira como foi feito com Regiane. “É responsabilidade do estabelecimento cuidar das próprias mercadorias, pedir para revistar é ilegal. Segurança privada não pode fazer papel de polícia nem de juiz”, explicou.

Regiane esteve presente no ato, agradeceu a solidariedade e explicou mais uma vez o ocorrido, relato que já havia feito por meio das redes sociais no dia 20 de maio, uma sexta-feira. A vítima explicou que ao entrar em contato com o grupo que administra a rede de farmácias, este por sua vez a ofereceu um “acordo” para não prosseguir com ação na justiça, proposta na qual ela recusou. 

Em nota, a rede afirma que “iniciou os procedimentos de averiguação e que o caso já se encontra no departamento de recursos humanos para providências internas”. Leia a íntegra:  

A rede de farmácias esclarece que, desde que tomou conhecimento do fato relatado pela cliente, iniciou os procedimentos de averiguação e que o caso já se encontra no departamento de recursos humanos para providências internas. A empresa ressalta que, independentemente do fato, vai reorientar toda a equipe da loja sobre os procedimentos de atendimento.

A companhia reforça que possui como um dos seus principais valores o respeito, o qual defende diariamente junto a todos os nossos colaboradores, parceiros, fornecedores e clientes. E reforça ainda que se trata de uma empresa com mais de 6.000 colaboradores, presente em mais de 80 Municípios, um universo de pessoas que representa uma grande diversidade de etnias, credos e convicções e, por isso, repudia qualquer tipo de discriminação e atitudes preconceituosas.

*Errata: inicialmente o texto afirmava que Regiane Rosa foi abordada por um segurança do estabelecimento, mas na verdade ela foi abordada por um funcionário da farmácia. Correção feita no dia 29 de maio, às 11h12. 

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