Unisagrado, estudantes no escuro

Movimento estudantil da instituição universitária Unisagrado realizou um protesto contra o assédio dentro do campus na última semana

Publicado em 23 de maio de 2022

Relatos de assédio têm agitado o movimento estudantil que se reorganizada para reivindicar melhorias no ambiente universitário (Foto: Victória Castecki)
Por Victoria Castecki*

Na noite do último dia 19 de maio, uma quinta-feira, a partir das 20h30, mais de 100 estudantes marcharam do primeiro ao último bloco da Unisagrado, apesar do frio de 12ºC, para protestar contra casos de assédio que foram divulgados no início de maio. Quatro mulheres afirmam terem sido vítimas de situações assediosas dentro das dependências da universidade.

As denúncias, que estão sendo apuradas, agitam o movimento estudantil e levantam pautas e questionamentos importantes entre as e os estudantes: tanto sobre o funcionamento estrutural da faculdade quanto sobre a parte de acolhimento e conhecimento a respeito do que é abuso por parte do corpo docente e estudantil.

A violência contra a mulher nas universidades é uma realidade e não de hoje, mas há poucas informações sobre as ocorrências no Brasil – em geral, reportagens recorrem à citação uma enquete online de 2015 do Instituto Avon Data Popular que ouviu entre 1.823 estudantes, homens e mulheres, e estimou que 67% das universitárias já foram vítimas de algum tipo de violência de gênero – e dentro desse número 63% preferiram não denunciar por medo ou falta de orientação.

Alguns fatos ocorridos após os acontecimentos no campus nos revelam a ignorância, o desconhecimento, a falta de discussão sobre o assunto. Eu, por exemplo, estudante de Letras licenciatura, futura professora com orgulho, fiquei chocada e triste com a postura de alguns acadêmicos da instituição, pela falta de empatia e indiferença ao lidar com o caso, o que aponta para a necessidade de ampliar a formação, não só nesse mas em diversos assuntos que ainda são tratados com leviandade por parte da comunidade universitária.

Uma Faculdade com 115.297,05 m² só de Terreno e 72.265,36 m² de Área construída o mínimo que nós estudantes esperamos é:

Iluminação, já que a falta de iluminação em blocos mais afastados é apenas um convite para mais barbáries acontecerem, além do fato das luzes serem acesas em alguns blocos apenas perto das 19h e apagadas às 22:30h. Quem chega mais cedo ou vai embora mais tarde fica, literalmente, no escuro.

Educação: Fica claro para nós, estudantes, que a universidade precisa discutir temas, construir palestras, debates e oficinas sobre sexualidade, gênero, transfobia, racismo, e diversas outras pautas que não devem restritas apenas aos cursos de humanas.
Sabemos que o problema do machismo é também estrutural e cultural, logo, vemos de longe que a principal solução virá com a educação.

Criação de um DCE e de CAs: um Diretório Central dos Estudantes(DCE) é a voz dos estudantes, e a voz dos estudantes também é a voz da comunidade ao redor. Ter um local onde possamos nos organizar enquanto classe é fundamental para um bom desempenho acadêmico, no sentido de nos tornarmos pessoas mais críticas e capazes de alterar a sociedade de forma positiva. O papel de uma instituição como a Unisagrado na teoria não é apenas colocar mais um trabalhador no “mercado”, mas é, ou deveria ser, o de inserir na sociedade uma pessoa empática e preocupada com o coletivo. Queremos da universidade não apenas um espaço físico, mas também um auxílio para a abertura de um registro jurídico. O mesmo vale para os Centros Acadêmicos que cumprem um importante papel de auxiliar a organização dos estudantes, cada curso tendo o seu.

Essas são apenas algumas das pautas levantadas em conjunto pelo Movimento Estudantil e os demais discentes sobre como podemos melhorar nosso campus, pois é sobre isso que se trata nossas reivindicações. Não é “baderna” nem “ rebeldia”. É a vontade de ter um local onde possamos nos sentir seguros e acolhidos, uma vez que todas as exigências são de benefício coletivo tanto para estudantes, professores, funcionários, quanto para a própria instituição.

Vale destacar que a Unisagrado tem se mostrado aberta ao diálogo ao proporcionar uma conversa entre alunos e a reitora, a Prof.ª Dra. Irmã Vânia Cristina de Oliveira, para que pudéssemos apresentar nossas demandas. Agora cabe a nós, estudantes, nos organizarmos e construirmos uma universidade mais acolhedora e com o nosso rosto.

O propósito da nossa manifestação, portanto, foi mostrar que situações de abuso não são toleradas e não vão mais passar batido. Que a vítima tem apoio e não está só. E principalmente para mostrar que os estudantes estão de olho se a universidade irá comprir com sua palavra sobre as melhorias e os ajustes previamente discutidos.

Por fim, um agradecimento à solidariedade do coletivo Afronte Bauru (do PSOL), da União da Juventude Comunista, da Organização Anarquista Socialismo Libertário e do Centro Acadêmico de Psicologia da Unesp (Capsi), que marcaram presença no nosso ato, para apoiar o movimento estudantil da Unisagrado. 

 

Panfleto convida estudantes da Unisagrado para participar de ato que ocorreu em 19 de maio (Imagem: reprodução)
*Victória Castecki é estudante de Licenciatura em Letras e membro do Movimento Estudantil da Unisagrad.
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