“É a pressão dos empresários”, diz ativista sobre obras na Praça Portugal
Juíza da 1ª Vara da Fazenda Pública decidiu revogar liminar que paralisou obras no local; advogado que entrou com ação popular vai recorrer no Tribunal de Justiça de São Paulo
Publicado em 27 de setembro de 2021
Por Camila Araujo
“A juíza tomou essa decisão porque existe pressão dos grandes empresários para que a obra aconteça”, opina Tiago Camargo, professor de Geografia e ativista no Coletivo Ação Libertária (CAL), sobre a revogação da liminar que havia paralisado as obras do sistema viário no entorno da Praça Portugal, publicada nesta segunda-feira (27).
A decisão da juíza da 1ª Vara da Fazenda Pública Ana Lúcia Graça Lima Aiello, para Tiago, é um “absurdo”, embora fosse esperada por ele. “Não teria dado tempo de avaliar todos os erros do processo de autorização do projeto na praça”, argumenta o professor.
Ele diz ainda que “um projeto alternativo está sendo construído por biólogos e urbanistas e logo será apresentado para a sociedade”.
A nova decisão de Ana Lúcia Aiello foi publicada dez dias depois dela ter determinado a paralisação das obras do sistema viário no entorno da Praça Portugal, no dia 17 de setembro, em resposta a uma ação popular proposta por Edilson Marciano.
“Não cabe, neste momento processual, analisar o mérito do litígio, ressaltando que a legalidade, ou não, da obra será analisada ao final”, aponta a decisão, que afirma também se tratar de “questão da estética” da praça.
Edilson Marciano, autor da ação popular pela paralisação das obras, que também é advogado, afirma que vai recorrer da decisão e levá-la para 2ª instância, no Tribunal de Justiça do Estado de São Paulo, junto com a advogada Daniela Rodrigueiro, que cuida do caso. O objetivo deles, segundo o advogado, é garantir que as obras sejam interrompidas para discutir a legalidade do empreendimento, e saber se a intervenção deve ou não ser concluída, a fim de resguardar o “direito coletivo”.
“É possível reverter a situação”, conclui Edilson, afirmando que vai recorrer até o Supremo Tribunal Federal (STF) se for necessário. Ele também explica que a agilidade com que os recursos são avaliados depende da “quantidade de recurso financeiro para empregar nessa tentativa”, o que implica, argumenta Edilson, em um acesso desigual ao sistema judiciário, já que “para distribuir recursos” diretamente nas mãos de juízes e desembargadores “isso tem um custo”.
Atuando em “causa própria”, nos termos da advocacia, Edilson afirma que não tem vínculo formal com o movimento Levante Pelas Raízes, grupo que ocupou a praça por quatro dias em protesto. Mas diz que apoia a causa.
Para o professor Tiago, integrante do movimento, o “corpo jurídico vai tomar posições devidas para que a liminar não caia” e afirma que “está respaldado em lei porque existe uma série de agravos cometidos”.
Ele conta ainda que ficou “indignado” que o Ministério Público não tenha sido contra a continuação da obra e opina que “o MP era para estar em defesa do povo” e “se mostrou contra o povo de fato”.
A decisão inicial pela liminar de paralisar as obras contou com o apoio do promotor do Meio Ambiente Luiz Eduardo Sciuli de Castro em 16 de setembro. Dias mais tarde, ele se manifestou pelo prosseguimento das obras, como apontou a juíza na decisão desta segunda.
No documento, Aiello afirma também que “em relação ao meio ambiente, o documento de fls. 61 prevê a supressão de 51 (cinquenta e uma) árvores e plantio de outras 555 (quinhentas e cinquenta e cinco) para compensação, documento emitido pelo Secretário Municipal do Meio Ambiente, órgão técnico da Municipalidade em matéria ambiental, razão pela qual não cabe ao Judiciário emitir Juízo de valor”.
O ativista Tiago afirma que “a expressão que aquelas árvores tinham no microclima da região era expressiva e só se recupera em 60, 70 anos”, acrescentando que “o planeta pede socorro”, e que “a gente não sabe se tem esse tempo”.
“Não há mais como sustentar uma vida predadora com o meio-ambiente”, conclui.
Ainda nesta segunda-feira (27), a ONG Naturae Vitae registrou um boletim de ocorrência para apurar possíveis crimes contra o meio ambiente na intervenção da praça.
Em nota, a advogada Thais Viotto, membro do Conselho Municipal de Proteção e Defesa dos Animais (COMUPDA), explicou que os fatos que levam a constatação do crime seriam “a destruição da praça em si, das árvores, essenciais para a manutenção do ecossistema local, morada de muitos pássaros e outros animais”.