Deputado de Bauru, Capitão Augusto lança nome à presidência da Câmara
Em exclusividade para o Jornal Dois, o congressista detalha suas análises e estratégias para ganhar apoio das bancadas temáticas
Publicado em 19 de dezembro de 2020
Por Vitor Soares
O deputado federal Capitão Augusto (PL-SP) reafirmou na manhã desta sexta (18) sua candidatura à presidência da Câmara dos Deputados, nas eleições que ocorrem no dia 1° de fevereiro do próximo ano.
Eleito por Ourinhos com mais de 242 mil votos, Augusto mudou seu domicílio eleitoral para Bauru em 2019. O congressista afirma que conseguiu articular 80 apoiadores até o momento, junto a seus pares do Congresso Nacional. Ele acredita que quatro candidatos devem tentar a eleição e que o jogo está completamente aberto.
“Existe a possibilidade, ainda que remota, de eu conseguir ir para o segundo turno, lembrando que o voto é secreto e temos quase 300 novos deputados, ficando impossível prever qualquer resultado”, afirmou ele em nota à imprensa.
Capitão Augusto falou com exclusividade ao Jornal Dois e detalhou sua estratégia para conseguir vencer as eleições da Câmara. Autoproclamado de direita, ele é apoiador do presidente da República Jair Bolsonaro (sem partido) e defensor dos “valores da família” e da moral religiosa.
O principal adversário no primeiro turno
As eleições para as mesas diretoras do Congresso começaram a repercutir de forma mais declarada no início deste mês, quando o atual presidente da Câmara, Rodrigo Maia (DEM-RJ), acusou o presidente Bolsonaro de sabotar a pauta econômica para prejudicá-lo.
De lá para cá, em paralelo à decisão do Supremo Tribunal Federal (STF) de barrar a reeleição dos atuais presidentes da Câmara e do Senado, nomes começaram a surgir nos bastidores do Poder Legislativo.
Para Capitão Augusto seu maior adversário no primeiro turno, entre os cotados, é o deputado federal Aguinaldo Ribeiro (PP-PB), que deve ser apoiado por Rodrigo Maia. Segundo o deputado paulista, a expectativa geral é de que o candidato apoiado por Bolsonaro, Arthur Lira (PP-AL), não tenha problemas para ir ao segundo turno. Assim, qualquer candidato que pretenda continuar na disputa tem que vencer o candidato de Rodrigo Maia.
Essa projeção de Augusto e de outros deputados ocorre porque, para eles, há uma chance maior de derrubar o candidato de Maia no primeiro turno na comparação com a possibilidade de derrubar o candidato de Bolsonaro.
Somente num segundo turno, portanto, é que Capitão Augusto teria alguma chance de ganhar mais do que os 80 votos que projeta atualmente. Ele assume, porém, que precisa ganhar mais apoio até fevereiro se quiser ir ao segundo turno.
Nesse caminho, Aguinaldo Ribeiro passa a ser o alvo do candidato do PL na busca por mais votos.
“Rodrigo Maia deve optar pelo Aguinaldo Ribeiro porque o Senado deve eleger um parlamentar do MDB. Normalmente, quando isso ocorre, a Câmara elege outro partido para evitar monopólio”, apostou Augusto em sua entrevista para o J2.
A atual configuração tem como presidente do Senado Davi Alcolumbre e da Câmara dos Deputados, Rodrigo Maia, ambos do Democratas.
Bancada temática
Questionado sobre a forma de articulação que pretende utilizar, Augusto explicou que há poucos caminhos a serem percorridos numa “remota” chance de vitória. Segundo ele, os deputados que fecham voto fiel com seus partidos e a esquerda, sobretudo, são opções descartadas no primeiro momento.
“PT e outro partido de esquerda devem lançar candidaturas e os votos dessa parcela vão ficar aí mesmo. Acredito que essa parcela da Câmara tenha algo próximo a 100 votos, mas não tem chances de chegar ao segundo turno”, projetou o militar.
O principal caminho para Capitão Augusto é alcançar apoio das chamadas bancadas temáticas da Câmara. Segundo ele, haverá muita chance de apoio nas frentes parlamentares das áreas de segurança, contra a corrupção, defesa da Lava Jato, defesa cristã e da família.
“Acredito que as bancadas temáticas terão uma força grande nessas eleições, e, sendo assim, decidi manter minha candidatura até o final”, diz ele.
Apoio da esquerda no segundo turno
Apesar de não contar com o apoio da esquerda no primeiro turno, Capitão Augusto acredita que os partidos progressistas votariam nele numa eventual disputa com o candidato apoiado por Jair Bolsonaro.
“Pra esquerda essa é a eleição do ‘ruim’ e do ‘menos ruim’, e eles vão votar em qualquer candidato que esteja contra Arthur Lira no segundo turno”, afirmou Augusto. “De hoje até a eleição vou continuar buscando apoio pra chegar nesse segundo turno e conquistar apoio de grupos hoje pouco acessíveis”.
Na quinta, 16, o PT havia indicado que não iria votar em nenhum candidato aliado de Bolsonaro. Em seu Twitter, a presidente nacional do partido, deputada Gleisi Hoffmann (PT-PR), defendeu “construir alternativa de bloco em defesa da democracia e uma candidatura que represente e debata um programa e uma agenda para derrotar Bolsonaro e tirar o país da crise”.
Ontem, o Partido dos Trabalhadores fechou apoio ao bloco de Maia na disputa da presidência da Câmara contra o candidato de Bolsonaro, Lira. O bloco é formado por DEM, PT, PSL, PSB, PSDB, CIDADANIA, PDT, REDE, PCdoB, PV e MDB.
Projeções para o pleito
A eleição para a Mesa Diretora da Câmara está marcada pela rivalidade entre o centro, representado por Maia e pelo Democratas, e a direita, hoje concentrada no apoio de Bolsonaro a Arthur Lira.
Enquanto o atual presidente da Câmara cobra ações de Bolsonaro para viabilizar o cumprimento das metas fiscais, o presidente Bolsonaro rivaliza com João Doria (PSDB), governador de São Paulo, pelos ativos eleitorais decorrentes da aprovação da Coronavac, vacina contra a Covid-19 que está sendo produzida no Instituto Butantan. Ambos devem disputar a corrida ao Palácio do Planalto em 2022.
Bolsonaro, porém, antecipou nesta semana uma de suas estratégias para sair vitorioso nas eleições do Congresso. Ele demitiu o ministro do Turismo, Marcelo Álvaro, com a expectativa de negociar futuramente o cargo da pasta com deputados do “centrão” num acordo sobre as eleições da Câmara.
As cartas estão na mesa. Para quem corre por fora, como Capitão Augusto, resta pouco tempo, cerca de 40 dias, para negociar apoios.