Concentração de manifestantes e flamejar de bandeiras momentos antes do ato #elenão, na Praça Rui Barbosa (Foto: Bibiana Garrido/JORNAL DOIS)

Por Raphael Será


Sábado (29), no sol do fim de setembro a cidade irradia diferente. Dentes, pernas e bandeiras evidenciam um cenário decisivo: as eleições de 2018. Tem gente de todas as cores: verde e amarelo, vermelho, azul… propaganda eleitoral nas ruas.

“Pelo menos o chão não está todo sujo de santinhos”, pensei.

Próximo ao meio dia, o calçadão que é sempre comércio, está tomado por manifestações políticas, O McDonald’s está cheio de clientes e, perto deles, jovens militantes do Greenpeace alertam sobre o consumo desenfreado, os “hippies” artistas de rua agora dividem atenção com todo tipo de gente.

Ali do lado, na Praça Rui Barbosa, estão os cidadãos mais reclusos. Fumantes, jogadores de truco e cantores de rua criam um cenário cheio de sentidos. Outros, pensativos, direcionam o olhar ao nada. O que será que pensam? Ana Paula, de 39 anos, pensa que Jair Bolsonaro é a melhor opção. Em Bauru, ela afirma conhecer e votar em Edu Avallone. Diz que a prisão de Lula é incoerente e que a Lava Jato é parcial. Fato é que dali algumas horas começaria a manifestação #elenão contra o candidato de Ana Paula, e, talvez por isso, suas respostas tenham me parecido um pouco tímidas.

Já Gabriela, de 29, pensa em votar no Haddad, porém tem medo de que ele seja apenas um “fantoche” do ex-presidente. Ela diz que não acredita em Lula e que, provavelmente, vai acabar votando nulo. “Tenho o título a 10 anos e só votei uma vez, acho que não deveria ser obrigatório o voto”, avalia. Felipe Sales, de 20 anos, é rapper independente da cidade e concorda com Gabriela: “Voto deveria ser direito, não dever.”

O cenário bauruense deixa a entender que grande parte da população está mobilizada. Tem gente de Duartina, Lençóis e Marília (como sempre), só que dessa vez uma desconfiança paira no ar. Poucos querem ser parados para ouvir falar sobre propostas políticas. Creio que algumas pessoas podem ter me confundido com menino de campanha eleitoral, porque o “não” que recebi antes mesmo de terminar o convite para a entrevista foi curto e grosso.

Deve ter muita gente que tá mais preocupada em fazer dinheiro do que com o rumo das eleições, tem muita gente desacreditada também, não é culpa das pessoas. Está cada vez mais consolidada no senso comum a ideia de que política é sinônimo de corrupção.

Quem estava no Calçadão de manhã e desceu para a Praça pode ver campanhas de diferentes partidos se unirem na oposição a Jair Bolsonaro; o debate político por aqui, e no Brasil todo, tem muito mais que respostas prontas de apenas dois lados (Foto: Bibiana Garrido/JORNAL DOIS)

Um sábado animado e estampado na cara de quem passeava no centro da cidade. Entrar no movimento do calçadão não era a única coisa a fazer, também tinha eventos mais acima: o ITE Games, na Instituição Toledo de Ensino. Lá, nerds e otakus faziam um rolê mais suave. O ex-prefeito Rodrigo Agostinho estava lá, e foi lembrado pelas pessoas que conversei como possibilidade de voto. Preferiu ficar nos games enquanto outros candidatos acharam mais icônico estar no ato da Rui Barbosa. Curioso.

Dos candidatos bauruenses à deputado estadual, Irineu Nje’a também foi citado como escolha para representar a região. Ele é presidente da Araci Cultura Indígena e tem propostas visando o auxílio da cultivação de terras indígenas.

Sidnei, de 43 anos, diz que os políticos falam aquilo que o povo quer ouvir, e não consegue acreditar na real mudança por seja lá quem for eleito. O eleitor, assim como todos os entrevistados naquela manhã, pensa que o atual modelo democrático deve ser reformulado.

Independentemente de quem for eleito para presidente, talvez as mudanças que afetam diretamente a cidade de Bauru venham a partir dos candidatos daqui, e esperamos também, que do povo.