Imóvel abrigou o 1º Distrito Policial até 2013, quando foi desativado. Em 2015 a construção foi cedido à prefeitura, mas desde então, nenhuma manutenção foi feita. (Foto: Patrícia Domingos/ JORNAL DOIS)

Por Maria Esther, Ana Carolina Moraes e Patrícia Domingos


H á cinco anos, o prédio do 1º Distrito Policial (DP) está abandonado. Localizado na avenida Comendador Daniel Pacífico, na Vila Falcão, o local foi ocupado por dependentes químicos e moradores de rua.

Em 2015, por decreto do governador do Estado, o antigo DP passou para as mãos da Prefeitura de Bauru e a ideia era instalar naquele espaço o Núcleo de Atendimento Integrado (NAI), como explica Ricardo Martines, delegado da Divisão Seccional da cidade. O núcleo serviria para atender jovens que cometem infrações e pretendia juntar em um só espaço os serviços do Judiciário, Ministério Público, Defensoria e Segurança Pública. “Enquanto tava na responsabilidade da Polícia Civil, tinha guarda. Não foi feito nada até agora”, avalia o delegado.

A equipe do JORNAL DOIS foi até o prédio no período da manhã, na última quarta-feira (21). Havia alguma movimentação e cerca de seis pessoas entraram e saíram do antigo DP em um intervalo de 15 minutos, passando por uma cerca de arame que foi cortada.

“A gente vive trancado, não senta na frente [de casa]. A gente é prisioneiro”, comenta uma moradora do bairro que preferiu não se identificar. Encostada no portão, ela diz que o número de assaltos subiu, principalmente nas residências próximas ao prédio abandonado: “colocaram cercas, mas entraram do mesmo jeito”.

Arredores

A Vila Falcão foi o primeiro bairro da cidade e sua história está ligada com a linha férrea que está há duas quadras do antigo DP. O trajeto que corta Bauru virou ponto de tráfico de drogas e esconderijo, pela facilidade de acessar diversos locais da cidade e também devido ao abandono da ferrovia. “Antes a gente conhecia as pessoas da linha férrea, tava acostumada com elas, mas agora é diferente e já faz um tempo isso aí”, conta a moradora do bairro.

Outra questão é a favela São Manuel. Ao atravessar os trilhos, é possível ver a região que está associada ao tráfico de drogas. Essa situação fez com que a Polícia Militar buscasse parcerias com a prefeitura e entidades sociais para montar uma campana, com o objetivo de atender a população e combater o tráfico.

Mesmo com portas soldadas, pessoas entram no local por uma abertura no alambrado e pelas janelas. (Foto: Patrícia Domingos/ JORNAL DOIS)

Novo projeto

Quando foi planejada a instalação do NAI, a prefeitura tinha verba. Hoje, a Secretaria do Bem-Estar Social (Sebes) não tem condições de bancar a continuidade do projeto. É o que explica José Carlos: “Eu tenho que manter os serviços de assistência social que estão contratados e um projeto desse tipo precisa de investimento.”

Para o secretário, o ideal agora é dar uma finalidade diferente para o prédio. “Se eu conseguir colocar outro projeto, posso até reformar o prédio, conseguir recurso. Se for o NAI, vai ser recurso da gestão, que hoje eu não tenho”. Uma saída apontada por ele seria destinar o local para entidades bauruenses, a partir de uma parceria.

“O que a gente lamenta que isso hoje vai ter um custo de mais de 300 mil reais pra restabelecer o prédio, mesmo que fosse entregar pro Estado. Com essa depreciação dificilmente vou ter um investimento, a não ser mudar a destinação” — José Carlos Augusto, secretário da Sebes

E qual seria o futuro dos ocupantes?

“A Sebes foi até o prédio no final do ano passado e também já fez outras abordagens no local. Na tentativa, as pessoas estavam sob efeito de drogas e foi difícil o diálogo”. É o que conta Vanessa Nogueira Develso Neves, diretora da Divisão de Proteção Social da Sebes. O trabalho faz parte do serviço de Abordagem Especial que funciona diariamente, em período diurno e noturno, em parceria com a Casa do Garoto.

Nessa abordagem, os técnicos da SEBES e os profissionais da saúde tentam criar um vínculo com o morador de rua ou dependente e não há internação forçada. “É importante o primeiro contato, criar confiança, conhecer a história dele, se tem família. Muitas vezes é de outro município, acaba sendo abordado pela gente e vemos uma forma de voltar, articulando com o município de lá. Nessa condição, é mais difícil porque tem um vínculo bem fragilizado com a família ou até rompido”, explica Fátima Cristina de Oliveira Monari, diretora do Departamento de Proteção.

De acordo com a diretora, em Bauru existem cerca de 140 pessoas em situação de rua e dependência química, a maioria do sexo masculino. A referência é o Centro Pop, órgão da Sebes que acolhe essas pessoas, seja em busca de informação, tratamento, alimentação ou recursos de higiene pessoal. Fátima conta que 55 pessoas passam por lá todo dia. “Ao todo, são seis serviços que atendem essa população em convênio com as casas de passagem. São elas a Comunidade Bom Pastor, Esquadrão da Vida e o Centro Espírita Amor e Caridade (CEAC)”.

Todos os serviços conveniados que atendem dependentes químicos na cidade contam com a voluntariedade do paciente. Caso contrário, a internação pode acontecer por mandado judicial. O Esquadrão da Vida atende somente homens, maiores de 30 anos, encaminhados dos serviços de atendimento à população da Sebes. Já a Comunidade Bom Pastor oferece tratamento para homens e mulheres inscritos no Centro de Atenção Psicossocial de Álcool e outras Drogas (CAPS AD). As duas opções de reabilitação ficam fora do perímetro urbano da cidade e o tratamento oferecido tem influências religiosas das instituições mantenedoras.

Além desses serviços, a secretaria conta ainda com mais dois CAPS AD — um na rua Rua Dr. Lisboa Júnior, 2–66, no centro e outro na rua Azarias Leite, 13–28, no Jardim Estoril. Os centros são ferramentas de cuidado e atenção aos usuários de álcool, crack e outras drogas. Os atendimentos inclui a passagem por uma equipe de profissionais da saúde e para pessoas em situação de vulnerabilidade social, como assistentes sociais, terapeutas ocupacionais e psicólogos. Há também a acolhida em leitos de desintoxicação.