Semana do Hip Hop Bauru completaria 10 anos em 2020
Edição histórica estava programada para marcar a primeira década do evento; “Cidade do Hip Hop” reuniria, em um só lugar, acampamento, shows, debates e oficinas
Publicado em 23 de novembro de 2020
Por Bibiana Garrido
Quatro dias de festival em um só lugar com espaço para acampamento, shows, área de alimentação, palestras, debates e oficinas. Fosse este um ano sem coronavírus, mês de novembro de um 2020 paralelo, estaríamos vivendo a “Cidade do Hip Hop”: uma edição especial para comemorar os dez anos da Semana do Hip Hop Bauru.
Tida como o maior festival gratuito da cultura hip hop da América Latina, a Semana do Hip Hop Bauru surgiu 2011 com a criação do Ponto de Cultura Acesso Hip Hop. Desde então o evento traz grandes nomes do rap para os palcos e ruas bauruenses, colocando também em evidência artistas locais e regionais dos elementos: MC, DJ, Break, Grafitti e Conhecimento.
Por conta da pandemia da covid-19 a “Cidade do Hip Hop” foi adiada e a organização aguarda orientações da saúde para realizar o evento quando for seguro para todas as pessoas.
Relembre a história da Semana do Hip Hop Bauru e saiba que pode rolar mais para frente na entrevista do J2 com Renato Magú, um dos idealizadores e coordenadores do projeto:
Jornal Dois: Como começou a história da Semana do Hip Hop em Bauru?
Renato Magú: Começou em 2011, com a criação do Ponto de Cultura Acesso Hip Hop. O volume de ações aumentou muito e decidimos concentrar, em uma semana, tudo que fazíamos o ano inteiro, para dar mais visibilidade e ter mais apoio pra essas ações. No primeiro ano o tema da Semana H2 era “Vozes da periferia”, e a realização foi apoiada pela extinta Oficina Cultural Glauco Pinto de Moraes. Eu, Sérgio Campos (Comics Crew) e B.Boy Major nos dividimos e criamos um calendário de oficinas, debates e palestras espalhadas pela cidade. A Oficina Cultural apoiou com o show de encerramento com o grupo SNJ.
J2: Quando e de que forma ela se tornou mais reconhecida de maneira “oficial” na cidade, com a lei e apoio público? Qual foi a importância disso pra cultura?
Magú: No segundo ano a Semana H2 já foi ampliada devido ao sucesso da primeira. Também contou com apoio da Oficina Cultural e a Secretaria Municipal de Cultura deu um suporte, liberando alguns espaços. Era 2012 e fizemos uma atividade chamada “O Hip Hop que queremos”, na qual tiramos que queríamos ter apoio do poder público para nossas ações, e que pra isso, escreveríamos uma lei de iniciativa popular pra Semana H2 se tornar parte integrante do calendário oficial de eventos da cidade, colocando na lei, inclusive, que o poder público municipal arcasse com a estrutura do evento. Depois de muita articulação, no dia 13 de maio de 2013, a lei que estabelece a Semana do Hip Hop como um evento oficial da cidade foi aprovada por unanimidade na Câmara Municipal, marcando, assim, um novo período para o evento. No ano de 2012 também iniciamos as conversas sobre o que, no futuro, se tornaria a Casa do Hip Hop Bauru.
A importância disso foi grande, já que a partir desse processo, o Hip Hop passou a “ser levado a sério” pela população. Não éramos mais os moleques da periferia que mendigavam caixa de som. A cultura periférica começou a ser vista com outros olhos. Todos conheceram de perto nosso poder de mobilização, e assim, já não tinha mais volta, ou apoiavam, ou apoiavam. Todo mundo ganhou com isso, desde os artistas, até os militantes de produtores. Além da própria população que passou a ter mais oportunidades de conhecer as ações do Hip Hop na cidade.
J2: Pra você, como organizador e integrante da cultura hip hop, quais foram os momentos mais marcantes vividos dentro da semana?
Magú: Pra mim a primeira edição marcou porque era o início desse sonho, e conseguir foi um momento de êxtase. A aprovação da lei também foi um momento mágico, pois foram meses de reuniões, articulações, brigas, o que culminou na ocupação da Câmara Municipal pela militância do Hip Hop no dia da votação da lei. Já em 2013, colocamos 15 mil pessoas no Vitória Régia, segundo a contagem da Polícia Militar, e aquilo foi um marco também, pois ninguém acreditava que a Semana H2 poderia ser maior que a Virada Cultural, por exemplo. Todos os momentos que vivemos na Semana H2 são marcantes, pois cada um tem sua singularidade. Ver artistas consagrados discutindo produção cultural independente na grama do Vitória Régia é sensacional. Ver o GOG sentado no escadão conversando com a galera por mais de duas horas, de maneira informal, é muito marcante. O desfile de moda “Favela Fashion Zic”, foi uma atividade foda também, porque trouxe toda nossa beleza pra dentro do evento.
Mas, pra mim, o que mais marca é o Combo dos 5 elementos, que é o genuíno Hip Hop, nossa raiz. É dali que se forma a base e renova a cultura. O Combo mantém nossa militância viva e oxigenada.
J2: Em 2020 o evento completaria 10 anos. Antes de saber da pandemia, como a organização planejava a Semana este ano?
Magú: 2020 foi um ano atípico. Tínhamos grandes expectativas pro evento esse ano. Faríamos a “Cidade do Hip Hop”, onde concentraríamos quatro dias do evento em um só lugar, com acampamento, área de alimentação, shows, palestras, debates, oficinas. Planejamos uma super estrutura, conseguimos parcerias, emenda parlamentar, estava tudo certo. Mas, infelizmente, fomos surpreendidos com a pandemia, o que fez com que cancelássemos tudo.
J2: Como foi tomar a decisão de não fazer nenhum evento neste ano, e como o público reagiu?
Magú: Não foi uma decisão difícil, porque é muito claro, pra nós, que a vida é mais importante que qualquer evento. O público entendeu, pipocaram homenagens ao evento nas redes, e todos estão muito esperançosos pra um 2021 muito melhor. Pensamos em fazer algo online, em forma de lives, mas por conta de bater com o processo eleitoral, avaliamos que o evento poderia ser utilizado eleitoralmente, então decidimos não fazer.
J2: Nesses casos, para onde é destinada a verba que seria da realização?
Magú: Em março, logo quando os decretos começaram a sair por conta da pandemia, já sabíamos que a prefeitura não daria o aporte financeiro, pois a Secretaria de Cultura foi a mais afetada com os cortes. A Semana não tem uma verba carimbada, tudo sempre depende da situação financeira da prefeitura, ou da boa vontade do secretário de Cultura em destinar esses recursos. Vale lembrar que nenhum centavo de dinheiro público passa pela mão da organização do evento. Cabe a nós a curadoria, as indicações, a produção e organização, mas todos os contratos e pagamentos são feitos na sua totalidade entre fornecedores e prefeitura, não havendo assim envolvimento financeiro entre nós e a prefeitura.
J2: A comemoração da década ficará para o ano que vem? Há algum plano ou informação que poderia ser antecipada sobre o que vai rolar?
Magú: Não sabemos como estará a pandemia ano que vem, então vamos aguardar o que profissionais de saúde vão orientar, juntamente com os decretos de isolamento.
A comemoração de décima edição será a maior de todas. A Cidade do Hip Hop irá acontecer e será um marco pro movimento no Brasil.