Mais de 80 mil: abstenções em Bauru cresceram 39% desde 2016
82 mil bauruenses não votaram e cerca de 25 mil apertaram branco ou nulo nas eleições do dia 15 de novembro
Publicado em 19 de novembro de 2020
Por Bibiana Garrido
Seja pela descrença na política institucional, pelo sentimento da falta de representatividade, ou ambos, 82.473 bauruenses não compareceram às urnas no domingo (15) para eleger o próximo prefeito ou prefeita da cidade e sua Câmara de Vereadores. O número representa um aumento de 39% nas abstenções desde as últimas Eleições Municipais em 2016. Na ocasião, pouco mais de 59,3 mil pessoas se abstiveram.
A esse dado, somados os 25 mil eleitores e eleitoras bauruenses que votaram nulo ou branco em 2020, temos 108.274 pessoas no município que não quiseram exercer o direito de escolha que se apresenta, no regime democrático, de quatro em quatro anos.
Mesmo antes do primeiro turno era esperado que o nível de abstenções fosse maior neste ano por conta da pandemia da covid-19. No Brasil inteiro, o não comparecimento nas Eleições Municipais bateu recorde dos últimos 20 anos: mais de 34 milhões de pessoas não votaram, o que dá mais ou menos 23% da população do país.
Quem não vota
Os últimos dados disponíveis para traçar um perfil de quem deixa de votar nas eleições em Bauru são do pleito de 2016. A faixa etária de 30 a 34 anos é a campeã em abstenções na cidade, seguida pelas pessoas de 25 a 29 anos.
É gente solteira e que tem o ensino médio completo.
Prefeito sim, vereador não
Há ainda que se mencionar que os votos brancos e nulos para vereador e vereadora em Bauru foram mais numerosos do que aqueles para escolher prefeito ou prefeita.
A eleição do Executivo, com 14 nomes concorrendo, recebeu 10,6 mil votos brancos e 15,2 mil votos nulos. No Legislativo, com 456 candidaturas para as 17 vagas da Câmara Municipal, foram mais de 16,2 mil bancos e 14,4 mil nulos.
E por que não vota?
Mesmo considerando que o fator coronavírus possa ter influenciado as pessoas a ficarem em casa, o cientista político Maximiliano Vicente avalia a existência de uma “descrença generalizada na política”, que contribuiria para o desinteresse no voto e no processo eleitoral como um todo.
“Acho que já cansou, né? Esse modelo que nós temos só nos coloca em evidência no dia da votação, ou seja, a cada dois anos você vota… e pronto. Se isola a Câmara, se isola o Governo, e as pessoas ficam com muita dificuldade de acompanhar o que fazem depois que foram eleitos”.
Maximiliano relaciona a descrença da população à falta de uma educação política para que cidadãos e cidadãs possam “entender, na prática, que a política tem reflexos no cotidiano”, com a tomada de decisões sobre políticas e serviços públicos como a educação, saúde, transporte, água e esgoto.
“Enquanto a norma do jogo for a democracia, ou você participa ou você fica de fora. A consciência política, acima de tudo, é exercer o papel de cidadão: eu faço parte do município, eu decido e participo da vida do município”, completa ele.
Outro ponto para entender abstenções questiona se as pessoas, de fato, se sentem representadas pelos candidatos e candidatas disponíveis. Quem faz essa reflexão é Rafaela Jacques, integrante da Organização Anarquista Socialismo Libertário (OASL).
“A análise que a gente faz é de uma crise no sistema político eleitoral, porque a população não está se sentindo representada nem com o campo da direita, nem com o campo da esquerda. Essa disputa eleitoral não é eficaz e vai sempre atender a demanda da burguesia”, diz ela.
Para ilustrar o que seria a dita crise do modelo eleitoral, Rafaela faz uma comparação com o contexto da capital São Paulo em que Guilherme Boulos (PSOL), candidato da esquerda, aparece bem colocado na disputa do segundo turno com Bruno Covas (PSDB).
“Chance dele ganhar é altíssima e existem propostas legais”, reconhece a militante. “Mas, como ele vai executar ou aprovar essas propostas? Sendo que a gente vive no capitalismo e quem manda é o capital. Então, pra um partido de esquerda poder atuar, vai precisar fazer parceria com a burguesia ou será boicotado por essa mesma burguesia”.
Dá pra ser de outro jeito?
No ponto de vista anarquista é necessária a superação dos moldes atuais a partir da construção de movimentos de poder popular via Federalismo, sistema que funciona “de baixo para cima”, nas palavras de Rafaela.
Para Max, a estrutura atual dificulta a renovação política: com o repasse do fundo partidário, são as próprias siglas que definem como será a distribribuição da verba de campanha. “Os partidos investem naquele que pode dar mais resultado, e os caciques políticos tradicionais, que estão mais na mídia, que vêm de eleição anterior, concentraram todo o poder econômico”.
O cientista político argumenta que, talvez, o xis da questão esteja em tentar limitar os partidos políticos dentro do sistema constitucional vigente. “Se no Congresso a gente tem mais de 20 partidos, duvido que existam 20 ideologias diferentes ali pra justificar isso. Então, acabam virando empresas e negócios, não um partido no sentido prático do termo”, completa ele