A polarização de 2018 nas Eleições Municipais em Bauru
Pelo menos cinco prefeitáveis apresentam discursos e propostas bolsonaristas; quatro deles, mais a esquerda petista, estão na disputa das primeiras colocações
Publicado em 13 de agosto de 2020
Por Camila Araujo
Em 2018 Bauru teve votação expressiva para eleger Jair Bolsonaro presidente do Brasil. À época, o político estava no PSL, e hoje, já há um ano, é sem partido. Quase 134 mil bauruenses escolheram dar uma chance ao militar da reserva: foram 72% dos votos no 2° turno contra Fernando Haddad, do PT.
Nas Eleições Municipais 2020 Bolsonaro ainda não apoiou formalmente nenhum candidato ou candidata à prefeitura na cidade. Apesar disso, diversas siglas transitam e tentam se colar ao bolsonarismo.
Além do candidato Luiz Carlos Valle, do Podemos, que apresenta sua afinidade com Jair na propaganda eleitoral, os três candidatos de direita que estão à frente na última pesquisa de intenção de voto também se alinham ao discurso.
Bolsonarismo ronda Bauru
Na convenção do PSDB em setembro, que confirmou o nome do prefeito Clodoaldo Gazzetta para disputar a reeleição, estiveram presentes aliados políticos que compõem a coligação “Bauru pronta para avançar” – PTB, PL, PCdoB.
Entre eles estava Capitão Augusto (PL), que no mesmo dia declarou apoio ao tucano, enfatizando sua confiança na integridade da chapa. O deputado federal mencionou ainda sua participação na Frente Parlamentar de Segurança Pública, levantando a bandeira do combate à corrupção.
O que ele talvez não imaginasse naquele momento era que Gazzetta logo seria investigado na Comissão Processante da Câmara Municipal, aberta no dia 3/11, por possível envolvimento no Caso Cohab – escândalo de corrupção envolvendo saques milionários de dinheiro da Companhia de Habitação Popular de Bauru.
Capitão Augusto chegou a publicar um vídeo em suas mídias sociais, no qual afirmava o apoio de Bolsonaro a Gazzetta. A postagem foi deletada em seguida.
Também na investigação da Câmara constam os nomes dos candidatos: Sandro Bussola (PSD), vereador e candidato a prefeito, e Fábio Manfrinato (PP), vereador licenciado e candidato a vice-prefeito, na chapa do candidato a prefeito Raul Gonçalves (DEM).
Partido aliado de Bolsonaro, o DEM formou a coligação “Mudança com a Verdade” para disputar as Eleições em Bauru, composta pelo PP, PSL, PRTB, MDB e Cidadania. Primeiro lugar nas pesquisas, Raul fazia parte do PSL até julho de 2019, quando o partido ficou temporariamente inativo na cidade. Foi para o DEM, mas a aliança com a sigla que elegeu os Bolsonaro segue na coligação majoritária. O prefeitável da coligação foi apoiado pelo senador Major Olímpio (PSL), mesmo quando este soube da mudança de partido.
Raul esteve nas manchetes da cidade no mês de setembro, quando houve o vazamento de um áudio de um candidato a vereador pela sigla, pressionando servidora pública a apoiar a chapa: “Se o Raul entrar e o Gazzetta sair, ela vai perder a função dela”.
Embora tenha criticado o governo atual pelo Caso Cohab, alegando que a gestão municipal sabia dos desvios de dinheiro, Raul também tem sido alvo de críticas por ter se descolado da imagem de seu vice-prefeito nas propagandas eleitorais, já que Manfrinato teve seu nome envolvido no caso.
Na segunda posição das pesquisas sem considerar a margem de erro, Suéllen Rosim é jornalista e candidata à prefeita pelo Patriota. O partido traz o mesmo tema que foi slogan de Bolsonaro em 2018: “Brasil acima de todos. Deus acima de tudo”.
A sigla tem bom trânsito no Congresso com aliados de Bolsonaro. Em setembro de 2019 o fundador do Patriota declarou a Jair Bolsonaro que o partido estava de portas abertas para recebê-lo. Isso porque já havia rumores de que Bolsonaro sairia do PSL, algo que ocorreu no mês posterior.
Intenção de voto: direita x esquerda
A última pesquisa de intenção de voto em Bauru, encomendada pela 94FM à Colectta Consultoria em Estatística e Dados, mostrou o seguinte panorama: na frente da disputa está o candidato do DEM Raul Gonçalves de Paula, com 35,9%. Na sequência, Suéllen Rosim, do Patriota, com 14,1%, Clodoaldo Gazzetta, do PSDB, e Jorge Moura, do PT, ambos com 7,1%.
Se considerada a margem de erro da pesquisa, que é de quatro pontos percentuais para mais ou para menos, Raul lidera, podendo disputar o segundo turno com Suéllen, Gazzetta ou Jorge.
A corrida eleitoral para a Prefeitura de Bauru começou com 14 candidatos – sendo que um deles, do PTC, teve o registro indeferido. É um aumento expressivo em relação às Eleições Municipais de 2016: naquele ano foram seis candidaturas, sendo que uma delas também foi indeferida.
Como o J2 explicou em reportagem sobre os candidatos e candidatas à prefeitura, esse aumento era já esperado pelo Tribunal Superior Eleitoral (TSE). Uma vez que, com o fim das coligações proporcionais para cargos de vereador e vereadora, mais siglas resolveram lançar suas próprias candidaturas ao Executivo. Ter um nome para prefeito geralmente impulsiona os votos à vereança do partido ou coligação, conhecido como “puxa-votos”.
Espectro político
Para Otávio Barduzzi, advogado e cientista político, o apoio bolsonarista pulverizado em diversas candidaturas bauruenses “faz parte do jogo”.
Mesmo que os candidatos e candidatas informalmente apoiados sejam concorrentes entre si, para Otávio, isso tem uma intenção: “É para não pôr todos os ovos numa cesta só”. Essa expressão, no contexto do mercado financeiro, significa não colocar todo o dinheiro em apenas um tipo de investimento. De tal modo que seja possível colher os frutos desse apoio ambíguo independente de quem seja eleito.
Dos prefeitáveis em Bauru, nove fazem parte do espectro político da direita e quatro estão à esquerda.
Segundo o cientista essa fragmentação pode dar espaço à lideranças carismáticas e oportunistas, a quem ele chama de “aventureiros”. Tais figuras saberiam mobilizar pautas capazes de ganhar apoio popular – tais como a questão da água e do tratamento de esgoto.
Ainda que a fragmentação exista dos dois lados do espectro, Otávio avalia que a falta de consenso prejudica mais a esquerda, pelo campo estar em “descrédito perante ao discurso midiático anti-esquerda que se pintou no Brasil nos últimos anos”. De acordo com o cientista político, a saída seria, então, a união.
Outro ponto que chama atenção a Barduzzi é o fato de que a esquerda teria se afastado do contato com o povo. Para ele, seria preciso voltar a travar esse diálogo, para mostrar alternativas ao discurso “pintado de moderado, mas que, na verdade, é de direita”.
Durante a campanha eleitoral se tornou comum ouvir candidatos dizendo que são excelentes gestores de negócios particulares, e que, por isso seriam excelentes gestores públicos. Otávio pontua que esse raciocínio pode gerar confusão na população, no eleitorado: “Existe uma grande diferença entre as gestões públicas e privadas, sendo que a segunda serve ao lucro, e a primeira, à função social de servir a população”.
Quando perguntado sobre otimismo em relação as eleições, o cientista político responde que espera uma renovação na Câmara dos Vereadores: “Pelo menos, que mais da metade da legislatura atual saia”. A ressalva é de que, embora os personagens possam mudar, é provável que parte dos discursos se mantenham.