Quem matou Christian? Detalhes que a mídia não contou
Funcionário concursado e morador da periferia de Bauru foi encontrado morto no início de agosto; investigação policial segue sem resultados
Publicado em 23 de agosto de 2018
Por Bibiana Garrido e Lucas Mendes
“Não precisava ter feito isso” era a conversa que rodava o bairro Colina Verde na sexta de manhã, dia 3 de agosto, semana do aniversário de Bauru. Christian Luis Bastos de Assis foi achado morto debaixo de um viaduto na Rodovia Marechal Rondon, próximo ao local onde morava.
Pai de dois filhos, um adolescente, outro já na faculdade, Christian morava no Colina Verde, junto da esposa Glauciene da Silva Pessôa. Era funcionário concursado dos Correios há 18 anos.
Traumatismo crânio encefálico é o termo que consta na certidão de óbito como a causa da morte. A única lesão aparente, segundo conta a família, é uma espécie de afundamento na testa, “da espessura de um dedo, mais ou menos”.
O corpo, meio escondido entre folhas e terra, foi encontrado na canaleta de alça de acesso da rodovia por policiais militares, acionados via COPOM, a Central de Operações da Polícia Militar.
As férias do trabalho estavam oficialmente marcadas para o dia 2 de agosto, mas o feriado do dia 1° antecipou a folga. Alessandro Marcos Bastos de Assis é irmão de Christian e conta que aproveitaram a festividade bauruense para jogar bola na Hípica. Mais tarde, naquele mesmo dia, Christian teve uma discussão com Glauciene e saiu de casa para dar uma volta.
Foi só na sexta-feira, dois dias depois, que a esposa ficou sabendo da morte do marido. Desde quarta não tinha visto, nem falado com Christian.
Glauciene descia do apartamento do casal no Residencial Mirante da Colina para passear com a cachorra, quando um rapaz da manutenção do condomínio se aproximou. “Ele perguntou se o Christian tava em casa, eu falei que não. Aí ele perguntou se ele tava trabalhando, eu disse que não, era o primeiro dia de férias dele”.
“Eu falei ‘Mas por quê? O que tá acontecendo?’, e ele falou assim ‘Então se ele não tá na sua casa e não tá trabalhando, acho que é ele que tá morto ali no fundo’.
Eu nem acreditei”.
Relatos da família traçam os passos de Christian desde a noite de quarta, quando saiu de casa, até o anoitecer do dia seguinte. Na quinta de manhã, foi visto em uma quitanda próxima ao condomínio onde morava e em um banco no centro da cidade. Na parte da tarde, de volta ao bairro Colina Verde, Christian estava no bar jogando sinuca. Depois que ele foi embora, não souberam mais seu paradeiro.
O caso foi parar na Delegacia de Investigações Gerais da Polícia Civil de Bauru. Em um primeiro momento, foi considerada a possibilidade de homicídio, descartada pela falta de indícios. A ocorrência seguiu para o Cartório Central e, até o encerramento desta reportagem, é lá que se encontra na espera da transferência para o Cartório Criminal Comum.
“No dia que eu tava correndo atrás das coisas, fui pegar a documentação dele na Delegacia da Azarias Leite. Eles me deram e começaram a fazer perguntas, só que até aí eu não sabia que ia sair no jornal. Não falaram nada, né?”, conta Alessandro sobre a repercussão na mídia tradicional da cidade. “Falaram que eu falei que ele era usuário de droga, colocaram coisas que eu não autorizei e ficou pior. Colocaram como assassinato até, nesse dia”.
Se não considerado homicídio, a hipótese levantada pelos familiares e pela polícia é de que ele teria caído do viaduto e batido a cabeça. “Vamos supor que ele caiu, tinha que ter machucado. Não tinha roxo no corpo, não tinha arranhão, nada”, argumenta Marta Moreira Pessôa, sogra de Christian. “A única coisa era o corte da autópsia e aquele afundado na testa”.
“A gente sempre foi pobre, né? Mas desde a infância sempre teve uma tratativa assim, com relação à polícia, sem ter muita tolerância. E meu irmão sempre bateu de frente”, relata Alessandro, irmão da vítima.
Christian tem dois históricos com a Polícia Militar por desacato à autoridade. Glauciene relembra os episódios: em um sábado, estavam andando no Calçadão da Batista e uma viatura policial passou bem perto da família. Christian pediu mais espaço para os policiais, a partir daí começou uma discussão que terminou em ocorrência. Em outra ocasião, com uniforme dos Correios foi seguido no supermercado por um segurança que era também policial, questionou, deu B.O, e teve que pagar serviço comunitário.
“Ele era trabalhador e a televisão não falou isso”, defende a sogra. “Então é hora da polícia trabalhar, né?”. A equipe do JORNAL DOIS segue acompanhando a investigação.