Entenda a pandemia do coronavírus para não cair em fake news
No Brasil, o número de infectados cresce rápido e faz as suas primeiras vítimas fatais. Na região de Bauru, nenhum caso foi confirmado
Publicado em 20 de março de 2020
Por Daiane Tadeu
Em apenas três meses, o Covid-19, encontrado na China, deixou de ser um vírus desconhecido e se espalhou por 183 países, causando infecções respiratórias que podem ser leves ou agudas. Com mais de 200 mil pessoas diagnosticadas, a doença se transformou em uma pandemia, preocupando autoridades e populações do mundo todo.
Ao mesmo tempo em que o medo do desconhecido cresce, a desinformação e as notícias falsas tomam conta das redes sociais e do Whatsapp. Entre as muitas teorias da conspiração sobre seu surgimento e receitas caseiras para a cura, informações essenciais para a prevenção se perdem.
Abaixo, o Jornal Dois explica o que sabemos até agora sobre o corona e em quais fake news você não deve acreditar.
É só uma gripe?
A mais complexa pesquisa realizada até agora sobre o vírus, feita pelo Centro Chinês de Controle e Prevenção de Doenças (CCPD), em 17 de fevereiro, aponta que em 81% dos casos os pacientes apresentaram infecções leves. No entanto, quando comparado a uma gripe comum, o Covid-19 se mostra mais contagioso e fatal.
Uma pessoa com gripe infecta, em média, 1,3 pessoas, enquanto o portador do corona transmite a doença para 3. A taxa de mortalidade da gripe comum é de 0,1%, já a do corona gira em torno de 0,7% na maior parte do mundo, chegando a 3,98% na china, 5,69% no Irã e mais de 8,5% na Itália, país com maior número de mortos.
Quando pensamos no número de internações, de acordo com os dados do centro de pesquisa chinês, a cada 100 infectados, 21 precisaram desse tipo de atendimento hospitalar e 5 atingiram um estado crítico necessitando de tratamento intensivo.
Outro fator importante que diferencia a gripe e o corona é a imunidade da população. Em uma entrevista ao jornal El Pais, o virologista Adolfo Garcia-Sartre, pesquisador do hospital Mount Sinai, em Nova Iorque, explica que ao contrário das gripes comuns, em que muitas pessoas não se infectam por já serem imunes, ninguém tem imunidade contra esse novo vírus. O que tende a fazer com o que o número absoluto de casos seja muito maior.
Só os idosos correm riscos?
As pesquisas realizadas pelo CCPD, demonstram que em pessoas com até 50 anos a taxa de mortalidade do corona fica abaixo de 1%. Porém, o quadro se agrava em indivíduos entre 60 e 80 anos, chegando a 14,8% de mortes.
Mas não só os idosos fazem do grupo de risco, pacientes com doenças cardiovasculares (pressão alta, vítimas de avc’s e ataques cardíacos), diabetes, asma, câncer e fumantes possuem quadros mais graves da doença.
Na China, até o final de fevereiro, a taxa de mortalidade foi de 13,2% para quem tinha problemas cardíacos, 9,2% para diabéticos, 8,0% para doenças respiratórias crônicas e 7,6% para pacientes com câncer.
Em relação às crianças, a Organização Mundial da Saúde (OMS ) pede cautela. “Sabemos que as crianças podem ser infectadas e que elas podem morrer por essa doença. Não podemos dizer universalmente que é leve em crianças”, afirmou Maria van Kerhove, diretora da área de doenças e zoonoses emergentes da organização, em um comunicado divulgado no dia 16 de março.
Por que precisamos ‘achatar a curva’?
Fechamento de fronteiras, declaração de estado de emergência e adoção de quarentenas, são medidas que diversos países pelo mundo estão tomando contra a epidemia.
No Brasil, os governos estaduais e municipais ficam responsáveis pelas próprias ações de prevenção.
Embora o objetivo ideal seja extinguir completamente a propagação da doença, fazer com que a infecção avance de forma gradual ao longo do tempo também é essencial.
Na imagem do gráfico acima podemos ver duas curvas. Elas são versões diferentes do que pode acontecer em um país lidando com o coronavírus. A curva azul é ruim, porque significa que um grande número de pessoas ficaram doentes de uma vez e em um curto período de tempo. Situação que pode levar a uma sobrecarga dos hospitais, vagas em UTI’s e equipes de atendimento disponíveis.
No Brasil, de acordo com dados do Conselho Federal de Medicina, existe uma média de 2,1 leitos de UTI para cada 10 mil habitantes, número dentro da média recomendada pela OMS. No entanto, a maior parte dessas vagas (45%) pertence a rede privada de saúde e não ao SUS.
A distribuição de leitos no território também é bastante desigual. Segundo um levantamento realizado pela Agência Pública, existem 123 regiões brasileiras que não possuem nenhuma vaga na UTI. Os piores casos estão no Norte e Nordeste, nos estados de Roraima e Pará.
Antes do início da epidemia do corona, a Associação de Medicina Intensiva Brasileira, apontava que 95% das vagas em UTI para adultos no SUS estavam ocupadas, o número abaixava para 80% em leitos da rede privada.
O número de casos no Brasil
De acordo com dados disponibilizados pelo recém lançado Observatório Brasileiro do Covid-19, o número de casos registrados no país têm dobrado a cada dois dias e meio. No entanto, a política adotada pelo governo federal com relação aos testes pode estar gerando uma subnotificação do número real de doentes.
Em uma coletiva de imprensa, no dia 13 de março, o Ministério da Saúde brasileiro afirmou que apenas as pessoas em estado grave devem fazer o teste para a confirmação do vírus. A medida busca economizar exames para os casos mais complicados.
A decisão vai no sentido contrário as últimas recomendações da OMS. No dia 17 de março, a organização pediu a todos os países que aumentem seus programas de teste como a melhor maneira de diminuir o avanço da epidemia.
“Temos uma mensagem simples para todos os países: teste, teste, teste”, disse o diretor-geral da OMS, Tedros Adhanom Ghebreyesus, em entrevista coletiva em Genebra na Suíça. “Sem testes, os casos não podem ser isolados e a cadeia de infecção não será interrompida”, acrescentou.
A primeira morte pelo vírus registrada no Brasil ocorreu no dia 17 de março. A vítima estava dentro dos grupos de risco e apresentava sintomas, mas não estava registrada na lista de infectados do governo. A morte ocorreu na cidade de São Paulo.
Existem remédios e vacinas?
No momento, não existem remédios específicos para o tratamento da infecção causada pelo coronavírus. Os pacientes recebem medicações comuns para dor e febre (antitérmicos e analgésicos).
O uso de remédios caseiros, divulgados em grande quantidade nas redes sociais e em correntes do Whatsapp, como água quente com limão, chá de erva-doce, uso de óleos essenciais e misturas de água com alho, não são eficazes no tratamento ou aumento da imunidade contra a doença. Doses maiores de vitaminas (C e D) e minerais também não possuem resultados comprovados.
No mundo todo, diversos grupos de pesquisa e indústrias farmacêuticas estão tentando desenvolver vacinas e remédios antivirais contra a doença. Na China e nos Estados Unidos, os primeiros testes com humanos começaram a serem realizados.
Mas os resultados devem demorar mais alguns meses. Segundo entrevista dada à Folha de SP. pela médica Mariângela Simão, diretora da OMS, o processo de desenvolvimento das vacinas leva tempo. Elas devem ser seguras e acessíveis. “Com preços que os países não vão à falência para comprar. Não vamos ter [resultados] antes de um ano”, afirmou.
O que é quarentena?
Segundo o Ministério da Saúde, a quarentena é um conjunto de medidas de saúde pública destinadas a conter surtos de epidemias e evitar a proliferação de doenças infecciosas em territórios e grupos sociais.
O procedimento é estabelecido pelas Secretarias de Saúde dos estados e municípios ou pelo Ministro da Saúde. O prazo pode variar de acordo com a doença combatida, mas pode chegar até 40 dias.
A quarentena funciona?
Ao comparar a velocidade de contaminação entre lugares do mundo, que adotaram, ou não, medidas restritivas de quarentena, os resultados apontam grandes diferenças.
No gráfico abaixo, publicado pelo jornal britânico Financial Times, podemos ver que no território chinês de Hong-Kong e na Cingapura o crescimento no número novos casos ocorreu de forma muito mais lenta do que em outros países. Ambos locais aderiram a quarentena quando os primeiros casos começaram a aparecer.
O vírus é uma arma biológica?
Teorias de que o vírus seria uma arma biológica criada em laboratório, pela China, Estados Unidos e outros diferentes países, para obter vantagens econômicas ou eliminarem grandes populações, estão sendo disseminadas de forma massiva pela internet.
Esses rumores levaram a publicação de um artigo, no dia 7 de março, assinado por diversos cientistas do mundo, na revista sobre medicina The Lancet. O texto afirma que o compartilhamento de dados abertos e transparentes sobre o surto está sendo ameaçado por informações erradas sobre suas origens.
E ressalta que a análise dos genomas do novo coronavírus foi feita por diversos pesquisadores no mundo. Os resultados apontam que o vírus se origina na vida selvagem.
“Estamos juntos (escrevendo esse artigo) para condenar fortemente as teorias da conspiração, sugerindo que o novo coronavírus não tem uma origem natural. As teorias da conspiração não fazem nada além de criar medo, rumores e preconceitos que comprometem nossa colaboração global na luta contra esse vírus”, afirmam os pesquisadores.
Como ele surgiu?
Em 21 de dezembro de 2019, quatro pessoas deram entrada no hospital de Wuhan, cidade de mais de 11 milhões na região central da China. Em comum, os pacientes apresentavam um quadro sério de pneumonia, testes negativos para todos os vírus respiratórios mais conhecidos e o mesmo local de trabalho: um mercado conhecido como “A Feira de Pescados de Huanan”.
Na feira, além de peixes, eram vendidos diversos outros animais como sapos, marmotas, tartarugas, patos, porcos, e javalis. Após uma visita de funcionários do centro de controle de doenças local, foram descobertos outros casos de pessoas apresentando os mesmos sintomas. Novos testes foram realizados, dessa vez pelo governo federal chinês, identificando a existência de um vírus inédito.
Nomeado como Novo Coronavírus 2019, novo porque existe um grande grupo de vírus Corona já conhecidos e responsáveis por doenças como a Síndrome respiratória aguda grave (SARS) e a Síndrome respiratória do Oriente Médio (MERS), sua origem começou a ser investigada.
Entre as características similares deste grupo de vírus, uma das que mais chama a atenção, é a sua circulação entre animais selvagens que podem transmitir diversas doenças para humanos
As pesquisas para descobrir qual animal pode estar dando origem ao surto começaram. Os principais suspeitos são os morcegos, conhecidos por serem portadores de outros tipos de coronavírus, e, que, apesar de não contraírem muitas doenças, espalham agentes infecciosos por grandes distâncias voando.
Outras informações importantes
(Artes: Daiane Tadeu/JornalDois)