4 mil mulheres indígenas marcham em Brasília por direitos e contra ‘marco temporal’

2ª Marcha de Mulheres Indígenas foi realizada na manhã desta sexta-feira, 10 de setembro; mulheres de 140 etnias estiveram presentes

Publicado em 10 de setembro de 2021

Por Victória Ribeiro
Aos gritos de “Fora Bolsonaro e Fora Xavier”, a II Marcha de Mulheres Indígenas aconteceu nesta sexta-feira (10) em Brasília. Com início às 9h da manhã, o percurso durou 4 horas e reuniu por volta de 4 mil mulheres de 140 etnias, que em meio a cantos e danças, pediam pelo fim da violência de gênero, da política de Jair Bolsonaro e se posicionaram contra o “marco temporal” e o “PL da Grilagem”.
 
A Marcha saiu do Complexo Cultural Funarte, onde outros 2 mil indígenas acampam desde a finalização do acampamento “Luta Pela Vida”, no dia 28 de agosto, e seguiu até a Praça do Compromisso. A escolha do local foi uma forma de homenagear o indígena Galdino Pataxó, assassinado no local por jovens brasilienses em 1997. Como ato simbólico, uma estátua de alusão ao presidente Jair Bolsonaro foi queimada em meio a placas que pediam por “justiça histórica”.
 
Durante o trajeto, uma pausa foi feita em frente ao prédio da Fundação Nacional do Índio (FUNAI), onde os participantes protestaram contra Marcelo Augusto Xavier, presidente do órgão indigenista. O presidente, indicado pela bancada ruralista, é um dos defensores da tese do “marco temporal”, considerada inconstitucional pelo movimento indígena. “O órgão que deveria estar nos defendendo, está nos matando”, afirmou uma das mulheres no microfone.
Cristiane Ferreira Padilha, indígena do povo Potiguara, saiu de Baía da Traição, na Paraíba, para participar da marcha na capital federal. De acordo com ela, a mobilização é uma luta pelos direitos que “deveriam estar sendo assegurados pela Constituição Federal”. “É um momento importante para nós mulheres, que somos discriminadas e afrontadas, não apenas pelo governo, mas também pelo machismo”, comentou.
 
Prevista para acontecer nesta quinta-feira (9), a marcha foi adiada após reunião deliberativa realizada pelas delegações de mulheres acampadas. A mudança foi motivada pela tensão envolvendo a presença de grupos bolsonaristas, que ocupam vias de acesso que levam ao Supremo Tribunal Federal (STF) desde terça-feira (7), quando aconteceram as manifestações pró e contra o presidente Jair Bolsonaro.
 
Além de provocações iniciadas por pessoas que passavam pela marcha, com dizeres racistas e exibicionismo de bandeiras do Brasil, nenhum outro tipo de conflito aconteceu. A mobilização contou com a presença da Polícia Militar (PM) e com a segurança voluntária de 50 indígenas organizados por Shirley Krenak, indígena ativista e coordenadora de segurança do acampamento.
 
A programação da II Marcha de Mulheres Indígenas, que começou na terça (7), termina neste sábado (11). Com a retomada do julgamento sobre a demarcação de terras indígenas prevista para acontecer na próxima quarta (15), parte das delegações acampadas no Complexo Cultural Funarte seguirão na capital federal.
A convite da Terra Indígena de Araribá, o Jornal Dois acompanha a delegação dos povos indígenas da região de Bauru em Brasília. O transporte foi custeado pelo Sindicato dos Servidores Públicos, Sindicato dos Bancários e a Apeoesp.
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