Por que Suéllen Rosim vencerá as eleições em Bauru dia 29 de novembro

Suéllen é uma candidata de direita, ao passo que Raul é o candidato da direita

Publicado em 25 de novembro de 2020

"Ambos se colocam de forma servil aos interesses daqueles que realmente comandam a cidade: os oligopólios empresariais, aliados ao truste do setor imobiliário" (Arte: Bibiana Garrido / Foto: Reprodução)
Por Silvio Durante*, colunista do J2
Qual sua decisão quando se depara em uma prateleira de mercearia com dois produtos iguais em embalagens diferentes. Alguns se orientam por preço, outros podem se orientar pela marca mais conhecida e outros ainda vão preferir pegar qualquer um que estiver mais fácil ao alcance das mãos. É essa a escolha que Bauru terá de fazer dia 29 de novembro. São dois projetos políticos iguais no conteúdo, mas muito diferentes na forma.
 
Ambos se colocam de forma servil aos interesses daqueles que realmente comandam a cidade: os oligopólios empresariais, aliados ao truste do setor imobiliário. Para este segmento minoritário da população (estamos falando de umas poucas centenas de pessoas) qualquer um dos candidatos, seja o 25 ou o 51, terá apenas de desempenhar o papel de administrador temporário de seus negócios que se referem ao uso da máquina e poder público para continuar o ciclo secular de dominação e garantia de seus privilégios.
Mas por que, afinal se são iguais, Suellen Rosim vencerá dia 29 de novembro?
 
I – Suéllen retira o caráter combativo e anti racista das mobilizações e lutas negras
 
Primeiramente, Suellen carrega em si os traços biológicos de um dos setores mais oprimidos da sociedade de classes: é mulher negra. Isso a coloca em uma posição de destaque que a direita retrógrada quer confiscar para si, retirando o caráter combativo que tal condição natural inflige ao indivíduo. Para a direita retrógrada, Suellen representa aquilo que a mulher deve continuar sendo: um ser dócil, não contestador da ordem, conivente com as instituições estabelecidas, silenciosa diante de temas polêmicos, não questionadora do patriarcado e muito menos da sociedade de classes que sustenta o machismo e o racismo. Suellen não é o perfil de jovem negra militante anti racista, que está participando de protestos contra violência policial, que está nas ruas em marchas contra discriminação e nas redes sociais alertando pessoas e grupos sobre a necessidade de garantir direitos de cidadania para pretos, pardos e índios. Ao contrário, Suellen passa longe desse tipo de mulher negra combativa e isso é ótimo para construir uma contra narrativa que desconecte a mulher negra de sua tarefa política emancipatória.
 
II – Suéllen funcionará não como o centro, mas como um desviador de atenções
Os donos do poder querem que o ideal de mulher encarnado por Suellen seja o ideal a ser seguido pela maioria das pessoas do sexo feminino que uma hora ou outra podem se deparar com o discurso do feminismo libertário e passar questionar a lógica social de dominação sobre a mulher. Se Suellen não representaria um “freio” na primavera feminista (se é que se pode deter isso…) ela seria ao menos uma estrela guia a ser mirada no céu pelas demais mulheres, para que olhando para cima, não vejam as flores da primavera florescendo a seus pés, ao menos durante um bom período. Em nenhum momento de sua campanha ou de sua trajetória política vimos Suellen fazer coro com as pautas de libertação da mulher. Ao contrário, seu partido está posicionado no espectro político que mais se opõe a políticas de promoção da igualdade de gênero.
 
III – A vitória de Suéllen interessa muito mais ao machismo do que ao feminismo
Suellen será vitima de um machismo político que irá cair pesadamente nas próximas candidatas que se dispuserem a disputar a prefeitura. Será o mote ideal para erguer um discurso anti mulheres na política. Ela irá enfrentar um período de orçamento municipal baixo, de pandemia em retomada, um cenário nacional em recessão e desemprego por conta do desastre que está sendo o governo Bolsonaro (do qual seu partido é base de apoio) e mesmo com esse cenário de calamidade social, ela não irá enfrentar os grandes problemas da cidade, mantendo o status quo e aumentando os níveis de pauperização do povo. A culpa será jogada em suas costas e não só: todo gênero feminino será imputado como naturalmente não apto à vida política. Mas por aqueles que a atacarão, não será dito uma única palavra sobre a conjuntura nacional e estadual que engendrarão seu fracasso administrativo, ao contrário, a direita retrógrada não hesitará em colocar em sua responsabilidade individual os desastres de sua administração ruim e isso virá acompanhado de uma avalanche de comparações e menções jocosas acentuando sua falta de experiência e juventude (e aqui entra em cena o preconceito geracional contra jovens na política).
 
IV – A burguesia legitimará seu discurso dominador com a vitória de Suéllen
É o candidato Raul quem tem o fenótipo mais parecido com a burguesia brasileira: homem, branco de meia idade, hétero, cristão e com discurso empreendedor. Seria um desperdício queimar essa ficha e a burguesia não vê problemas nenhum em momentaneamente promover uma ruptura na sequência de homens brancos que sucederam a cadeira do prefeito de Bauru. Preservar a imagem do ideal de político é uma forma de dizer subliminarmente as pessoas que uma grande desgraça poderá ocorrer se este padrão de escolhas for interrompido. A narrativa será usada, de modo semiótico, para engrandecer a figura branca, masculina envelhecida diante da figura feminina, negra inexperiente, puxando pela memória do povo um falso passado de glória da cidade com prefeitos que fizeram muito pelo município dos quais todos eram homens, brancos e seniores. Neste caso, preservar a imagem que é a cara da burguesia seria por si só um ataque ao elemento estranho à este padrão.
 
V – Suéllen é uma candidata de direita ao passo que Raul é o candidato da direita
Leia de novo este título e entenderá como o uso do artigo define o sentido da frase e o compromisso político com cada candidato. Embora ambos estejam servindo ao mesmo senhor (e este não é o povo), a diferença substancial entre um e outro está justamente no nível de envolvimento que cada um tem com as estruturas de poder existentes na cidade. Suellen é um nome novo que conhece a cidade na maior parte devido a exigência do trabalho remunerado que exercia como jornalista. As experiências com voos solos na política brasileira demonstram que uma queda abrupta de alguém com perfil de uma pequena aeronave monomotor causa menos prejuízos que a queda de um airbus. Raul tem negócios milionários na cidade, que envolvem ramos da iniciativa privada e poder público, além de laços quase pessoais com representantes de setores economicamente produtivos, logo, seu conhecimento da cidade se dá por outros meios do que aqueles que Suellen estabeleceu. Para a direita retrógrada, uma crise política só lhe é tolerável se não refletir em uma crise econômica e isso seria muito pior para seus negócios se ocorrer com um governo de Raul do que com Suellen.
 
Por estas e outras acredito que Suéllen vencerá dia 29 de novembro (não consideramos aqui o envolvimento de Suellen com o setor religioso neopentecostal da cidade, cuja força política é incontestável nas eleições). Suellen irá vencer, Raul não irá ganhar e o povo de Bauru irá perder!
 
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Acatando correções, sugestões e reflexões para construir um mundo melhor. Não importa em quem você vai votar: o que importa é como você vai se organizar para enfrentar quem for eleito!
* Silvio Durante é professor de História, bacharel em Arquitetura e integrante de movimentos artísticos e culturais de Bauru
As colunas são um espaço de opinião. Posições e argumentos expressos neste espaço não necessariamente refletem o ponto de vista do Jornal Dois.
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