Noroeste verde-amarelo: “Se um time perde o apoio da torcida, ele deixa de existir”

Três dias depois que o clube anunciou o uso do uniforme verde e amarelo, a torcida reagiu mostrando descontentamento através de nota de repúdio

Publicado em 11 de março de 2021

Uniforme verde e amarelo foi anunciado pelo time em apoio à abertura do comércio (Foto: reprodução)
Por Redação Jornal Dois
Edição Camila Araujo

Até a entrada do time em campo às 11h do último domingo, 7, em Birigui, ainda era incerto qual uniforme os jogadores do Esporte Clube Noroeste usariam na estreia do Campeonato Paulista da Série A-3, competição profissional de futebol do Estado de São Paulo.

Na semana anterior, a equipe divulgou que vestiria um uniforme nas cores da bandeira do Brasil, o verde e amarelo. Seria um protesto contra o fechamento do comércio na cidade durante a fase vermelha, a mais restritiva do plano de combate à pandemia do novo coronavírus.

A campanha do Noroeste seria por mais leitos de UTI e a abertura definitiva do Hospital das Clínicas, que atualmente funciona como hospital de campanha com tratamento de pessoas contaminadas pela covid-19.

“É uma forma de reação contra o desemprego, as falências, exigindo a chegada de novos leitos de UTI para os hospitais estaduais do município e a abertura definitiva do Hospital das Clínicas (HC)”, alegou o clube. O presidente do Noroeste, Leandro Palma, o Lelê, disse que a medida não é política.

Maximiliano Martin Vicente, cientista político e professor, explicou que qualquer manifestação a favor ou contra uma norma estabelecida se caracteriza como ato político “com toda certeza, e vai contra a norma estabelecida pelo Governo do Estado de São Paulo”, afirmou o professor, em referência ao Plano SP.

“Até compreendo o motivo do clube fazer isso, é a questão da dependência financeira, dos patrocínios, e se o comércio fecha a situação complica. Mas outra questão é a pandemia, estamos num momento trágico e precisamos tomar atitudes radicais para não passar por situações mais desesperadoras”, opinou.

Estevan Pegoraro, dirigente do Noroeste, havia sido fotografado ao lado de Luciano Hang, dono da Havan. O empresário veio para Bauru no dia 12 de fevereiro, em um ato realizado pelo Sincomércio pela reabertura imediata dos comércios e serviços na cidade. Na foto, o dirigente aparece ao lado de Hang. Os dois estão sem máscara e o empresário segura a camisa branca e vermelha do clube bauruense.

Com a repercussão negativa entre os torcedores, o time recuou, e acabou jogando com o tradicional uniforme vermelho e branco. Uma nota do clube emitida no domingo, 7 de março, informou que o Noroeste não vai se pronunciar sobre a decisão desistir do uniforme verde e amarelo.

O time estreou o campeonato com vitória vencendo o Bandeirantes pelo placar de 2 a 1. No segundo jogo do time, em 10 de março, o placar ficou 3 a 0 para o Noroeste, contra o time de Barretos.

 

Posicionamento

A torcida organizada do Noroeste, a Sangue Rubro, repudiou o lançamento da nova camisa em posicionamento publicado na página do Facebook. Diz a nota:

“O GRESC – Grêmio Recreativo Esportivo Social e Cultural, Torcida Organizada Sangue Rubro, 34 anos , de apoio ao glorioso , Esporte CLube Noroeste, vem a público, principalmente aos seus associados, e demais noroestinos, mostrar o seu total descontentamento repúdio, em relação ao lançamento desta nova camisa, totalmente descaracterizada, em relação as nossas cores tradicionais, o vermelho e branco. Não concordamos e nem apoiaremos essas atitudes, ninguém nos consultou ou pediu nossa opinião ou sugestão a respeito, pois quando sempre precisaram de nossos serviços e colaboração, sempre estivemos à disposição e fomos os primeiros a se prontificarem em ajudar.
Mas fica aqui nossos protestos , e jamais deixaremos de continuar a ajudar nosso glorioso Norusca. Tudo passa, todos passam. Mas a SANGUE RUBRO E O NOROESTE sempre continuarão
Atenciosamente
A diretoria da torcida”

José Roberto Pavanello, diretor da Sangue Rubro, afirmou que o novo uniforme “é uma descaracterização da nossa tradição”. Segundo ele, a torcida não aceita essa mudança porque “não tem a ver com o clube”.

Ele explicou que a torcida atua como braço direito do clube e normalmente participa das decisões quando o Noroeste precisa de ajuda. “O mínimo que podiam fazer era nos chamar para conversar, até porque essas coisas respingam na gente”, pontuou.

“Tá todo mundo zoando a gente, a gente virou a bola da vez, somos alvo de brincadeiras e somos cobrados pelos amigos nas ruas”, lamentou o diretor.

Não deu outra: uma publicação na página “XV de Jaú Mil Grau”, que se denomina como a “página oficial da zoeira” do time XV de Jaú, rival do Noroeste, diz o seguinte: “Não foi camisa para ajudar o hospital. Os cara faz amarela contra o fechamento do comércio. E fora que essa vontade de ser verde e amarelo tá cada vez mais descarada.”

Isso porque a camisa do time do Jaú é justamente as cores da bandeira brasileira, o verde e amarelo. Em contraste com as reivindicações do time bauruense pela abertura do comércio na cidade, o Esporte Clube XV de Novembro de Jaú XV de Jaú está sediando a vacinação de idosos por drive-thru no estádio Zezinho Magalhães, ou Jauzão.

Na página do clube, um vídeo sobre a ação foi publicado com a seguinte mensagem: “O XV de Jaú se sente honrado em poder colaborar nesse momento tão importante!”

Paralisação do futebol 

No sábado, 6, os jogos que seriam realizados em março pelas Eliminatórias da Copa do Mundo foram suspensos pela Fifa e Conmebol por conta da pandemia.

Mas os jogos dos campeonatos no estado de São Paulo estão mantidos.
Para Marcos “Tuca” Américo, coordenador do Observatório de Esportes da Unesp, “as grandes competições que continuam sendo realizadas deviam ser feitas naquele esquema de bolhas, com sedes. A questão é o controle para impedir o contágio”.

Sobre o novo uniforme do Noroeste, o professor comenta: “Claramente se trata de uma manifestação política, basta olhar o contexto e o momento. A prefeitura é apoiada pelo Governo Federal e existe um embate forte contra o Governo do Estado de São Paulo”, afirmou.

Tuca lembrou que a camisa vermelha e branca é referência histórica do time, que é conhecido como a “maquininha vermelha”. Por isso, ele acredita que o clube tenha sido usado como ferramenta política. “O que existiu foi uma utilização política do clube, e a torcida se manifestou contra.

Prefeitura e sindicato comercial podem ajudar patrocinando o Noroeste e não se apropriando de um momento de pandemia. Se um time perde o apoio da torcida, ele deixa de existir”, conclui Marcos.

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