Com mobilização popular nas ruas nosso papel é impedir um golpe, diz deputado Paulo Teixeira

Em visita a Bauru, congressista passou pela Vila Cristiana e se reuniu com classe artística; veja na entrevista

Publicado em 16 de agosto de 2021

Por Camila Araujo 

Para Paulo Teixeira, deputado federal (PT), é preciso “derrotar desde já o bolsonarismo nas ruas e no processo eleitoral”, e “impedi-lo de dar um golpe”. Ele avalia que o grupo aliado do presidente tenta destruir tudo o que foi construído no Brasil, e alerta: “não subestimem a promessa de um golpe”. 

O congressista esteve em Bauru nesta sexta-feira (13) e conversou com a reportagem do Jornal Dois no Bar do Genaro, na Vila Souto, tradicional ponto de encontro de artistas, políticos e intelectuais bauruenses. 

Em sua visita a cidade, ele conta que passou pela agora regularizada Vila Cristiana, no bairro Jardim Primavera, antigo assentamento Primavera. É para este local que o parlamentar destinou quase R$239 mil em emendas federais para a implantação de drenagem pluvial, já que a região sofre com alagamentos quando chove, que acabam se misturando com o esgoto.

Político terminou o dia de trabalho na cidade no Bar do Genaro, onde conversou com a reportagem (Foto: Camila Araujo/Jornal Dois)

“É um local muito pobre, composto majoritariamente por mulheres. Fiquei muito tocado de ver a realidade social ali”, disse o deputado, afirmando que ouviu relatos de desemprego e “dificuldade com alimentação”. 

Até o momento, o dinheiro não foi aplicado na comunidade, e corria o risco de voltar ao cofre público caso não fosse utilizado até o fim de 2021. Em nota, a prefeitura informou que o edital de licitação foi homologado na semana anterior, sendo a Fortpav Pavimentação e Serviços Ltda. a empresa vencedora. 

Outro recurso enviado pelo deputado, na ordem de R$150 mil, será investido para recapeamento das ruas. Segundo o Executivo municipal, o projeto está em fase de preparação para abertura do edital de licitação.

O político afirmou ter objetivos com outras questões na Vila Cristiana. “Eu senti ali a ausência de uma escola, que é uma reivindicação deles também, além de creches e demais políticas públicas que requer um bairro com pessoas em grande vulnerabilidade”, destacou. 

A comunidade da Vila Cristiana surgiu quando, em 2019, 700 famílias que moravam no assentamento Nova Canaã, próximo ao IPMET, passaram por uma ação de despejo, das quais 195 foram realocadas para um terreno atrás do cemitério Cristo Rei, que passou a ser chamado de assentamento Primavera, onde havia rejeitos de construção, de lixo, e de chorume do cemitério. O local foi revitalizado e regularizado, levando como nome uma homenagem a Cristiana dos Santos, líder comunitária do assentamento, que faleceu vítima de câncer em 2020.

O Nova Canaã foi um dos assentamentos consolidados na cidade nos últimos anos. É daí que surge a relação de Paulo Teixeira com Bauru há mais de seis anos, segundo ele. Mestre em Direito, o deputado disse que participou de “negociações das ocupações, com a prefeitura e com a união” e que destinou recursos para pavimentação de ruas e para saneamento básico a lugares com os quais se relacionou. 

“Quando nós [PT] estávamos no governo ainda eu acompanhei os movimentos de moradia aqui de Bauru e posteriormente eu destinei recursos para pavimentação de ruas, para drenagem e saneamento básico para lugares com os quais eu me relacionei”, afirmou. 

Agora Paulo Teixeira abre diálogo também com a classe artística. Com pelo menos oito compromissos pela cidade desde às 16h na sexta-feira quando passou por aqui, ele se reuniu com a Associação de Hip-Hop, para a qual destinou recursos parlamentares, com representantes da Banda e Orquestra Sinfônica, com representantes das artes e literatura, comprometendo-se a fornecer apoio para que o setor cultural possa ocupar imóveis da União localizados em Bauru: um espaço para abrigar a Academia Bauruense de Letras e um para a Banda e Orquestra Sinfônica. Ambos os projetos ficavam localizados no prédio da Estação Ferroviária, que está interditado.

Bolsonarismo em Bauru

Paulo Teixeira comenta que conhece a nova gestão da Prefeitura de Bauru por meio da imprensa e opina que a identificação da prefeita Suéllen Rosim (Patriota) com as políticas de Bolsonaro, “principalmente na pandemia”, o preocupou. “Porque as políticas de Bolsonaro foram criminosas”, declarou, afirmando que a proposta de tratamento precoce encabeçada pelo presidente levou muitas pessoas à morte, “acompanhadas do descuido de não ter distanciamento social, de máscaras e álcool em gel”.

Ele opina que “qualquer administrador público que reproduziu tais políticas também agiu de forma criminosa”, e acredita que “Bolsonaro vai responder criminalmente pela ação genocida”.

O título de Cidadão Bauruense foi negado a Bolsonaro no dia 9 de agosto, na 23ª Sessão Ordinária da Câmara Municipal. Para o congressista, “isso revela o desgaste do presidente em núcleos do bolsonarismo”, já que o município o elegeu com mais de 72% dos votos em 2018, e “foi derrotado ainda que a prefeita tenha uma forte identidade com ele”. “Fiquei bem impressionado”, comentou Paulo.

Bolsonaro vem para Bauru em 28 de agosto para a “Cavalgada do Agro” promovida pelo gabinete do deputado federal Capitão Augusto em conjunto com a Frente Parlamentar de Rodeios. Para Paulo Teixeira, quando o presidente da República vai a uma cidade ele deveria chegar instalando uma nova empresa, trazendo uma universidade federal ou uma escola. “Isso que a gente tinha que se perguntar, o que que ele tá trazendo? O que essa cavalgada representa para cidade?”, questiona, respondendo que “vai ficar cocô de cavalo pelo caminho, e nem um centavo para Bauru”.

Bolsonarismo no Brasil 

O congressista é um dos deputados do PT que assinam uma notícia-crime enviado ao Supremo Tribunal Federal (STF) contra o ministro da Defesa Walter Braga Netto, sobre o episódio reportado pelo jornal O Estado de São Paulo, em que o general teria falado a Arthur Lira (PP), presidente da Câmara dos Deputados, que não haveria eleições em 2022 se não houvesse voto impresso. Ele opina que Bolsonaro e seus aliados militares são do “núcleo mais duro da ditadura militar”, de torturadores que “nunca aceitaram a redemocratização” ou a Constituição de 1988.

Ele avalia ainda que o bolsonarismo é a expressão de um movimento autoritário, “uma escalada autoritária aliada do estado policial”, movimento que não estaria apenas em Brasília, no desfile de tanques do dia 10 de agosto, mas também “no guarda da esquina, no policial que se acha no poder de tirar a vida de pessoas” e de “usar força bruta sem mecanismos de controle”. 

“Eles estão tentando destruir tudo que foi constituído enquanto Brasil, nação e constituição”, afirmou, dizendo ainda que “a promessa de um golpe” já foi feita: “não subestimem”. Nosso papel, segundo Paulo, é impedi-los de dar um golpe, “derrotá-los desde já nas ruas e no processo eleitoral caso a gente não consiga o impeachment até lá”.

Para Paulo Teixeira, o Brasil tem que passar por uma mobilização popular de rua como aconteceu nos Estados Unidos, com o movimento Vidas Negras Importam, como teve no Peru, para eleger o novo presidente Pedro Castillo, na Bolívia, para derrubar o golpe, na Argentina, na eleição de Alberto Fernandez, e no Chile pela nova Constituição. “Isso que a gente tem que fazer no Brasil: uma ampla mobilização da sociedade, de toda a esquerda, que impulsione um projeto social que na minha opinião tem que ter Lula como liderança”, opina.  

Caso Lula se eleja presidente, aponta Paulo, ele tem que revogar as medidas aprovadas no governo Bolsonaro, como reforma trabalhista, previdenciária, administrativa, que “destruiu direitos” e “o patrimônio nacional”. O ex-presidente e possível presidenciável “tem que devolver os direitos que foram subtraídos do povo brasileiro”. 

“Nós temos que parar a violência contra a juventude, temos que ter um programa de emprego e distribuição de renda. Uma reforma tributária que tribute os super ricos. Temos que parar de vez a destruição da Amazônia, que também afeta Bauru”, declara, e afirma que “ou a gente radicaliza com as mudanças ou a humanidade não terá mais as condições ambientais”. 

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