Por Mara Carvalho
Kickboxing: o acesso da mulher à arte marcial
Manuela começou a praticar kickboxing depois dos 30 anos de idade e comenta a experiência de ser mulher no meio em que a participação masculina ainda predomina
Reportagem publicada em 30 de março de 2019
Manuela Arantes da Silva treina kickboxing há mais de seis anos na Academia Thiago Vianna. Começou em 2013. “O local onde faço as atividades é diferenciado, porque homens e mulheres treinam juntos e inclusive tem várias mulheres fazendo o esporte, comenta a atleta”.
De acordo com a Confederação Brasileira de kickboxing, essa categoria desportiva de contato e chute é a que mais vem crescendo no mundo. Para Manu, isso fez a diferença para que não se sentisse um “peixe fora d’ água”, nesse esporte que ainda pertencer mais ao universo masculino.
A primeira vez que Brasil sediou uma etapa do campeonato mundial de Kickboxing foi em setembro de 2013. A disputa foi nas modalidades Low Kicks (chute no qual o atacante usa sua perna para atingir a parte inferior do corpo do adversário com a canela ou o pé) e K1 Rules (Combate de contato pleno. Pode ser aplicados todos os golpes). A capixaba Bárbara Nepomucenofoi quem conquistou a primeira medalha de ouro.
Das categorias por peso participaram competidores de 57 kg até 91 kg. Dessas respectivas posições, saíram nove ganhadores sendo três mulheres. Bárbara foi uma delas.
A capixaba Bárbara começou a praticar Kickboxing em 2009, porque queria perder peso. Gostou tanto do combate que seguiu carreira e, aos 28 anos de idade conquistou títulos de campeã mundial em sua categoria. Manuela Arantes procurou o esporte em 2013 com a mesma finalidade — emagrecer. Ela subiu no ringue em 2016. Nesse mesmo ano disputou dois campeonatos. Participou da Copa São Paulo (1º Lugar — medalha de Ouro) e do Campeonato Paulista (3º lugar — medalha de Bronze).
Manuela esclarece que, nunca havia participado de nenhuma competição na adolescência, mas depois de adulta resolveu subir no ringue para competir. “Às vezes a pessoa fala assim ‘ah, mas eu tô velha para fazer esse esporte’, vale lembrar que a arte marcial também tem a parcela de defesa pessoal”, salienta.
“Luta não é só soco e chute, é ensinamento pra vida”
Mulher de Luta
Manuela já praticou Jiu-Jitsu. Parou de treinar porque engravidou e, devido aos movimentos de queda, o esporte poderia prejudicar a sua gestação. Depois do nascimento da filha Sofia no ano de 2013, voltou a treinar artes marciais, só que desta vez começou o Kickboxing, porque queria emagrecer. Acreditava que nessa modalidade o resultado seria mais rápido, devido a dinâmica da luta com movimentos rápidos de socos e chutes.
A atleta subiu no ringue duas vezes em 2016. Mesmo vencendo os dois campeonatos que disputou, entendeu que era hora de parar com os combates. A dificuldade em conciliar a maternidade com a rotina de viagens e competições fez Manuela abrir mão das disputas dos campeonatos.
Não é raro cenas de mulheres que deixam empregos ou sonhos para cuidar dos filhos. Manu declarou estar satisfeita com a decisão. “Fiquei surpresa com as conquistas que tive no esporte. Fui além do que imaginava, porque nunca pensei disputar campeonatos, muito menos chegar ao pódio depois dos 30 anos. Parei com as disputas na hora certa”, enfatiza.
No mesmo ano que deixou as competições, ela foi convidada a dar aulas exclusivas de Kickboxing para mulheres. Tornou-se uma multiplicadora do esporte. A professora tem duas turmas, uma no período da tarde, com sete alunas e a outra no da noite, tem dez mulheres.
A história de Manuela, se mistura a de muitas mulheres que conciliam a rotina de mãe, esposa, filha com a carreira profissional. A atleta atua como professora de Kickboxing, advogada e recentemente foi eleita a Síndica de um condomínio. Procura conciliar as atividades com a família.
A professora de Kickboxing explica que “a luta propicia mais comando, reflexo, atenção e ajuda inclusive a mulher na autodefesa”. Manu comenta que a arte marcial exige maior agilidade mental e as praticantes acabam se desenvolvendo, ficam mais atentas, mais alertas com o que acontece à sua volta. “Em uma situação de risco de violência doméstica ou de assalto, por exemplo, provavelmente vai perceber melhor as movimentações suspeitas e praticar técnicas de defesa pessoal”.
No Brasil, casos de violênciacontra a mulher acontecem a cada um minuto, nesse tempo, nove mulheres acabam sendo vítimas de agressão. Os dados são do Instituto Patrícia Galvão.
Conquistas
“Em cima do tatame, mais do que levar o título, consegui enfrentar os meus próprios medos”, declarou Manuela. Para a atleta, o esporte também proporciona a elevação da autoestima.
Em 10 de março deste ano, Manu foi graduada a faixa preta do 1º DAN. A esportista reforça que a arte marcial ajuda as pessoas na questão da autodefesa, socialização e na disciplina pessoal. Por essa razão a atleta enfatiza que “Luta não é só soco e chute, é ensinamento pra vida”.
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