Grafismos, adornos e vestimentas: Aldeia Tereguá, de Avaí, realiza primeiro desfile indígena

Idealizado pela Associação das Mulheres Indígenas de Tereguá, evento teve como objetivo celebrar a cultura e arrecadar recursos financeiros para a comunidade

Publicado em 19 de outubro de 2021

Pela primeira vez a aldeia promoveu evento aberto ao público desde o início da pandemia (Foto por Victória Ribeiro)
Por Victória Ribeiro
Edição Camila Araujo

O 1º Desfile Indígena de Tereguá foi realizado na noite do último sábado, 16 de outubro, na Aldeia Tereguá, localizada dentro da Reserva Indígena de Araribá, em Avaí, há 47 km de Bauru. O evento foi idealizado pela Associação das Mulheres Indígenas de Tereguá, com objetivo de “celebrar a cultura indígena” e arrecadar recursos financeiros para a comunidade, por meio da venda de artesanatos produzidos por moradores. 

O palco do desfile foi um tapete vermelho posicionado em uma área de convivência da população de Tereguá. Tochas de bambu foram posicionadas no entorno da “passarela”, e foram acesas pelo Cacique Lauro Eloy, para simbolizar a abertura oficial do desfile. 

Crianças e jovens da aldeia desfilaram suas roupas e ornamentos nas categorias de “grafismo”, “vestimenta” e “adorno”. Cada modelo tinha um artesão responsável pela elaboração dos desenhos, dos colares, das pulseiras, dos vestidos, das roupas, e de outros adereços. 

De acordo com Elizeu Caetano, integrante da organização do evento, “os grafismos são desenhos que podem se apresentar de diversas formas, podendo ser feitos a partir do jenipapo e da tinta de tecido”. As vestimentas são roupas das tradições indígenas, que se diferem em cada população originária. Os adornos são, por sua vez, acessórios como colares, pulseiras e cocares. No desfile, os grafismos estamparam roupas e pinturas corporais. 

Um júri, escolhido durante o evento, foi responsável por avaliar quais modelos se destacaram em cada uma das categorias. O corpo de jurados foi composto por Hellen Rodrigues, prefeita de Avaí, Marcos Chagas, professor e coordenador do Sindicato dos Professores do Estado de São Paulo (Apeoesp) de Bauru, e Melissa Lamônica, coordenadora do Sindicato dos Servidores Públicos Municipais (Sinserm) de Bauru. 

 

O anúncio dos vencedores aconteceu ao final do evento, por volta das 22h. Na categoria “grafismo”, Yasmin Samara ficou com o primeiro lugar, junto da artesã Itauana Anawa que produziu o desenho corporal e o desenho na vestimenta, estampada em vermelho e amarelo. Foi a primeira criação de Itauana, e levou cerca de um mês para a produção. Na categoria “adorno”, Maitê Kysã, de 6 anos, usava brincos de penas amarelas e miçangas azuis produzidos por sua mãe, Ju Kaingang, e recebeu o primeiro lugar. Já na categoria “vestimenta”, quem ganhou o prêmio principal foi Reverton Marques, que usava uma saia de palha de buriti, arco e flecha e cocar de penas de arara azul, peças produzidas por Ricardo Castelão.

A programação do evento também contou com a apresentação da “Dança da Ema”, conhecida como “Bate-pau”, acompanhada por flauta e tambor. Mestre de cerimônia do evento, que conduziu a celebração e interagiu com o público, Elizeu destacou que a “Ema” é um animal sagrado, ligado à espiritualidade do povo Terena.

 

Selva, integrante do grupo “Palhaçaria de Rua Ancestral”, promoveu uma atividade para crianças com pintura no rosto, competições de pula-corda e equilibrismo. “Os jovens são o futuro. Toda celebração é uma maneira de lembrá-los sobre a importância do nosso povo e da nossa cultura”, afirmou Lilian Eloy, integrante da Associação das Mulheres Indígenas de Tereguá. 

 

Para ela, “celebrar a cultura e retomar as vendas das produções artesanais” foi motivo de felicidade, já que esta foi a primeira vez que a aldeia promoveu uma festa aberta ao público externo desde o início da pandemia. De acordo com Lilian, a crise sanitária prejudicou a vida financeira dos moradores que, em sua maioria, trabalham com a venda de artefatos tradicionais. 

Além das barracas de alimentação e artesanatos, uma outra forma de arrecadar recursos foi por meio de uma rifa no valor de R$ 10, que teve como prêmio um arco-e-flecha produzido em bambu por Joel Henrique. A produção, de acordo com Joel, foi uma homenagem aos guerreiros que estiveram em Brasília para protestar contra a tese do “marco temporal” entre os meses de junho e setembro. Um vestido com grafismos indígenas, produzido por Lilian Eloy, também foi rifado. 

O desfile mostra que “existem pessoas talentosas dentro da nossa comunidade”, opina Elizeu, que é do povo Tupi-Guarani Nhandewa. Para ele, é preciso “mostrar que nós temos condições de lançar uma marca nossa, que as comunidades indígenas têm seu valor e nossos artesãos também”.

O evento recebeu apoio da prefeitura de Avaí, da Araci Cultura Indígena, do Instituto Elas e da Mídia Nativa On, que transmitiu todo o evento ao vivo em redes sociais. Associações, grupos e pessoas amigas da comunidade também contribuíram com a realização da celebração. De acordo com Lilian Eloy, a ideia é que outras edições sejam organizadas para “cada vez mais agregar mais pessoas e mais comunidades”. 

 

Fotos por Camila Araujo e Victória Ribeiro/Jornal Dois 

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