Em defesa do legado e da memória do companheiro Roque Ferreira

PSOL Bauru publica nota em protesto contra vereadores Eduardo Borgo (PSL) e Guilherme Berriel (MDB) que se referiram, em sessão, de modo calunioso ao ferroviário, militante e ex-vereador Roque Ferreira, falecido em setembro de 2020 pela covid-19

Publicado em 15 de julho de 2021

Roque Ferreira, em colagem por Letícia Sartori do Jornal Dois - imagem originalmente publicada em 2019 com texto de autoria do ex-vereador, colunista do Jornal Dois desde sua fundação em 2017
Por PSOL Bauru, em coluna para o J2

Movidos tanto pela ignorância dos fatos quanto pela má fé dos atos, os vereadores Eduardo Borgo (PSL) e Guilherme Berriel (MDB), na sessão legislativa do dia 12 de julho do corrente ano, se referiram de modo calunioso e desrespeitoso ao ex-vereador Roque Ferreira, utilizando para tão sórdido expediente a recente lacração do Prédio da Estação Ferroviária da NOB, adquirida pelo Município de Bauru em 2009.

As falas dos vereadores foram motivadas pela matéria veiculada na rádio Jovem Pan pelo jornalista Alexandre Pittolli, que após entrevista com o promotor de Urbanismo do Ministério Público, Dr. Henrique Veronez, encerra o programa insinuando de forma leviana a suspeição do processo de compra do prédio. Em sua fala, o jornalista diz que “o prédio valia quatro milhões, um comprador queria dar dois e a prefeitura pagou seis (…) nós sabemos os motivos” (sic).

É assim que nascem os boatos e as Fake News, tão utilizadas pelo bolsonarismo e sua tropa de asseclas puxa-sacos. Alexandre Pittolli envergonha todos os que portam diploma de jornalista, uma profissão que deve ter compromisso com as bases sólidas da verdade e não com os pés de barro da mentira.

A verdade de volta aos trilhos

Embora o péssimo jornalista Alexandre Pittolli não diz em sua fala, o prédio da estação e todo seu entorno, compreendendo um total de 13 mil metros quadrados, valia quatro milhões no início de 2006. Com as atualizações e correções, chegou-se no final de 2009 ao valor de R$ 6,3 milhões, conforme avaliação realizada pela Caixa Econômica Federal. A prefeitura então o adquiriu mediante pagamento de três parcelas (uma de 3,5 milhões em 2010 e duas de 1,4 milhão sendo uma paga em 2011 e a outra em 2012). Omitir essas informações, estas balizas temporais, estes valores e suas atualizações é uma afronta ao bom jornalismo. Lembremo-nos que uma meia verdade equivale à uma mentira inteira. Lembremo-nos também que o processo foi aprovado e considerado legal pelos órgãos de fiscalização e pelas próprias Comissões da Câmara Municipal.

No embalo do mau jornalismo de Pittolli, o vereador Guilherme Berriel reproduziu a ilação de que o prédio valia 4 milhões e foram pagos 6 milhões, reforçando a inverdade diante dos que ouviam a sua fala, criando a falsa narrativa de negócios suspeitos durante o processo de compra.

Não obstante a enxurrada de falsificações, o vereador diz que Roque ganhou o título de “Corretor do Ano de 2009”, numa esdrúxula comparação entre uma simples venda comercial de um imóvel com o esforço empreendido por Roque em preservar o patrimônio histórico, o interesse público, a revitalização do espaço urbano e a garantia de direitos trabalhistas.

O prédio da Estação

Em um aparte à fala do vereador Guilherme Berriel, a vereadora Chiara Ranieri (DEM) chegou ao cúmulo da resolução simplista ao dizer que os prédios das estações ferroviárias em outras cidades do país foram dados de graça para suas prefeituras e Bauru teve que comprar a estação, mais uma vez levantando a suspeição sobre o processo. Ora, ora, vereadores! Uma breve pesquisa nos registros históricos evitaria uma fala tão ridícula. O prédio da estação ferroviária da NOB jamais poderia ser doado pela Secretaria de Patrimônio da União pelo fato de o mesmo ter sido empenhorado para quitar dívidas trabalhistas que a Rede Ferroviária Federal tinha com 4.200 trabalhadores ferroviários.

A privatização das ferrovias na década de 1990 levou ao processo de liquidação da RFFSA e como todos sabem (menos os vereadores) uma empresa em processo de liquidação não tem fontes de receita e para saldar dívidas, deve dispor de seu patrimônio. Foi assim que o imóvel foi dado como garantia de quitação da dívida trabalhista. Assim, o único modo da estação vir para as mãos do poder público municipal era por meio de um processo de compra e não por doação (como por exemplo foi o caso do prédio da estação da paulista, onde seria o Museu da Imagem e do Som de Bauru, o prédio da SEBES que outrora funcionava a Escolinha da RFFSA, o prédio da SEMMA onde funcionava o setor administrativo das Oficinas Gerais da NOB, só para citar alguns exemplos).

Tanto Alexandre Pittolli, quanto os vereadores Guilherme Berriel e Eduardo Borgo, em suas falas deixam a entender para os desavisados que o prédio está caindo, ou como disse o mau jornalista da Jovem Pan “… em estado de putrefação.” (sic), talvez ele não tenha entendido o que o próprio promotor Dr. Veronez havia dito minutos antes na entrevista, que os problemas do prédio são pontuais e não estruturais. Por se tratar de uma construção feita em concreto armado, a primeira do tipo na cidade de Bauru e realizada em estilo art decó, esta estrutura arquitetônica não está em estágio de ruína e nem em ponto de colapso.

A visionária proposta de Roque Ferreira

O companheiro Roque sempre esteve à frente de seu tempo, pois enxergava a cidade com os olhos de quem está assentado sobre ombros de gigantes. Sempre empregando o método científico para compreender a dinâmica da sociedade, isto é, o materialismo histórico e dialético, Roque, militante da Esquerda Marxista (grupo político comunista inicialmente integrando o PT, e depois o PSOL) com sua rede de apoio do Mandato Operário e Popular (formado por trabalhadores, estudantes, professores, ferroviários, advogados, associação de moradores, etc) juntamente com a diretoria combativa e participativa do Sindicato dos Ferroviários de Bauru, tiveram a genial ideia de combinar a revitalização do centro da cidade, a recuperação de um patrimônio histórico, a quitação da dívida trabalhista e a solução para o dilema dos aluguéis da prefeitura devido a falta de próprios municipais em um único projeto multifacetado.

Roque defendia que era o poder público, por meio do Executivo municipal, que deveria empreender a Reforma Urbana de Bauru, envolvendo inclusive a revisão de todo sistema de transporte público e o aproveitamento da malha ferroviária, que corta a cidade em seus eixos Leste-Oeste e parte do Sul além de ações jurídico e urbanísticas previstas no Estatuto das Cidades, com o objetivo de combater a segregação geográfica tão gritante em Bauru, onde vemos uma Zona Sul rica em detrimento das demais regiões pobres e sem infraestrutura adequada para seus moradores.

A aquisição da Estação foi muito bem recebida por importantes historiadores da cidade e defensores do patrimônio ferroviário. A compra do prédio poderia levar a cabo as demandas cidadãs mais urgentes da cidade, uma vez que as mais modernas e humanizadas concepções de urbanização defendem a revitalização dos centros históricos das cidades como modo de combinar preservação do patrimônio, segurança e democratização dos espaços. A estação abrigaria serviços públicos centralizados, evitando o deslocamento das pessoas para regiões distantes da cidade, uma vez que todas as linhas de ônibus passam pelo centro. A prefeitura, por sua vez, deixaria de pagar aluguéis para abrigar secretarias e departamentos, dispondo do prédio para esta função. O prédio, restaurado e requalificado, voltaria a ter uma função pública ao servir a população bauruense, como o fizera desde sua inauguração em 1939 até o ano 2000, quando foi fechado. Os trabalhadores ferroviários que tinham parte da ação trabalhista e há mais de uma década esperando resolução da contenda, receberiam seus valores que em último caso, representaria uma injeção de milhões de reais na economia bauruense, uma vez que centenas de ferroviários ou seus herdeiros legais, integravam a ação.

Roque entendia e denunciava que a especulação imobiliária de Bauru era o principal entrave para a revitalização do centro e a recuperação do prédio da Estação e infelizmente o poder de pressão deste setor sobre os poderes locais é evidente. É este setor que dá louvas a grandes empreendimentos de alto impacto agressivo à harmonia da cidade e expulsa cada vez mais as populações para as periferias sem infraestrutura. Foi justamente um representante do setor imobiliário, o então vereador Marcelo Borges (PSDB) que cunhou o termo de “Corretor do Ano de 2009” para Roque.

A situação de abandono a que chegou o prédio é resultado da ação dessas forças atrasadas que controlam os destinos da cidade. Enquanto foi vereador, Roque combateu o bom combate e apoiou a ocupação das salas da Estação por entidades culturais e artísticas da cidade ao mesmo tempo que cobrava da prefeitura ações de maior peso para a recuperação definitiva do prédio, com o uso de seus pavimentos inferiores para atividades lúdicas, recreativas, culturais e artísticas e seus pavimentos superiores para as instalações de secretarias e departamentos.

Portanto, homens de pouca estatura política como Guilherme Berriel e Eduardo Borgo deveriam respeitar a história de longa data de gigantes como Roque Ferreira, que sempre defendeu um modelo de desenvolvimento econômico soberano para este país, principalmente tendo o povo trabalhador no controle democrático dos destinos econômicos e políticos do Brasil, ao contrário dos dois vereadores, que defendem um presidente covarde e vendilhão da pátria, que todos os dias entrega a olhos vistos as riquezas e as estatais deste país a preço de banana para os conglomerados financistas internacionais.


Roque, presente hoje e sempre!

Diretório Municipal do PSOL Bauru

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