Das 5570 cidades do Brasil, Bauru é a 213º mais vulnerável à covid-19

A posição de Bauru no ranking do IVC identifica a cidade em uma situação mais vulnerável à pandemia do que a de cidades como Guarulhos (220), Jundiaí (256), Piracicaba (264) e Campinas (292)

Publicado em 21 de maio de 2020

Quanto mais próximo do índice 0, maior o risco do município para alastramento do coronavírus (Mapa: IVC Fundação Perseu Abramo/Reprodução)
Por Bibiana Garrido

Entre os 5.570 municípios brasileiros, Bauru ocupa a posição número 213 na lista dos mais vulneráveis à pandemia. É que aponta a pesquisa da Fundação Perseu Abramo com o Índice de Vulnerabilidade Municipal ao Alastramento do Coronavírus (IVC). 

O estudo pretende demonstrar o quão vulnerável cada município está diante da doença, além do o risco que esse município apresenta para a contaminação. A análise considera dados oficiais dos municípios em plataformas de dados como o IBGE: fatores sociais, econômicos e estruturais impactam nas condições de cada cidade para conter a disseminação do vírus.

10% das cidades de todo o país apresentam casos de covid-19 confirmados. Todos os municípios do estado de São Paulo com mais de 15 mil habitantes também têm casos da doença. É o que anunciou ontem (20) Marco Vinholi, Secretário de Estado do Desenvolvimento Regional do Governo de São Paulo.

A posição de Bauru no ranking do IVC identifica a cidade em uma situação mais vulnerável à pandemia do que a de cidades como Guarulhos (220), Jundiaí (256), Piracicaba (264) e Campinas (292). 

Segundo o estudo, Bauru também corre mais risco de alastramento do coronavírus do que capitais como Campo Grande (243), Porto Alegre (249), Vitória (251), Rio Branco (274), Porto Velho (284), Manaus (302) e Florianópolis (311).

Fatores de impacto

Para calcular a vulnerabilidade ao coronavírus em cada município, a Fundação Perseu Abramo considerou dados da saúde no DataSus de 2019 e dados de 2010 do último de Censo Demográfico do IBGE, o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística. “Em virtude da defasagem temporal desta última fonte, optou-se por extrair-se dela apenas dados estruturais, que se modificam lentamente ao longo dos anos”, afirma o estudo.

Densidade demográfica foi o índice considerado como maior propiciador de um possível surto de alastramento da covid-19. Ele representa a quantidade de pessoas distribuídas por uma parcela do território, e, aponta para possibilidades de aglomeração. Como a doença se espalha no contato entre as pessoas – e até mesmo nas gotículas do ar – ambientes com muita gente concentrada facilitam o contágio.

Em vermelho, laranja e amarelo, as cidades com maior concentração de pessoas por território; índice representa fator de agravamento pra disseminação da covid-19 (IVC/Densidade demográfica Fundação Perseu Abramo/Reprodução)

A pesquisa também considera os dados sobre favelas nas cidades, uma vez que a estrutura da moradia “oferece terreno fértil para a doença”. Números sobre as populações idosas também impactam no IVC, como a taxa de mortalidade e idosos que residem na mesma casa que pessoas mais novas ou crianças.

Saneamento básico, internações por doenças pré-existentes agravantes da covid-19, e dados sobre a população de trabalhadores informais e de baixa renda foram outros fatores levados em conta.

Composição das dimensões e indicadores considerados para o cálculo do Índice de Vulnerabilidade Municipal ao Alastramento do Coronavírus (IVC Fundação Perseu Abramo/Reprodução)

“Como não há informação municipal recente sobre a informalidade para todos os municípios brasileiros”, justifica o estudo, a escolha foi de “mensurar os municípios com menor proporção de trabalhadores formais frente à sua população, e sua respectiva renda”. O fator econômico é um dos que mais impactam o cumprimento das medidas restritivas da quarentena.

Como Bauru enfrenta a doença

O município já empregou mais de R$ 11 milhões no combate ao coronavírus. É o que informa a página de transparência no site da Prefeitura Municipal. Desse total, cerca de R$ 4,6 mi vieram de recursos municipais, outros R$ 4 mi do Governo Federal, e R$ 3,7 mi do Governo Estadual. 

Todos os repasses somam R$ 14,8 milhões, considerando também R$ 700 mil de Emendas Parlamentares, R$ 611 mil de doações do Judiciário e do Ministério Público, e mais R$ 1,1 milhão de devolução da Câmara Municipal de Bauru. 

A cidade ainda tem R$ 2,9 milhões de saldo para investimentos, e realiza um Censo Socioeconômico com o objetivo de saber como está a situação das pessoas durante a pandemia. O Censo, afirma a prefeitura, servirá de base para parte do planejamento estratégico do Poder Público Municipal.

São 227 casos de covid-19 confirmados até o momento, com 12 óbitos – informações do boletim epidemiológico de ontem (20). Há ainda 1 morte suspeita e 42 casos da doença aguardando resultado. 132 pessoas já foram curadas do coronavírus em Bauru.

Distribuição dos casos de coronavírus por região da cidade; a prefeitura não disponibiliza os números sobre a quantidade de casos em cada bairro, apenas a representação gráfica em que, segundo a assessoria, cada ponto azul não significa, necessariamente, um único caso (Imagem: Prefeitura de Bauru/Reprodução)

O município foi identificado como rota para a expansão da doença no interior do estado em uma pesquisa da Universidade Estadual Paulista (Unesp). Seguindo a quarentena decretada pelo governador João Doria (PSDB) até o dia 31 de maio, o prefeito Clodoaldo Gazzetta, do mesmo partido, apresentou o Pacto por Bauru pela reabertura do comércio.

Conforme anúncio do governo estadual, essa reabertura dependerá das taxas de isolamento em cada município. Em Bauru, o isolamento só passa de 50% aos finais de semana e feriados. A porcentagem é indicada pelo Centro de Contingência do Coronavírus do Estado de São Paulo, com meta para 60% de 70% de isolamento.

Nessa matéria, o J2 explica por que Bauru pode ficar para trás na hora de flexibilizar o funcionamento de lojas e negócios.

Ainda assim, o número de casos em Bauru está abaixo do previsto pelo Poder Público. É o que divulgou Gazzetta na semana passada: o fator de crescimento da covid-19 apontava para 1030 casos na cidade em 16 de maio, e, naquela data, eram 210 casos notificados.

O número de casos confirmados depende do número de testes realizados na cidade, e, no momento, apenas pessoas suspeitas com sintomas são testadas em Bauru. A cidade começará a testagem em maior escala a partir do final de maio, quando serão entregues 15 mil testes rápidos comprados pela prefeitura e 9600 recebidos do Governo Federal.

No começo de maio, o prefeito anunciou que compraria ainda mais 6 mil testes para “realizar o chamado esgotamento social”. O método de amostragem passará pelos bairros testando grupos de pessoas “de uma determinada faixa etária a ser definida, para verificar quantas pessoas tiveram contato com o vírus”, planeja Gazzetta.

Até o momento da publicação dessa reportagem, a Prefeitura Municipal não respondeu aos questionamentos enviados pelo J2 sobre a aplicação do estudo no combate ao coronavírus em Bauru.

Atualização em 22 de maio às 14h: porcentagem de municípios com casos de covid-19 confirmados no país é de 62%. Número foi divulgado em novo estudo da Fundação Fiocruz. A taxa de 10%, como consta no texto, havia sido calculada pela Fundação Perseu Abramo em abril.

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