Compensação e indiferença: os quatro anos do Pastor Luiz na Câmara

Após um mandato com pouca participação ativa e muito assessoramento do Executivo, líder religioso desiste de tentar reeleição 

Publicado em 02 de novembro de 2020

Pastor Luiz é um velho conhecido da política bauruense, atuando como vereador na 28ª, 29ª e na 30º legislatura (Ilustração: Laura Poli | Foto do vereador: Câmara Municipal de Bauru)
Por Natália Santos

“Eu não realizei as obras que eu gostaria de realizar”, avalia o Pastor Luiz, sobre o seu mandato. Luiz Carlos Barbosa foi eleito com 2.610 votos, pelo Partido Republicano Brasileiro (PRB) e atua como base do governo do prefeito Clodoaldo Gazzetta (PSDB), desde o início da atual legislatura.

O pastor frisou, logo após ser eleito, que o seu trabalho durante o novo mandato seria focado em duas áreas: assistência social e emprego e renda, por meio do incentivo à entrada de novos negócios, em especial empresas estrangeiras. Durante o mandato, porém, o vereador não apresentou nenhum projeto de lei nessas áreas. O único PL apresentado por Luiz foi a declaração de utilidade pública a Associação Cultural de Tradições Afro-Brasileiras de Bauru.

Para justificar as poucas propostas durante o mandato, o vereador traça paralelos entre a função como legislador e o trabalho que exerce na igreja. Luiz afirma que suas ações junto à comunidade bauruense se dão nos projetos de assistência social da Igreja Universal do Reino de Deus, onde atua como pastor. O vereador cita as iniciativas da instituição religiosa como uma espécie de ‘compensação’ para o fato de não apresentar projetos. Para ele, o trabalho que já faz em um local (a igreja) não precisa ser repetido no outro (a Câmara), pois haveria equivalência.

Quanto à meta de tornar o município atrativo para multinacionais, o vereador afirma que sua atuação “foi mais de bastidores” e joga para o Executivo a responsabilidade pelo fracasso do projeto: “Como o prefeito não moveu muito, [o vereador] fica um pouco engessado nessa questão porque [o cargo de vereador] não tem autonomia para criar certos dispositivos”, afirma Luiz.

‘Zeladoria’

Na prática, o mandato do Pastor Luiz foi marcado por assessoramento do executivo. Até o dia 16 de outubro de 2020 o pastor sugeriu 642 indicações à Prefeitura, com pedidos de limpeza e de substituição da lâmpadas de iluminação em espaços públicos, recapeamento de asfalto, operações de tapa-buracos, dentre outros serviços. Luiz Carlos foi o terceiro vereador que mais enviou sugestões de melhorias de infraestrutura aos secretários.

O Pastor Luiz aponta o desejo de atender aos pedidos do eleitor como explicação para o fato de sua atuação parlamentar ter se restringido basicamente a essas atividades de manutenção: “[eu realizei] os pedidos da população que vieram até mim. Asfalto em alguns bairros, algumas regiões que eu consegui asfalto, asfalto… É isso aí! É o que mais as pessoas pedem! Limpeza de terreno, essas coisas corriqueiras de vereador”, destaca o pastor.

Painel com todos os dados numéricos do mandato do Pastor Luiz. Dados coletados até dia 16 de outubro de 2020. (Ilustração: Laura Poli e Natália Santos | Foto do vereador: Câmara Municipal de Bauru)
Sem tribunas e debates

Nos quatro anos atuando no Legislativo, Luiz Carlos fez uso da tribuna em apenas três ocasiões para criticar os pedidos de infraestrutura que ainda não tinham sido executados pela Prefeitura, prometer a busca por emendas parlamentares e louvar o partido que faz parte, o Republicanos.

Durante os últimos quatro anos, Pastor Luiz não convocou nenhuma audiência pública. “Eu não quis convocar, pois, nos assuntos importantes, logo os vereadores já tomavam conta da situação. Daí eu pensava: ‘Ah, tá bom! Deixa eles criarem’”, justifica. A ausência de iniciativa nesse campo parece ser uma constante na forma de atuar do vereador, uma vez que ele também não convocou audiências durante os seus três outros mandatos.

Mesmo sem se destacar na tribuna por posicionamentos ou atuação marcante nas discussões da Casa, o vereador pleiteou ao cargo de presidente da Mesa Diretora da Câmara para o biênio 2019-2020. Indicado por Ricardo Cabelo (PPS), o pastor recebeu 8 dos 17 votos.

Pastor Luiz foi presidente da Comissão de Economia, Finanças e Orçamento entre 2017 e 2018 e da Comissão de Fiscalização e Controle, a partir de 2019. O vereador também esteve presente em outras cinco comissões. Além disso, ele atuou como membro da Comissão Especial de Inquérito (CEI) da Cohab que apurou irregularidades na gestão da Companhia de Habitação Popular de Bauru.

Segundo o Portal de Transparência da Câmara, até a data desta reportagem, Pastor Luiz recebeu R$ 278 mil pelo seu cargo público.

Pílulas do Poder é o Trabalho de Conclusão de Curso (TCC) de Jornalismo de Egberto Santana e Natália Santos na Faculdade de Arquitetura, Artes e Comunicação (FAAC) da Unesp, com orientação da Profª. Drª. Suely Maciel e tem o apoio e a revisão da equipe do Jornal Dois. 

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