Bauru tem ato antirracista e antifascista contra Bolsonaro marcado para domingo (7)

Protesto segue na esteira de manifestações similares que ocorreram no último domingo (31); instabilidade política leva pessoas às ruas mesmo com alta nos números de casos de covid-19 e de mortes pela doença

Publicado em 2 de junho de 2020

Foto: Reprodução Pedro Borges / Alma Preta
Por Lucas Mendes

Um ato contra o presidente da República Jair Bolsonaro (sem partido) foi marcado em Bauru para este domingo (07). Organizado no Facebook, até o momento cerca de 2 mil pessoas confirmaram presença ou têm interesse no evento.

Com o nome “Fora Bolsonaro – Resistência antirracista e antifascista Bauru”, a descrição do evento pede também a saída de João Doria (PSDB), governador de São Paulo, e se posiciona contra machismo, homofobia, transfobia e xenofobia. 

Atos semelhantes ocorreram em São Paulo, Rio de Janeiro e Porto Alegre no último domingo (31), com pautas que passavam também pela defesa da democracia e pelo combate ao fascismo e racismo. 

O antifascismo é uma manifestação contrária às formas de opressão baseadas na ideia de que determinado tipo de pessoa seria superior às demais: brancos e negros, homens e mulheres, raça ariana e judeus, por exemplo. O antifascista combate o nazismo, neonazismo e quaisquer ideias supremacistas que caracterizam posicionamentos da extrema-direita.

Por antirracista, entende-se uma posição que combate o racismo. Manifestações têm tomado diversos lugares do mundo depois da morte de George Floyd por um policial branco nos Estados Unidos. É a maior onda de protestos antirracistas no país desde a década de 1960. Aqui no Brasil, as mortes de João Pedro, João Vitor, David Nascimento e tantas outras pessoas negras, também provocadas pelas mãos da polícia, são relembradas nos atos desde domingo passado.

A manifestação convocada pela Frente Antifascista de Bauru foi programada para começar às 14h em frente à Câmara Municipal, no centro.

Polícia reprime ato pró-democracia

Em São Paulo, na avenida Paulista, a Polícia Militar (PM) reprimiu manifestantes que protestavam pela democracia após desentendimentos com outros manifestantes que estavam no mesmo local defendendo o presidente Bolsonaro. 

Iniciado por alas antifascistas de torcidas organizadas de Corinthians, Palmeiras e Santos, o ato pró-democracia foi atacado pela PM com bombas de gás lacrimogêneo e de efeito moral. 

Entre os apoiadores do presidente havia pessoas portando símbolos de extrema-direita e de alusão ao neonazismo. É o caso de uma bandeira da Ucrânia com um tridente, que representa um partido político ucraniano ultranacionalista que surgiu a partir de uma organização paramilitar em 2013.

O coronel Álvaro Batista Camilo, secretário-executivo da Polícia Militar de São Paulo, disse ontem, em entrevista à rádio Jovem Pan, que a PM é “a favor da democracia” e do “cidadão de bem”.

No mesmo dia, em Brasília, o presidente Bolsonaro participou de um ato contra as instituições democráticas. Ele sobrevoou a manifestação num helicóptero e andou à cavalo no meio das pessoas. 

Mais tarde Bolsonaro compartilhou um vídeo em sua página no Facebook que exibia uma frase popularizada por Benito Mussolini, ditador e líder fascista que comandou a Itália de 1922 até 1943, quando foi deposto durante a Segunda Guerra Mundial. Não se sabe ao certo a autoria da frase.

Fuzilado por membros da resistência antifascista italiana em 1945, Mussolini teve seu corpo pendurado de cabeça para baixo e malhado em praça pública.

Bolsonaro, democracia e fascismo

Essas foram as primeiras manifestações de rua contra o governo Bolsonaro desde que a pandemia do novo coronavírus chegou no Brasil. Elas foram um contraponto aos protestos que vêm ocorrendo no país pedindo intervenção militar, fechamento do Congresso Nacional e do Supremo Tribunal Federal (STF) e a “edição” de um novo Ato Institucional nº 5 (AI-5) – decreto emitido pelo governo federal em 1968, durante a Ditadura Militar, que intensificou a repressão do regime.

O presidente Jair Bolsonaro tem não só permitido que esses protestos ocorram, como endossado seu conteúdo, por meio das aparições e falas que faz nessas ocasiões.

No sábado o grupo autodenominado “300 pelo Brasil” fez uma marcha com cerca de 30 pessoas em frente ao STF, em Brasília. Com tochas acesas e máscaras, o ato remeteu à marcha de supremacistas brancos ocorrida na cidade norte-americana de Charlottesville, em 2017, e às manifestações da Ku Klux Klan, movimento racista dos Estados Unidos dos séculos XIX e XX.

Uma das líderes do movimento, a ativista Sarah Winter é apoiadora de Bolsonaro e já reconheceu a existência de armas no acampamento do grupo em Brasília. Ela é alvo de inquérito aberto pelo STF para investigar distribuição de notícias falsas.

Mesmo com a pandemia, apoiadores do presidente não deixaram de sair às ruas para protestar também contra medidas de isolamento social adotadas pelo poder público no combate ao vírus. Em Bauru foram pelo menos duas carreatas de empresários reivindicando a reabertura do comércio, em março e abril.

Epicentro da pandemia 

No momento o país é epicentro mundial da pandemia, ao lado dos Estados Unidos, e enfrenta o pior momento da crise sanitária provocada pelo vírus, com mais de 500 mil casos confirmados de covid-19 –  o segundo país no mundo com mais casos – e 30.079 mortes pela doença (até a manhã da terça-feira, 2).

Em São Paulo, estado com maior número de casos da doença e de mortes no Brasil, o governo Doria resolveu flexibilizar a quarentena de combate ao coronavírus. A partir de 1º de junho cidades de diferentes regiões do estado foram autorizadas a reabrir setores da economia.

É o caso de Bauru. Comércios, escritórios, salões de beleza, academias, clubes, igrejas e pequenos bares e restaurantes já podem funcionar, com horário reduzido e restrição no número de pessoas atendidas.

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