10 artistas visuais para fortalecer na quarentena

Da marcenaria ao graffiti. Conheça artistas locais que você pode apoiar durante a pandemia e como fazer isso sem sair de casa

Publicado em 20 de abril de 2020

Por Victória Ribeiro

Bauru possui artistas das mais diferentes linguagens, códigos e ocupações. Da madeira concreta ao meio digital, tintas em tecidos e expostas em muros e corpos por toda 014. O que não falta é diversidade, criação e muita gente talentosa trabalhando e espalhando sua arte pela cidade.

 Separamos alguns desses artistas para você conhecer! Confira na matéria e não deixe de explorar o cenário cultural da cidade sem limites – ainda que de maneira virtual durante essa quarentena.

 
Caio Forte

Atuante na área da marcenaria e carpintaria há 4 anos, Caio compõe a cena artística visual da cidade. Iniciou sua carreira com a Rover Marcenaria, projeto cujo foco estava em reformas de móveis e mobiliário sob medida. Hoje atua no projeto “Chama da Terra”, onde traduz sua trajetória artística em peças únicas criadas a partir de um processo de resinificação e sustentabilidade envolvendo madeiras de descarte. 

Utilizando técnicas da marcenaria tradicional, de encaixes feitos à mão e estruturas sólidas, o trabalho de Caio aumenta exponencialmente o tempo de vida útil das madeiras descartadas. A originalidade das produções provém das suas vivências, como o contato com a natureza e com o skate.

Caio conta que além de ter conseguido criar seu próprio ambiente de trabalho, constituído 80% de madeira encontrada em caçambas e 20% de demolição, também conseguiu organizar um estoque de materiais que costuma chamar de “Ouro das Ruas”, madeiras nobres serradas em outros tempos, muitas vezes já extintas do mercado e quase que das matas também e que acabam por ganhar um novo tipo de significado a partir das suas construções. 

Quando questionado sobre o cenário atual, Caio conta que não vem sendo um período fácil para a marcenaria, que nem sempre está inclusa no quadro de necessidades.

Uma forma encontrada por ele para lidar com essa questão foi abaixar o valor das suas produções, manobra possível também pelo baixo custo dos materiais utilizados por ele.

Para conhecer o trampo do Caio e também fortalecer suas produções, dá um confere na pagina @chama_da_terra

Daiana Terra

Formada em Rádio e TV e Comunicação Social, Daiana além de fazer parte do projeto Memórias do Comércio aqui na cidade de Bauru, também realiza projetos paralelos, incluindo a escrita e também as colagens.

Sua proximidade com as colagens se iniciou na infância, quando viu nesse tipo de arte uma forma de produzir a partir da sua própria identidade.

Suas criações incluem suas vivências, e representam também um posicionamento político. A partir das colagens é possível observar e conhecer temas como o genocídio indígena, a militância negra, a reforma agrária e o sagrado feminino. “As questões que procuro trazer são pertinentes principalmente quando a gente descreve nossa sociedade como desigual, de forma que somos vistos como minorias, e minorias na verdade representam a maioria”.

Uma das obras que a Daiana destaca foi nomeada por ela como “A revolução será orgânica e não será televisionada” e fala sobre o Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra e a luta pela distribuição mais justa das terras e pela produção de alimentos de forma ecológica. A obra é também uma denúncia em relação a forma como a mídia retrata o movimento.

Atualmente, as colagens da Daiana podem ser vistas e também encomendadas pelo Instagram, na página @sub__versiva

Obra "A revolução será Orgânica"
Fabio Iamaguti

Ilustrador e tatuador há dois anos e meio, Fábio é uma das pessoas que compõem a equipe do Inkorpore Tattoo, estúdio localizado no centro da cidade. Suas ilustrações, presentes em estampas de camisetas, cartazes e em suas tatuagens têm como referência o old school, o oriental e o blackwork.

Prezando pela criação autoral como forma de apresentar tatuagens únicas e exclusivas, ele acredita que as pessoas representam um conjunto de referências, e é isso que busca incorporar no seu trabalho, a partir de elementos que possam servir como a expressão do seu ser. “Usando a base da tatuagem tradicional, adiciono elementos da cultura oriental, uma estética do blackwork e elementos visuais que me agradam que vêm do grafite, da animação, da moda, da cultura pop e de outras plataformas artísticas”.

Sendo uma profissão que depende da presença e do contato com o cliente, a situação atual tem afetado diretamente as pessoas que atuam na área. Nesse período, o Fábio vem produzindo flashes e pinturas à preços acessíveis e continua com os agendamentos para a pós quarentena. Para conhecer mais o trampo do Fábio e também para agendamentos, é só acessar a página no Instagram: @fabio.iamaguti

Gael Gramaccio

26 anos, colagista e performer, Gael começou a estudar teatro e dança em 2012 e a partir daí desenvolveu se aproximou das performances. Seu maior contato com artes plásticas provêm de trabalhos performáticos, nos quais busca inspiração em quadros, desenhos e fotografias durante seus processos criativos, onde utiliza-se do corpo como forma de dar vida às produções táteis. 

Buscando outras formas de expressão, em 2016 lançou a primeira das três edições da sua zine, chamada “Releituras”. Para ele, uma forma de dar vida à manuscritos dos seus diários pessoais e também onde experimentou de maneira mais direta a arte colagem. Foi em 2018, no entanto, que se sentiu impulsionado a criar sua primeira série de colagens, que são releituras dos arcanos maiores das cartas de tarot, e representam hoje o foco das suas produções artísticas. 

Atualmente, seu trabalho inclui experimentações de estilos diversos e canalizam pesquisas pessoas, vivências e anseios. Em 2019 deu início a sua segunda série de colagens, chamada “Sub-consciente Negro”, que estiveram expostas no centro cultural da Usp de Bauru. “São obras que permeiam a multiplicidade e a ancestralidade dentro da cultura negra, tentando encontrar pontos de ligação subconscientes, que unifique a luta preta. Não apenas a luta material e externa, mas principalmente as lutas internas, psicológicas e espirituais”. 

O colagista acredita que suas produções representam um olhar subjetivo sobre nós mesmos e sobre o mundo ao nosso redor. Sugerindo uma busca por autoconhecimento e de cura de dentro pra fora. 

Para compartilhar suas artes, Gael utiliza o Instagram como plataforma e atualmente encontra-se no processo criativo de uma performance, no qual pretende explorar um pouco de cada uma das suas áreas de atuação. Para fortalecer as obras do Gael e acompanhar seus processos criativos, é só seguir: @gaelgramm

Confira também o vídeo-arte “A Flor e a Náusea” produzido pelo Jornal Dois em parceria com Gael. O vídeo foi inspirado no poema de Carlos Drummond de Andrade, públicado no livro “A Rosa do Povo”

Obra: "Animal"
Julia Comin

Júlia Comin é designer e uma das fundadoras da Nóis Estampa. Criada em 2017, a Nóis surge da vontade em comum de Júlia e um amigo, Luiz Galassi, em criar peças com serigrafia. Em 2018 a marca toma forma oficialmente, representando um jeito de construir projetos aliando iniciativas colaborativas e sustentáveis. Um novo olhar para a criação de estampas, serigrafia e para as técnicas artesanais e manuais. 

Para Júlia, a marca constitui para além da sua função oficial, uma forma de desenvolvimento pessoal, uma espécie de resgate da conexão entre corpo físico e mental, através do contato com técnicas manuais e experimentações. Outro propósito da marca é a criação e produção autoral sustentável, onde a produção de estampas e de peças únicas cria uma relação de consumo mais consciente. 

Os produtos da Nóis são à base d’água, e as peças são desenvolvidas a partir do Upcycling, que consiste no reaproveitamento de itens antigos, como papéis que seriam considerados lixos. Dessa forma, a marca fortalece um modelo de negócio que busca a valorização dos produtores locais e produz ressignificando peças, respeitando o tempo, a qualidade e a quantidade da produção.

A produção da Nóis segue 4 linhas: a primeira é autoral e baseada no processo serigráfico, incorporando o reaproveitamento de resíduos têxteis e de papel; a segunda é o desenvolvimento de peças para terceiros, a terceira é a promoção de oficinas com foco no desenvolvimento artístico dentro da técnica (atualmente em parceria com a Quadrado Amarelo). E por último, a produção social, com foco em contribuir com pessoas em situação de vulnerabilidade principalmente em Bauru. 

Por depender de serviços não essenciais para produção e pela dependência do deslocamento, o período de pandemia vem afetando o calendário da marca. 

Uma forma de ajudar a Nóis e do esforço por acessibilidade e segurança durante a pandemia, é a partir da doação de camisetas usadas. As peças serão destinadas para produção de máscaras doadas para pessoas em situação de rua. O projeto é elaborado em em parceria com o Fatos da Rua, jornal comunitário feito com e por pessoas em situação de rua na cidade. Doações de papéis dos mais variados tipos, contribuindo com a diminuição dos resíduos sólidos, também são aceitas.

Para conhecer a marca e saber como contribuir com as doações, é só acessar a página no Instagram da Nóis: @noisestampa.

Mari Monteiro

Residente em Bauru há 8 anos e formada em artes cênicas, Mari Monteiro é, além de artista e arte-educadora, um dos principais nomes do grafite na cidade sem limites. As produções da Mari envolvem vários tipos de linguagem, como o graffiti, esculturas, telas, desenhos e artesanatos. 

O personagem principal de suas criações é o coração humano que, para ela, representa o sentimento puro e verdadeiro, e serve como uma forma de lembrar as pessoas de sua humanidade e sua sujeição aos erros e acertos. 

Seus grafites estão sempre acompanhados de frases motivacionais, sobre amor e a luta feminista. “Estou sempre em busca da desconstrução, porém busco sempre falar daquilo que considero importante, como a luta das mulheres. Hoje em dia busco sobreviver um pouco mais da minha arte, porém é muito difícil viver de arte quando se é mulher. Somos mais vistas como objeto de arte do que como artistas. Ser mulher e artista também é resistir.”

Para conhecer mais as produções da Mari e dar aquela fortalecida durante esse período de quarentena, é só seguir sua página: @marimonteiro.art

 

Mari Monteiro ao lado de seu grafitte.
Mateus Faria

Figura certa da cena musical bauruense, Mateus Faria também trabalha no meio educacional  e possui os dois pés fincados na produção visual.

Apesar de próximo das artes visuais desde a infância, Mateus conta que encarar a arte como uma profissão nunca havia sido uma opção até que, por pressão familiar, entrou na faculdade de artes, onde além de descobrir uma nova forma de enxergar o mundo artístico, conheceu o processo de gravura e de serigrafia, que são há três anos sua principal fonte de criação artística e de renda. 

Suas produções são divididas em 3 nichos: pessoal, Nutz Magazine e Quadrado Ammarelo. As produções pessoais são as suas artes próprias, que incluem quadrinhos, arte urbana, ilustrações e artes visuais num geral. Já a Nutz Magazine é uma zine que, segundo Mateus, virou uma espécie de marca, feita em colaboração com Daniel “Bidu” Camargo. Na Nutz, Mateus e Daniel produzem várias coisas, como zines, posters, vídeo-arte, stickers e roupas. A cara da marca envolve um conteúdo mais leve, mais humorístico e mais livre.

Já a Quadrado Ammarelo envolve o atelier onde Mateus produz suas criações, oficinas, trabalhos e parcerias com terceiros. Boa parte das produções são trabalhos voltados para ajudar na venda de produções de outros artistas de Bauru e região. 

Para conhecer mais o trampo do Matheus, o universo da serigrafia, da gravura e das zines, é só acessar as páginas: @mateus.faria.a, @quadradoammarelo e @nutz_magazine.

 

Natália Mota

Explorando linguagens como ilustrações, grafite, arte e educação e recentemente o design gráfico, Natália Mota é da Cidade Tiradentes, cidade periférica no extremo leste da capital paulista. Seu contato com Bauru nasce a partir da graduação de artes visuais.

Sua cidade, no entanto, é uma das maiores fontes de inspiração para sua construção pessoal e artística. A cidade representa um dos maiores conjuntos habitacionais da América Latina, além de possuir uma grande população nordestina e africana. Com pais baianos, pai artista plástico, Mota, como é conhecida, foi incentivada desde cedo a desenvolver seu lado artístico.

Suas criações envolveram inicialmente o hiper-realismo e o realismo, o lápis e a borracha, que com o passar do tempo, foram sucedidos por outros tipos de técnicas e conhecimentos, como por exemplo a arte psicodélica.

Por ser uma cidade com grande população nordestina e africana, a Cidade Tiradentes possui um grande misto de culturas, que inclui a cultura hip-hop, que tem como vertente o graffiti. E foi lá, em 2016, que Mota iniciou seu contato com a arte de rua, vista por ela como uma possibilidade de dialogar sobre suas vivências e as referências agregadas a partir da sua cidade natal e do seu bairro.

Atualmente, suas produções têm estado associadas à arte e educação, e por meio do graffiti, vem fazendo um recorte racial, trabalhando com uma educação antirracista, abordando características do povo brasileiro e africano. “Eu produzo basicamente ilustrações, graffiti e aulas para crianças e jovens, de modo que eu possa mediar junto com eles e passar pouco da minha vivência enquanto mulher negra no meio da cultura hip-hop. Quero poder fazer parte dessa reconstrução do imaginário e da lembrança histórica que é o corpo negro no mundo”.

As artes da Natália são encontradas no perfil @mota.morfose, no Instagram. Lá é possível acompanhar suas produções envolvendo o graffiti, a arte digital, e também registros envolvendo arte e educação.

Foto: Juliana Gonzalez
Nicolas do Santos

Mais conhecido como Sujera, Nicolas, que tem 19 anos, atua como artista visual produzindo artes digitais há 3 anos. Seu primeiro contato com esse tipo de arte foi pelo YouTube, assistindo vídeos de ilustradores digitais e quadrinistas e o estilo de suas produções têm referências baseadas no processo de observação das artes de rua. 

O artista coloca que “Não tive um contato muito grande com a arte eurocêntrica e a arte classista que tem nos museus, e sim algo mais cru e mais próximo de onde vivo”. É na plataforma de vídeos que se encontra também a primeira música do artista “Plástico” lançada em 28 de março deste ano

As artes produzidas por Nicolas buscam mostrar insatisfações pessoais e gerais, e incluem temas como racismo, minorias representativas, e problemas familiares. “Muitos desses problemas eu já vivi de alguma forma. Tento passar para o desenho de uma forma que transmita o que eu ou outras pessoas que passamos por uma mesma situação sentimos.”

Atualmente, as artes do Nicolas também são uma fonte de renda. É possível acompanhar suas produções e também fazer encomendas no perfil @sujera.014

 

Santiago

Apesar de formado em Arquitetura e Urbanismo, Tiago Rosa possui uma grande atuação nas artes visuais. Além de tatuador, produtor cultural e oficineiro, Tiago também produz quadros e gravuras. 

Sua principal área de atuação envolve a luta em prol da comunidade LGBTQIA+ e a Mitologia dos Orixás. “A Festa das Yabás”, série de obras que retratam mulheres como deusas da Mitologia dos Orixás, está entre seus principais trabalhos. Em 2019, inclusive, ministrou oficinas relacionadas ao assunto para mais de 300 crianças de 7 a 13 anos, em locais como Sesc Guarulhos e Rembrandt Coc Bauru. Além disso, Tiago foi também produtor do documentário “Como Somos”, que retrata a trajetória da comunidade LGBTQIA+ em Bauru e região. 

Hoje, Tiago acredita que a defesa da comunidade LGBTQIA+ por meio de diferentes manifestações artísticas e o resgate cultural ancestral com o estudo e difusão da Mitologia dos Orixás, retratam muito do que ele é e acredita enquanto artista. Quando questionado sobre o que procura transmitir com suas produções, ele responde que é a representatividade. “Na Mitologia dos Orixás, os Deuses são muito parecidos com os humanos, com sentimentos bons e ruins, com altos e baixos. Podemos ser também nossos próprios deuses e transformar nossa realidade. A arte pode ser um caminho para isso”.

Agora, durante a quarentena, Tiago disse que vem deixando a criatividade fluir, e vem produzindo algumas coisas, como vasos de concreto e luminárias. Alguns quadros e gravuras produzidos antes da pandemia também estão disponíveis para venda. Para conhecer mais o trabalho e acompanhar as produções é só seguir a página @san.tiagorosa no Instagram.

Obra: "Ewa" Série Festa das Yabás
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