Após manifestação de funcionários, Paschoalotto começa demissão em massa por telefone

Mais de 120 funcionários foram desligados até o começo da tarde desta terça-feira (24). Empresa alega “corte de gastos” devido a quarentena forçada pelo Prefeito Gazzetta para conter a expansão do novo coronavírus.

Reportagem publicada em 24 de março de 2020

Colagem: Letícia Sartori/ Jornal Dois sob Nenad Bacanovic, Sebástien Bourdon, Honoré Daumier, John Heartfield e Divulgação.
Por Lorenzo Santiago

Depois da manifestação de funcionários realizada na semana passada, a Paschoalotto começou nesta terça-feira (24) uma série de demissões justificadas como um “corte de gastos”. Alegando não ter condições financeiras de sustentar os mais de 10.500 funcionários durante a quarentena decretada pelo Governo Estadual, a empresa de call center começou as demissões em massa tanto por telefone, quanto presencialmente para quem ainda foi trabalhar no começo da semana. Segundo os funcionários, a grande maioria das pessoas desligadas estava na manifestação do último dia 20.

Os protestos ocorreram porque os funcionários não sentiam segurança com as medidas adotadas pela empresa em um momento de expansão do coronavírus em todo o Brasil. Muita gente trabalhando no mesmo espaço, poucos equipamentos de prevenção (como álcool em gel e máscaras) e a falta de mudanças na escala dos funcionários eram os principais argumentos. 4 dias depois do ato, o setor administrativo da Paschoalotto começou a ligar para uma série de trabalhadores informando que “não precisam mais dos serviços prestados”. 

Ainda na sexta, o prefeito Clodoaldo Gazzetta (PSDB) publicou um decreto que determina Situação de Emergência na cidade. Com 57 casos suspeitos e nenhum confirmado, o decreto ordenava o fechamento das empresas de call center a partir do dia 25 de março. Essa situação foi a brecha encontrada pela Paschoalotto para começar os desligamentos. 

Até o começo da tarde desta terça, mais de 120 funcionários haviam sido desligados. Grande parte estava na manifestação de sexta: “O pessoal que foi na manifestação foi mandado embora. O pessoal que não tava foi em uma quantidade muito menor. Até agora, eu só vi 2 pessoas que não estavam na manifestação serem mandados embora” disse uma funcionária que não quis se identificar, esteve na manifestação e foi desligada.

Em contato com a reportagem do Jornal Dois, a Paschoalotto informou que as demissões “não tem nenhuma correlação com a manifestação dos funcionários”. A empresa disse também que a forma que serão feitos os desligamentos ainda está em discussão:

“A gente não sabe quantos desligamentos vão acontecer porque eles ainda estão acontecendo. Até o momento a gente ainda está em discussão com todos os meios, o jurídico, a Prefeitura, analisando as Medidas Provisórias do Governo Federal para ver o que será feito nas rescisões”

Colagem: Letícia Sartori/Jornal Dois sob Henry Peter Glass, Walker Evans e Nenad Bacanovic

Em meio a pandemia do coronavírus, alguns funcionários foram convocados para trabalhar nesta terça-feira, mesmo quem mora em outras cidades. Os ônibus intermunicipais estão circulando em horários reduzidos e, segundo alguns trabalhadores que estiveram na Paschoalotto hoje (24), “o número de faltas foi muito maior”.

A empresa alega que os cortes seriam necessários dada a gravidade da situação e que ainda não foi pensada uma forma de repor os cargos quando a situação voltar ao normal. 

As demissões em massa deixam muitos funcionários sem emprego garantido em um momento de tensão. Até o final da tarde desta terça-feira (24), o Ministério da Saúde atualizou o número de casos. Já são 2.201 infectados e 46 mortes no Brasil. 

Como forma de garantir que as empresas não quebrem, o Governo Federal publicou nesta segunda-feira (23) uma Medida Provisória que permitia a suspensão do contrato de trabalho por 4 meses sem pagamento de salário. A medida foi contestada por diversos setores e revogada no começo da noite. A justificativa do ministro Paulo Guedes foi que a MP teve “erros de digitação no que diz respeito a quebra dos contratos trabalhistas”.