A farsa da cidade travada

Oligarquia, substantivo feminino: regime político em que o poder é exercido por um pequeno grupo de pessoas, pertencentes ao mesmo partido, classe ou família (Foto: Lucas Mendes/JORNAL DOIS)

Por Arthur Castro, colunista do JORNAL DOIS


O discurso, que cresce em Bauru, dizendo que é preciso “destravar a cidade” não está aqui com inocentes intenções. Uma trama envolvendo interesses políticos e econômicos está por trás dele, que tem como objetivo chantagear o Governo Gazzetta a adotar o neoliberalismo. Mas vamos do começo.

O Jornal da Cidade, panfleto da Família Franciscatto, vem sendo a linha de frente do ataque. Suas sucessivas matérias em favor de um suposto desenvolvimento municipal buscam isolar a prefeitura e obriga-la a atender suas ordens. No Entrelinhas do dia 06/02/2018, espaço onde o jornal manifesta sua opinião, afirma que os vereadores devem discutir “os projetos que mexem com o equilíbrio fiscal do município” e que “o governo municipal precisa dar respostas mais efetivas para a população, e aumenta a cobrança pelo destravamento da cidade”.

Outro veículo de mídia local, o recém lançado direitista Bauru Online, faz coro. Em postagem recente no Facebook, diz que “incapaz de atrair novas indústrias e até de manter algumas outras que estão instaladas há décadas na cidade, Bauru segue com seu desenvolvimento travado”. Ainda sobra tempo para culpar os mais pobres e necessitados, ao colocar que “ainda acolhemos milhares de pessoas em busca de moradias e que consomem nossos serviços”.

O que são as tais propostas para permitir a cidade se desenvolver, tão defendidas pela direita?

Em primeiro lugar, a aprovação das Organizações Sociais, uma forma de terceirizar funcionários públicos. Outro plano que está em andamento é a privatização do DAE e, se possível, da Emdurb. As forças da direita tentam afirmar que o poder público é ineficiente, que os funcionários são “vagabundos” e que não há dinheiro para gastar. A verdade, por outro lado, é um pouco diferente. Muitas famílias ricas de Bauru ESTÃO EM DÍVIDA com o Município, e não pagam a conta. O Estado exige muito da população que trabalha, mas faz vista grossa para os ricos. A aprovação de uma lei que obriga as indústrias a se livrarem do próprio lixo pode soar um meio de diminuir de gastos públicos, porém servem para permitir a contratação dos serviços de empresas de coleta de lixo. Aliás, recentemente o nome da Estre Ambiental vem sendo constante na cidade, com ampla propaganda durante o aniversário de Bauru. Será coincidência? Importa comentar que ela tem um histórico interessante, como pode ser visto aqui e aqui.

Talvez um dos mais agressivos de todos, contudo, seja a alteração no Plano Diretor, a serviço das imobiliárias. O resultado acabará por colocar em risco as APAs — Áreas de Preservação Ambiental — da cidade, incluindo a do Rio Batalha, responsável pela água que bebemos, cujas consequências poderiam ser catastróficas. O diretor do Jornal da Cidade é Renato Zaiden, que também é diretor do Sindicato das empresas imobiliárias.

Tudo faz parte do jogo do neoliberalismo, uma ideologia do sistema capitalista que busca destruir direitos trabalhistas e serviços públicos à serviço do grande empresariado e dos banqueiros. O resultado de seu funcionamento ao redor do mundo é que 8 pessoas tem a mesma riqueza que 50% da população, enquanto todo o ecossistema do planeta caminha para um colapso total.

A elite empresarial do Capitalismo — a Burguesia — promove seu ataque nas terras brasileiras através das Reformas do Governo Temer, como a da previdência, trabalhista e a terceirização. Não é surpresa que os burgueses bauruenses queiram agir por aqui também.

Os sindicatos, movimentos sociais diversos e a juventude não podem se calar diante desses absurdos. É preciso combater os interesses dos poderosos em todos os espaços e em todos os lugares: na batalha midiática (como faz este jornal), nos locais de trabalho (através do sindicalismo), na articulação das comunidades e das escolas/universidades. E a base deve ser a organização e a cooperação de toda a ala progressista e de esquerda.

A luta não começou hoje, e também não acabará tão cedo. Mas todo grande avanço na história da humanidade foi conquistado com muito esforço e muita combatividade, e é assim que deverá ser para deter as artimanhas da Família Franciscatto e de seus aliados do campo conservador-liberal.


As colunas são um espaço de opinião. As posições e argumentos expressas neste espaço não necessariamente refletem o ponto de vista do JORNAL DOIS.