“A educação é a última barreira de controle da pandemia”: professores protestam contra aulas presenciais

Decreto do prefeito Clodoaldo Gazzetta liberou a reabertura das escolas em Bauru para ensino médio, profissionalizante, técnico, EJA, graduação e pós-graduação

Publicado em 19 de novembro de 2020

Contra o retorno das aulas presenciais em setembro, professores se manifestaram com cruzes de papel em frente à Prefeitura Municipal (Foto: Camila Araujo/Jornal Dois)
Por Bibiana Garrido

O prefeito Clodoaldo Gazzetta autorizou o retorno das aulas presenciais em Bauru e a decisão já valeu a partir de hoje, quinta, 19. Turmas de ensino médio, médio profissionalizante, técnico, ensino de jovens e adultos, graduação e pós-graduação da rede pública e privada estão incluídas no pacote.

De caráter não obrigatório, o decreto publicado ontem no Diário Oficial do município ressalta que cada instituição de ensino deve estabelecer um plano de retomada com base no “cumprimento dos protocolos de biossegurança estabelecidos pelo Comitê Gestor de Enfrentamento ao Covid-19”. 

As escolas e familiares podem decidir se passam ou não ao regime presencial, não havendo prejuízo para quem preferir continuar com o ensino à distância, garantiu em entrevista Letícia Kirchner, secretária de Planejamento de Bauru.

Com exceção das atividades de “reforço e acolhimento” que foram liberadas no ensino infantil particular, as aulas presenciais nos demais ciclos, como o ensino fundamental, permanecem suspensas.

Professores e professoras da rede pública alertam para o que isso pode significar diante do risco de maior contágio com o coronavírus. 

“O prefeito deveria se preocupar com o avanço da pandemia e a possibilidade de uma segunda onda. A educação era a última barreira que nós tínhamos de controle da expansão da pandemia na nossa cidade, tudo mais foi aberto e flexibilizado”, aponta o Sindicato dos Professores do Ensino Oficial do Estado de São Paulo (Apeoesp), subsede Bauru, em nota ao J2.

A Apeoesp critica, ainda, a mudança na posição de Gazzetta (PSDB), que em 3 de outubro havia decretado na edição especial do Diário Oficial: “Permanecem suspensas as aulas presenciais de ensino regular nas redes pública e privada até 31/12/2020”.

“Durante a eleição o prefeito decidiu pelo não retorno, agora, após a eleição, sabendo que não tem mais condições de disputar a prefeitura, decide revogar o decreto, colocando alunos, professores e suas famílias em risco”, diz a nota do sindicato.

As duas consultas públicas realizadas sobre o tema, pela prefeitura e pela Câmara Municipal, tiveram resultados contrários às aulas presenciais. No site da prefeitura, 14.103 pessoas votaram pelo não retorno e 11.323 votaram sim. Na pesquisa da Câmara, sem números absolutos, 80,2% dos participantes votou não ao ensino presencial. 

O novo decreto estabelece limites de estudantes por sala: 

  • Ensino médio e médio profissionalizante: até 20% do número de matriculados/capacidade da sala de aula.

  • Cursos de ensino superior na área de saúde (medicina, farmácia, enfermagem, fisioterapia, odontologia, fonoaudiologia, terapia ocupacional, nutrição, psicologia, obstetrícia, gerontologia e biomedicina): até 40% do número de matriculados/capacidade da sala de aula.

  • Demais cursos de ensino superior, ensino técnico e pós graduação: até 35% do número de matriculados/capacidade da sala de aula.

Ao todo 1.400 escolas estaduais retornaram às atividades presenciais no estado de São Paulo, que começou a reabertura no mês de outubro. Uma semana depois da volta, 50 pessoas entre estudantes e servidores tiveram covid-19 – informação da Secretaria Estadual de Saúde. 

Entre as particulares, um caso na capital São Paulo ganhou repercussão: dias depois de reabrir, uma escola no bairro do Morumbi teve professores e estudantes com coronavírus

Na segunda, 16, o Estado de São Paulo anunciou aumento de 18% no número de internados por covid-19, tanto na rede pública quanto no sistema privado. Por esse motivo a reclassificação para a fase verde do Plano São Paulo foi adiada até 30 de novembro. 

Por meio de nota à reportagem, a Prefeitura de Bauru afirma que: “As decisões referentes ao enfrentamento do covid-19 são tomadas pelo Comitê Gestor de Enfrentamento ao Covid (formado por profissionais da área médica) com base na situação epidemiológica da cidade”.

E completa: “A situação é estável. Não é a mesma de outras cidades do Estado. Caso alguma mudança desse cenário aconteça, as medidas serão revistas, como já ocorreu anteriormente. A volta às aulas presenciais não é obrigatória e apenas 20% dos alunos do ensino médio poderão estar nas aulas presenciais e 35% do ensino superior, seguindo o protocolo do Plano SP”. 

Segundo o sindicato dos professores estaduais, o setor da educação em Bauru envolve em torno de 70 mil pessoas entre estudantes, funcionários e professores, que necessitarão circular pela cidade caso as aulas sejam presenciais. “Foi justamente sua não circulação que permitiu algum tipo de controle dessa pandemia”, finaliza a entidade.

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