Em 2018, aumento da tarifa de ônibus chega aos R$4,00 para pagamento em dinheiro; no cartão, a cobrança é de R$3,80 (Foto: Bibiana Garrido/JORNAL DOIS)

Por Bibiana Garrido

Mais um aumento das passagens de ônibus foi aprovado no mês passado em Bauru. Desde 2007, a prática é repetida anualmente pelo poder público junto à Empresa Municipal de Desenvolvimento Urbano e Rural de Bauru (Emdurb). Também já chegou a subir duas vezes por ano, como aconteceu em 2007, 2008 e 2013, segundo dados da empresa.

A tarifa vira e mexe é assunto de conversa no ponto de ônibus, mas algumas pessoas ainda não sabiam do aumento quando nossa equipe foi perguntar suas opiniões a respeito. Isso aconteceu nos casos de quem tem o vale-transporte e é descontado direto no salário. Também não sabiam do aumento os idosos que tem passe livre nos circulares. De resto, trabalhadores e estudantes não concordam com o reajuste pela dificuldade na hora de pagar as contas.

Dona Marinalva tem o cartão do idoso e diz que o preço está bom. Mas, quando questionada se teria condições de pagar R$4,00 pelo uso do transporte público, ela diz que não: “Se fosse pra pagar no dinheiro, nossa senhora, eu ia sofrer, hein?”.

Horários de pico na manhã tem maior origem de viagens nas zonas Leste e Oeste: mais de 50% do fluxo de ônibus sai dessas regiões em direção ao Centro e pontos de conexão (Foto: Bibiana Garrido/JORNAL DOIS)

O JORNAL DOIS tem como prioridade discutir a raiz dos problemas que afetam diretamente a população. Falamos do aumento do ônibus em 2017 e estudamos possibilidades para um transporte público coletivo mais barato e de qualidade para todos.

Listamos cinco pontos importantes para ficar de olho nessa história:

  • Em Bauru, 73,7% dos passageiros de ônibus circular vivem com até 2 salários mínimos, de acordo com pesquisa encomendada pela Emdurb em 2013. A grana curta dificulta a situação: famílias de baixa renda são as que mais pegam ônibus para ir ao trabalho ou à escola. Pela Constituição Federal, o transporte é um direito social, assim como a saúde e a educação.
  • O Plano Estratégico do transporte público em Bauru explica que as zonas Norte e Oeste são as de maior origem de viagens no pico da manhã, com quase 24% e 38% do total em direção ao centro e conexões. Da região Sul, saem 11% das viagens. Quanto à atração de viagens, o eixo das Avenidas Nações Unidas, Getúlio Vargas e Nossa Senhora de Fátima é destacado. “Há a presença de empregos domésticos e em edifícios em razão do padrão social da região”, define o plano.
  • Mais ou menos 2,5 milhões de passes de ônibus são usados por mês em Bauru. Essa é a soma do último histórico de passageiros divulgado pela Emdurb, em fevereiro de 2017. São 70% pagantes, e os demais são isentos da tarifa pelo cartão do idoso, cartão integração ou pessoas com deficiência. Isso dá uma receita mensal estimada de R$6 milhões, considerando a meia para estudantes com cartão. Segundo a Emdurb, 17% dos passageiros pagam em dinheiro.
Este é o 11° aumento consecutivo anual das passagens de ônibus; desde 2007, as taxas de desemprego subiram, a renda da população caiu e os gastos básicos continuam crescendo (Foto: Bibiana Garrido/JORNAL DOIS)
  • Duas empresas operam o transporte público coletivo por concessão pública: Cidade Sem Limites e Grande Bauru. Os contratos foram firmados em 2009 e 2014, respectivamente, e podem ser expandidos por mais dois anos. Para a CSL, o valor total de contrato estimado é de R$133,5 milhões — com base no fluxo de usuários e tarifa vigente em 2008. Para a GB, R$393,4 milhões.
  • O cálculo das tarifas de transporte público urbano no Brasil é feito com base nas Instruções Práticas e Atualizadas do Grupo de Estudos para a Integração da Política de Transporte, ou, Planilha GEIPOT, de 1996. Esse documento não foi mais revisado e tem como base as operações e o custeio dos sistemas de ônibus de vinte anos atrás.