4 prioridades do novo Plano de Mobilidade de Bauru

Finalizado depois da 2ª Conferência Municipal de Mobilidade, documento segue agora para votação na Câmara dos Vereadores

Reportagem publicada em 16 de maio de 2018

Funcionário da Emdurb pinta sinalização de ciclorrota, em 2016 (Foto: Fábio Eduardo Silva/Pedala Bauru)
Por Bibiana Garrido

Nos dias 11 e 12 de maio aconteceu a 2ª Conferência Municipal de Mobilidade de Bauru, organizada pelo Conselho Municipal de Mobilidade (CMM) em parceria com a Secretaria do Planejamento (Seplan), a Prefeitura Municipal e a Empresa Municipal de Desenvolvimento Urbano e Rural (Emdurb).

O tema desse ano foi: Mobilidade urbana para o Desenvolvimento Sustentável. A ideia do evento era complementar o Plano de Mobilidade com a participação popular nas mesas temáticas e na plenária final.

“Foi massa porque a gente teve um contato muito perto em relação ao que é a tomada de decisão de forma aberta, sabe? Que não precisa necessariamente ser algo dentro de um comitê, entre quatro paredes”, comenta Ana Bergamaschi, estudante de arquitetura. “Foi muito legal fazer parte como sociedade civil e estar lá dando propostas sobre como melhorar o plano”.

Disso saiu um Plano de Ações, que, além de ser resultado da Conferência, é de responsabilidade de um Grupo de Trabalho, composto pela Seplan, Emdurb e cidadãos, nomeado pelo Decreto Municipal nº 13.417 de 1 de Junho de 2017.

O Conselho Municipal de Mobilidade de Bauru (CMM) faz parte desse Grupo de Trabalho e está envolvido desde o ano passado na construção do Plano de Mobilidade de Bauru. Organizada e executada pelo CMM, a Conferência levantou pontos importantes sobre como os bauruenses pensam a cidade.

A íntegra do Plano de Mobilidade, alinhado às diretrizes da Política Nacional de Mobilidade Urbana (Lei Federal nº 12.587/2012), será publicada no Diário Oficial do Município amanhã, na quinta, dia 17 de maio.

“Vai ser publicado no Diário Oficial do jeitinho que aprovou lá”, afirma Ellen Fonseca, presidente do CMM e chefe de seção na Seplan. “Eu já vou marcar uma reunião na Câmara Municipal, porque agora eu só vou complementar com o levantamento de custos, de onde vai vir a verba para poder implementar cada uma das ações”.

O JORNAL DOIS teve acesso ao documento e montou um resumão das principais propostas.

Mobilidade ativa

É quando você realmente se mexe para ir de um lugar ao outro. Pode ser caminhando ou andando de bicicleta. O novo Plano de Mobilidade enfatiza que essa deve ser a prioridade para o incentivo do deslocamento pela cidade.

Caio Gobbo é engenheiro civil, faz mestrado em engenharia urbana e explica que a caminhabilidade na mobilidade ativa foi um dos pontos de discussão da conferência. “É a questão da qualidade da cidade para os pedestres, ofertar espaço público melhor para a pessoa poder circular mais tranquilamente e com qualidade”.

Para a mobilidade a pé, as ações de curto e médio prazo envolvem a regulamentação e manutenção das calçadas, melhor sinalização e definição de mais tempo no semáforo para os pedestres atravessarem a rua. A arborização, criação de mais “ruas de lazer”, aquelas fechadas aos finais de semana, e programas de caminhada e corridas de rua também são mencionados.

JORNAL DOIS participou das discussões sobre o Plano Cicloviário em 2017; ao centro, Ellen Fonseca, do CMM e Seplan; ao fundo, Paulo Henrique de Souza, arquiteto membro do CMM (Foto: Fábio Eduardo Silva/Pedala Bauru)

Quem anda de bike ficou contemplado no planejamento de expansão do traçado cicloviário na cidade. É o que já vinha sendo discutido desde agosto de 2017, quando aconteceu a primeira audiência pública sobre o Plano de Mobilidade na nova gestão. Depois, foram realizadas audiências setoriais nos bairros.

A proposta é construir aproximadamente 50km de ciclovias para interligar as zonas da cidade com o centro — as que existem hoje não conectam nenhuma parte à outra. São hoje quatro ciclovias nos trechos: Geisel — Unesp, Octávio Rasi — Distrito Industrial I, Av. Jorge Zaiden (Água Comprida) e na Nações Norte. Também está no Plano a expansão das ciclofaixas e ciclorrotas.

O levantamento sobre a atividade e o número de pessoas que utilizam a bicicleta como meio de transporte faz parte de um monitoramento que é previsto da mesma forma com relação aos pedestres.

Traçado prioritário para ciclomobilidade em Bauru; em roxo, as ciclovias existentes, em vermelho, as que estão planejadas; os sombreados em verde representam áreas de fundo de vale que serão revitalizadas no entorno das ciclovias (Fonte: Seplan)

Transporte urbano coletivo

Se os transportes ativos estão como prioridade geral no Plano de Mobilidade, na comparação entre carros, motos e ônibus, o transporte público é colocado como prioridade.

“As pessoas ainda são muito fechadas em relação a não dar prioridade pro carro dentro da dinâmica da cidade”, diz Ana Bergamaschi, estudante de arquitetura. “Então as propostas que estavam relacionadas a essa questão das ciclovias, da prioridade pros modais não motorizados, eu senti um pouco mais de resistência”.

Consta no documento que é necessário um estudo para criar modelos mais sustentáveis para os ônibus circulares em Bauru: “Sem a ampliação da participação dos modos coletivos nos deslocamentos cotidianos não será possível equacionar os principais problemas existentes de mobilidade”.

Estão previstas melhorias no atendimento às pessoas idosas e portadoras de deficiências, além da remodelagem no sistema de paradas — foi debatido o excesso de pontos de embarque/desembarque — e implantação de corredores de ônibus nos horários de pico.

A renovação e modernização da frota são colocadas como metas a longo prazo: piso rebaixado, wi-fi e ar condicionado devem constar nos ônibus futuramente. O planejamento abarca “diversas maneiras de tornar o transporte público mais eficiente” pela tecnologia e integração dos transportes urbanos.

Vale lembrar que a tarifa de ônibus custa hoje R$3,80, o mesmo preço da capital. Taxa que ainda não se refletiu em melhorias no serviço. Entre janeiro e fevereiro de 2018, foram formalizadas 131 reclamações sobre o transporte público coletivo à Emdurb. 43,5% das ocorrências é referente ao descumprimento de horários e paradas.

Sistema viário

O investimento nas ruas e avenidas está calcado neste argumento que abre a seção sobre a infraestrutura na página 11 do Plano de Ações:

“Considerando que os investimentos para os modais ativos são muito mais baixos que para os motorizados; considerando ainda que é do conhecimento de todos que estruturas viárias não solucionarão o problema de excesso de carros e tráfego; e principalmente, que o Plano objetiva o equilíbrio na disponibilização de equipamentos e infraestrutura para os diversos modais, as propostas não estão pautadas em grandes transformações urbanas”.
O Instituto Polis fez uma cartilha sobre mobilidade urbana, junto com o Ministério das Cidades e a Secretaria de Transportes; você pode acessá-la no link (Fonte: Instituto Polis)

Entre as medidas, estão: pavimentação das vias, moderação da velocidade do tráfego e urbanização de vias de acesso — exemplo falta de travessias entre Parque São Geraldo e Jardim Bela Vista e difícil circulação de pedestres e ciclistas no trevo da Rodovia Marechal Rondon que dá acesso ao Mary Dota. A manutenção e sinalização de estradas rurais são propostas de curto e médio prazo.

De acordo com o Plano de Ações, a configuração do sistema viário de Bauru é desarticulada e descontinuada. Por isso, as ações deste Plano pretendem integrar a relação entre circulação e uso do solo, “uma vez que muito já foi feito para os modos motorizados, e quase nada para os modais ativos”

Educação para o trânsito e meio ambiente

“Muita gente que tava participando lá [na conferência] não sabia do que tava tratando, do que é a mobilidade urbana”, avalia Caio Gobbo. “Tava com a noção que mobilidade é abrir via, é fazer asfalto. E não é. Mobilidade é agregar todos os meios de locomoção na cidade. A educação não precisa ser somente das crianças”, pensa o engenheiro civil.

“Como defensora do não uso do carro como principal meio de locomoção, eu acho que é isso, é investir em travessias mais seguras pros pedestres em avenidas de maior fluxo de carro”, pontua Ana Bergamaschi. “É muito perigoso pro pedestre atravessar e existir nessas vias, pro ciclista também é muito arriscado. Eu acho que teria que ter uma maior segurança pro pedestre. As calçadas também são muito difíceis, não são nada acessíveis”.

As ações educativas incluem a conscientização sobre a segurança no trânsito, para pedestres, ciclistas e motoristas, e da importância do plantio de árvores na cidade.

No primeiro caso, “cabe aos gestores públicos fomentar políticas que possibilitem ações educativas, assim como estabelecer parcerias entre as secretarias, diretorias ou departamentos de educação”, define o Plano. Apontando nessa direção, o Detran-PR disponibiliza apostilas e jogos sobre o tema para crianças do 1° ao 5° ano. O Detran-SP também tem em seu site materiais sobre direção defensiva.

Para as áreas verdes, há previsão de um Plano Diretor de Arborização Urbana. Em curto e médio prazo está a revitalização de praças e espaços de convivência.